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Julia Dietrich
Habilidades não-mensuráveis como talento, iniciativa
e motivação explicam 88% das diferenças
salariais entre profissionais com cargos e funções
semelhantes, 83% das disparidades entre pagamentos de pessoas
no mesmo contexto setorial e 70% das distinções
entre os valores pagos em cada região do país.
Essas são algumas das conclusões da tese de
doutorado do professor da Universidade Federal de Juiz de
Fora, Ricardo Freguglia, que realizou seu estudo na Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Com base em uma amostra de 500 mil
trabalhadores registrados de 1995 a 2002 no Ministério
do Trabalho e Emprego (MTE), Freguglia avaliou por meio de
cálculos estatísticos as diferenças salariais
entre pessoas idênticas (para as ciências exatas,
pessoas com as mesmas características). Com a organização
dos dados, o pesquisador identificou, por exemplo, que São
Paulo e o Distrito Federal são os estados que mais
valorizam as habilidades não-mensuráveis, enquanto
que os contratantes das regiões Norte e Nordeste dão
menor ênfase à questão.
“Com a pesquisa observamos que
não são somente as questões de gênero,
escolaridade e idade que pesam na hora da contratação”,
explica o autor do estudo que também avaliou que a
questão das habilidades individuais influencia na contratação
de trabalhadores migrantes.
“As habilidades individuais
entram como ponto importante no que diz respeito aos ganhos
salariais do migrante, porém, em São Paulo,
por exemplo, os diferenciais passam a ser 6,12% negativos.
Isto pode ocorrer porque o custo de vida no estado é
muito alto e gera perdas para o trabalhador”, explica.
Freguglia avaliou também que
o estado com maior perda salarial na migração
foi o Piauí (-17%). “E isso aconteceu mesmo com
as avaliações das habilidades individuais”,
reitera. Para ele, questões como esta dão margem
para futuros estudos. “Nós queremos agora avaliar
o ponto de vista do contratante e qual o peso das características
específicas de cada empresa na contratação”,
indica.
Sobre a amostra utilizada na pesquisa,
Freuglia explica que os 500 mil indivíduos analisados
representam apenas 1% do banco de dados da Relação
Anual de Informações Sociais (Rais) do MTE.
“Mas como esse instrumento é gigantesco, embora
1% pareça pouco, é uma amostra significativa
para o cálculo estatístico”, explica.
Para o autor, a influência
de gênero, idade e escolaridade no ganho salarial já
são explicadas pela academia. Por isso, seu estudo
não veio para excluir o peso dessas características
do cenário de trabalho. “Porém, sempre
entendi que havia algo a mais que justificasse a contratação
de determinado indivíduo em oposição
a outro”, indica Freguglia que se preocupou em comparar
pessoas semelhantes, justamente para excluir as variáveis
tradicionais.
As informações
são do Portal Aprendiz
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