Carolina
Lopes
“A aberrante doutrinação do ódio
e a exclusão do outro ameaçam a sobrevivência
da própria humanidade”. É com esse pensamento
que Anita Novinsky, professora da Universidade de São
Paulo, fundou em 2002 o Laboratório de Estudos sobre
a Intolerância/USP (LEI). Materiais sobre o tema foram
coletados, pesquisas realizadas, estudos concluídos.
A necessidade de um espaço que reunisse todo esse conhecimento
e se colocasse disponível à população
tornou-se iminente. Com o estímulo da professora e
apoio de outros pesquisadores surgiu a idéia do Museu
da Tolerância.
A reitoria da Universidade aceitou recentemente a proposta.
Cedeu para a construção do Museu um espaço
de 5.800 metros na Praça dos Museus, no coração
da USP. O projeto arquitetônico será fruto de
um concurso público organizado pelo Instituto de Arquitetos
do Brasil – Departamento São Paulo. O custo da
obra é estimado em 7 milhões e seus organizadores
esperam conseguir o recurso através de iniciativas
privadas e de institutos que tenham trabalhos semelhantes.
O Museu da Tolerância não é novidade no
mundo, mas é a primeira edição no Brasil.
Está vinculado ao mesmo museu de Los Angeles, Nova
York, Jerusalém, Atlanta, Washington e outras regiões.
O acervo do museu reunirá depoimentos, filmes, vídeos,
fotografias, documentos históricos, poesias, canções,
dentre outros registros. Terá também espaços
destinados a imigrantes que se instalaram no Brasil difundirem
suas culturas. Parte do acervo é fruto da doação
de arquivo pessoal das professoras Anita (10 mil microfilme,
alguns com conteúdo inédito no Brasil) e Maria
Luiza Tucci Carneiro, pesquisadoras do LEI. A proposta é
que o espaço seja um museu-escola. Sessões interativas
serão instaladas com recursos de hipermídia
para desenvolver as possibilidades de articulação
com campos históricos, antropológicos, sociológicos,
geográficos e artísticos.
Além da inovação temática, o
museu pretende trazer novidades também na forma de
se comunicar com o público. Criar situações
para que o visitante se sinta no lugar de um refugiado, de
um imigrante, de uma vítima do preconceito, é
a proposta inicial da professora Maria Luiza, uma das diretoras
do LEI. “Penso em colocar um longo e escuro corredor,
ou um calçamento com pedregulho, para que a pessoa
sinta a dificuldade de caminhar em situações
como esta, ou até uma parede de tijolos que impedem
a passagem”, conta a professora e pesquisadora, especialista
em anti-semitismo, imigração, holocausto e racismo.
Outra simulação pensada pela professora é
a de serem abertas portas que levam a países que refugiados
já buscaram abrigo. “Na entrada da porta dos
países ficariam os impedimentos que os refugiados encontravam.
Tudo baseado em documentação histórica.
No Brasil, por exemplo, judeus só entrariam após
pagar um visto capitalista. Na porta da Austrália não
eram aceitas pessoas da terceira idade. Nos EUA havia cotas
por nacionalidade. É interessante porque as pessoas
sentem na pele a distinção”, reflete.
Aos visitantes serão oferecidos meios para realizar
pequenos ensaios, debater assuntos e trocar experiências
em busca de soluções para as questões
sugeridas nas práticas interativas. Uma das formas
encontradas pelos idealizadores do museu é de através
de oficinas serem abertos cadernos para que sobreviventes
dos campos de concentração, de genocídios,
da bomba de Hiroshima, de imigrantes de diversas nacionalidades,
por exemplo, ou mesmo pessoas que tenham lembranças
de fatos históricos como esses, escrevam suas memórias.
Além destas sessões, que serão permanentes,
estão previstas mostras temporárias sobre as
diferentes formas de intolerância e de tolerância,
cujo os temas abordados serão: trabalho infantil, violência
contra mulheres e moradores de rua, intolerância religiosa,
entre outras temáticas.
Laboratório de Estudos sobre a Intolerância/USP
Nos anos 1970 Anita Novinsky foi pioneira ao introduzir os
estudos inquisitoriais com o objetivo de mudar a visão
de mundo dos jovens universitários. A partir de 1990
foram introduzidos cursos específicos sobre racismo
e anti-semitismo junto ao Departamento de História
e aos programas de pós-graduação em História
Social; e Programa de Língua Hebraica, Literatura e
Cultura Judaicas, ambos da FFLCH. Teses inéditas produziram
conhecimentos sobre as práticas racistas na Europa
e no Brasil contemporâneos, o locausto, as íticas
imigratórias e a produção de impressos
racistas no Brasil.
Em junho de 2002, foi realizada a I Jornada Interdisciplinar
sobre Holocausto, dedicado a orientar professores de I e II
graus, e universitários. Em 25 de novembro de 2002
foi inaugurado na USP o LEI - Laboratório de Estudos
sobre a Intolerância presidido por Anita Novinsky, projeto
pioneiro de incentivo a pesquisa sobre a intolerância.
Resultado de anos de material coletado e estudado pelos pesquisadores
do LEI, um conjunto de publicações acadêmicas
e paradidáticas está sendo idealizado pelos
pesquisadores do Laboratório e tornadas públicas
através de uma coleções, cujo os títulos
são: Histórias da Intolerância, Fontes
para a História da Intolerância, Ensaios sobre
a Intolerância, Testemunhos, Inventários DEOPS/SP,
Imigrantes no Brasil (paradidáticos).
USP lança concurso para escolher projeto para
sede de Museu
A Universidade de São Paulo (USP) lançará
um concurso público nacional para escolher o projeto
de arquitetura para a sede do Museu da Tolerância. O
concurso está sendo organizado em conjunto com o Instituto
de Arquitetos do Brasil – Departamento São Paulo.
Este será o primeiro Museu do gênero no Brasil
e é uma iniciativa do Laboratório de Estudos
sobre a Intolerância (LEI) da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da USP. O objetivo é
o de dar conhecimento à sociedade dos resultados das
pesquisas desenvolvidas no âmbito do Laboratório
e de centros de pesquisa congêneres nacionais e internacionais.
O Museu da Tolerância será instalado em um terreno
localizado na avenida Professor Lineu Prestes, na Cidade Universitária.
Prevê-se que a área construída total para
o Museu seja de 5.800 metros quadrados e o custo da obra está
estimado em R$ 7 milhões.
As inscrições para o concurso estarão
abertas no período de 29 de agosto a 17 de outubro
e o resultado do julgamento dos trabalhos será divulgado
no dia 22 de novembro. Serão premiados os três
melhores projetos, cujos autores receberão, respectivamente,
R$ 30 mil, R$ 20 mil e R$ 10 mil, para o 1º, 2º
e 3º lugares.
reitor da USP, Adolpho José Melfi; da presidente do
LEI e uma das idealizadoras do Museu, Anita Novinsky
Adriana Cruz - Assessoria de
Imprensa da USP
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