|
O
rio Pinheiros vai ressuscitar. A melhora será paulatina,
mas, no fim de 2009, já se notará uma boa diferença
O rio Pinheiros vai ressuscitar. Voltará a ser local
de esportes e lazer -terá uma ciclovia ao lado e, com
a reurbanização de suas margens, que receberam
400 mil mudas de espécies vegetais, o rio, despoluído,
será reincorporado de maneira agradável à
paisagem da cidade, recuperando seu papel histórico.
A melhora será paulatina, mas, no fim de 2009, já
se notará uma boa diferença. Vai demorar de
dez a 12 anos para o Pinheiros ficar limpo -dependerá
também de sua capacidade de recuperação.
Despoluir é tarefa de gerações que não
pode ser interrompida. E exige a colaboração
de todos. Não é apenas esgoto que polui um curso
d'água. Todo lixo atirado na rua e não recolhido
acaba chegando aos córregos e rios.
Os ingleses levaram um século e meio para sanear o
Tâmisa e não jogam lixo na rua nem no rio. As
primeiras obras de captação de esgoto datam
de meados do século 19, e as de tratamento, do início
dos anos 1950 -só duas décadas depois o Tâmisa
estava despoluído. E o trabalho não pára.
Além disso, o rio que atravessa Londres tem vazão
cinco vezes maior do que o Pinheiros (de apenas 10 m3/s, média
anual de longo prazo), quase formado por "lagoas",
o que torna sua despoluição mais complexa, lenta
e onerosa. Num corpo d'água corrente, a natureza oxigena
o rio, degradando a matéria orgânica.
Quase 3 milhões de pessoas moram em torno da bacia
do Pinheiros, onde se concentram dezenas de indústrias,
gerando 10,9 mil litros de esgoto por segundo.
O governo do Estado de São Paulo enfrenta o desafio
de despoluir o Tietê e o Pinheiros para garantir a disponibilidade
de água ao abastecimento da população
da região metropolitana da capital, resgatar o uso
múltiplo de suas águas e recuperar e melhorar
a qualidade ambiental e urbana.
Recuperado, o Pinheiros contribuirá também para
a geração de energia, tornando o projeto de
despoluição auto-sustentável.
A ciclovia, de 14,5 km, na margem oposta à da linha
de trem, ligará a usina de Traição ao
autódromo de Interlagos. As obras devem começar
ainda neste ano.
Para a despoluição da bacia, foi implantado
o Sistema de Interceptação Pinheiros, composto
por coletores, estações elevatórias e
interceptores de esgotos, além do teste de flotação
da água. Em breve, a triste cena que se vê hoje
-tubulações despejando esgoto no rio- vai acabar.
Todo o esgoto será coletado e bombeado da nova estação
elevatória Pomar para tratamento na ETE de Barueri,
distante cerca de 20 km. Depois de tratado, será lançado
no rio Tietê.
O governo de São Paulo já investiu R$ 470 milhões
na despoluição da bacia do Pinheiros, com apoio
do BID e do BNDES. As dezenas de indústrias que jogam
esgoto no rio terão de usar a rede coletora às
suas margens.
O governo do Estado, por meio da Empresa Metropolitana de
Águas e Energia, está fazendo o teste no sistema
de flotação das águas do rio Pinheiros
para comprovar a eficiência do método na remoção
da poluição difusa da região metropolitana.
Conforme acordo firmado com o Ministério Público,
o teste do sistema de flotação envolve o tratamento
das águas dos últimos 5 km do Pinheiros, pelo
bombeamento de 10 m3/s para o reservatório Billings,
fornecendo subsídios para a elaboração
do relatório de impacto ambiental que será submetido
ao Conselho Estadual do Meio Ambiente, que autorizará
a implantação do projeto final, com a despoluição
dos 25 km do rio.
A partir de 2010, a água do Pinheiros poderá
ser bombeada para Billings, numa vazão de até
50 m3/s, captando 40 m3/s do Tietê. Essa vazão
deixará de ser exportada para os municípios
da bacia do Médio Tietê.
A melhoria da água do Pinheiros garantirá a
retomada do bombeamento na estação elevatória
de Pedreira, essencial à prioritária utilização
de Billings para abastecimento urbano e para os demais usos
da represa: controle de cheias, lazer e recreação,
preservação e desenvolvimento de ecossistemas
e geração de energia na usina de Henry Borden,
em Cubatão, hoje subaproveitada.
Para a despoluição de rios e córregos
paulistanos, o governo estadual executa o programa Córrego
Limpo, em parceria com a prefeitura de São Paulo. Criado
em 2007, o programa visa despoluir, em dez anos, os 300 córregos
da capital. É essencial a colaboração
de toda a população. Cidade limpa, cursos d'água
limpos, expressão de seu povo.
DILMA SELI PENA, mestre em administração
pública pela Fundação Getulio Vargas,
é secretária de Saneamento e Energia do Estado
de São Paulo e presidente do Fórum Nacional
dos Secretários Estaduais de Saneamento. Foi diretora
da ANA (Agência Nacional de Águas).
Folha de S.Paulo
|