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Silva,
36 anos, soube que ia dar aula para a 4ª série
D, na Escola Estadual Graccho Cardoso, pensou: "Por que
foram me dar logo essa turma?". Eram 28 alunos repetentes,
e o D da turma também poderia servir como abreviação
para "desacreditados". "Nem eles acreditavam
mais neles mesmos", afirma a professora da cidade de
Própria, Sergipe, na região do Baixo São
Francisco. Mas ela decidiu encarar a classe como um desafio
e começou a trabalhar.
Para conhecer melhor os "meninos",
conseguiu fazer com que os pais participassem das reuniões
com os mestres; pediu que eles passassem a valorizar o que
os filhos tinham de melhor; criou horta para as crianças
cultivarem na escola e ainda oficinas de arte; ensinou que
uma carteira e a própria escola são bens públicos;
solicitou à merendeira que melhorasse a comida, que
o porteiro recebesse melhor os alunos quando eles chegavam.
"Cada um que trabalha na escola é um educador.
É preciso ter o melhor ambiente possível, porque
todos passam a manhã inteira na escola", diz Edsalba.
Em dois meses, houve redução
nas faltas de 50%. Menos cadeiras foram quebradas, as pichações
diminuíram, a merenda melhorou e a recepção
dos alunos também. Os resultados apareceram no fim
do ano: dos 28 alunos, 23 foram aprovados. Para ficarem em
pé de igualdade com os demais estudantes - 380 crianças
do ensino fundamental - tiveram mais um ano de reforço,
em 2002. Nesse ano, todos se envolveram com estudos sobre
o Velho Chico, um mergulho no conhecimento, na história,
na cultura, na arte do povo ribeirinho.
Com essas iniciativas, Edsalba recebeu
o Prêmio Professores do Brasil, organizado anualmente
pela Fundação Bunge, Fundação
Orsa e Ministério da Educação e Cultura
(MEC) em 2001 e 2002. Hoje, além de dar aulas, ela
participa do ReciCriar, criado em 2003 e coordenado pela Fundação
Bunge, programa de formação de educadores da
rede pública de ensino por meio de palestras e oficinas
gratuitas.
"No começo, convidávamos
especialistas e pessoas das universidades para o programa.
Mas percebemos que era mais interessante quando os seminários
e as oficinas eram feitos por professores com experiências
práticas. Assim, houve um desdobramento do Prêmio
Professores do Brasil para o ReciCriar", afirma Cláudia
Calais, coordenadora de projetos da Fundação
Bunge. Segundo ela, os seminários giram em torno de
cinco pilares: valorização da auto-estima do
professor, registro dos processos pedagógicos; estímulo
a papel fundamental do professor; vínculo do professor
com o aluno pela afetividade e novos caminhos para a educação.
Desde sua criação, o
programa capacitou 12 mil educadores, de 47 cidades, envolvendo
1.004 escolas em oito Estados. Os investimentos da Fundação
Bunge são R$ 6 milhões por ano. "Hoje,
o grande desafio da educação é a qualidade,
porque 97% das crianças brasileiras estão matriculadas
nas escolas", diz Cláudia.
Como a instituição,
outras fundações investem pesado na capacitação
de professores da rede pública para melhorar a qualidade
do ensino e combater a evasão escolar. Com recursos
de R$ 15 milhões, a Olimpíada de Língua
Portuguesa Escrevendo o Futuro, que se realiza este ano, vai
envolver 6 milhões de estudantes, 73.118 escolas, 200
mil professores em 4.450 cidades. A iniciativa é da
Fundação Itaú Social e do MEC. O objetivo
é capacitar professores e alunos para aprimorar a leitura
e a escrita, instrumentos fundamentais para a cidadania e
inserção no mercado de trabalho.
"Estamos muito orgulhosos porque
o Escrevendo o Futuro virou política pública",
afirma Ana Beatriz Patrício, diretora da Fundação
Itaú, referindo-se ao programa criado em 2002, em parceria
com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
(Undime) e o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,
Cultura e Ação Comunitária (Cenpec),
que em três edições bienais envolveu 3,5
milhões de alunos inscritos. Este ano, o Lugar Onde
Vivo é o tema central, dividido em três gêneros:
poesia, memória e artigo de opinião. Inicialmente,
serão selecionados 134 mil textos e na segunda fase
25 mil. Depois serão definidos 500 semifinalistas,
dos quais 150 vão concorrer na etapa final. Desses,
sairão os 15 vencedores.
Com investimentos superiores a R$
11 milhões, desde 2002, no programa EducaRede, a Fundação
Telefônica tem como foco a qualificação
no ensino público de aplicação de tecnologias
na escola. Em parceria com a Secretaria Municipal de São
Paulo, entre 2006 e 2007, formou-se um grupo de professores
orientadores de informática educativa, que, junto com
a equipe da secretaria, produziu um guia prático sobre
uso da internet, divulgado para toda a rede municipal.
"A internet abre múltiplos
caminhos, mas se as pessoas não forem orientadas a
tendência é ficarem perdidas. Se procurar na
internet, por exemplo, o conceito de cidadania, vão
aparecer uns 430 mil resultados. No Educarede, existem 11
ou 12 resultados, o que permite ao professor trabalhar o tema",
afirma Sérgio Mindlin, diretor-presidente da Fundação
Telefônica. Em 2007, em 100 escolas municipais houve
capacitação para os professores. Este ano, serão
500 escolas.
Tendo como parceira a Organização
das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (Unesco), a Fundação
Gerdau investe no Fundo do Milênio para a Educação
Infantil. Iniciado em 2005, já receberam um ano de
formação complementar 5.820 educadores no Rio
Grande do Sul e Santa Catarina. "Nos próximos
cinco anos, vamos multiplicar o programa no Brasil e na América
Latina, onde existem unidades do grupo", afirma José
Paulo Soares Martins, diretor do Instituto Gerdau.
Voltado para o ensino fundamental,
o instituto iniciou em 2007 um projeto-piloto com 200 educadores,
em Santa Cruz, no Rio de Janeiro. É o Multicurso, voltado
para internet e vídeos, que este ano se estenderá
para outros 1.300 professores de São Paulo e Minas
Gerais. Há ainda o Além da Letras, rede na internet
para práticas de desenvolvimento envolvendo as secretarias
de educação municipais. De 2.630 educadores
em 2005, a adesão saltou para 21.078 atualmente.
A capacitação
de gestão em escolas é outro programa importante.
Segundo Martins, os diretores aprendem como gerir de forma
eficiente desde a parte administrativa até a pedagógica.
Participam desse programa 499 diretores. O Instituto Gerdau
vai investir este ano R$ 13 milhões em projetos educacionais.
Maria Cândida Vieira
Valor Econômico
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