Erika
Vieira
“Precisamos de uma formação em que o
profissional de arquitetura ou engenharia, por exemplo, além
de ser um bom profissional também consiga apreciar
teatro”, declara o reitor da UFBA (Universidade Federal
da Bahia), Naomar Monteiro de Almeida Filho. Em busca dessa
formação a universidade será a pioneira
no Brasil em reformular a estrutura dos cursos de graduação
e o processo de vestibular.
A proposta é de implantar o Bacharelado Interdisciplinar,
dando a todos os alunos uma base de três anos voltada
para formação geral de cultura universitária,
isto é, ensino de estudos clássicos (latim e
literatura grega), antropologia, língua portuguesa,
língua estrangeira, filosofia, lógica, estética,
política, cidadania e outros. Após essa etapa,
o estudante escolhe uma profissão e ingressa nas disciplinas
específicas.
Com isso, aumenta também a duração.
Além dos três anos de bacharel, estende-se em
um ou dois anos a mais para os cursos de licenciatura, como
letras, pedagogia, história, etc; em três a quatro
anos para os de média duração, como enfermagem,
farmácia, administração, etc; e de quatro
a cinco anos os de longa duração, como medicina,
engenharia, direito, etc. Porém, o período que
o aluno permanecerá na universidade também depende
da eficiência do estudante em conseguir cursar um maior
número de disciplinas em menos tempo. “No Brasil
temos a formação universitária muito
curta. Em outros países um médico não
se forma em apenas seis anos”, justifica o reitor.
A nova medida diminuirá a evasão de estudantes
no ensino público. Atualmente 1/3 da desistência
nas federais acontecem porque o jovem desiste da profissão
em que ingressou. O universitário terá mais
autonomia e flexibilidade para montar sua grade curricular,
assim ocorre menos desinteresse pelas disciplinas.
O Bacharelado Interdisciplinar se baseia no projeto original
da UNB (Universidade de Brasília) elaborado, na década
de 30, por Anísio Teixeira e tendo como corpo docente:
Candido Portinari, Oscar Niemayer, Mário de Andrade,
Gilberto Freire, Sergio Buarque de Holanda, Vila Lobos, entre
outros. O projeto original foi interrompido, na época
da Ditadura Militar, porque o governo iniciou um movimento
para fechar, alegando que se tratava de um modelo socialista.
Na década de 60 Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro
retomaram o projeto, mas com o golpe de 64, ele (Anísio
Teixeira) reitor na época, foi exilado. Assim, a proposta
de integração foi limada da história
brasileira.
Também terá alteração no sistema
do vestibular. “O vestibular hoje é inútil
para selecionar a capacidade do aluno, só seleciona
quem tem memorização. Não seleciona o
perfil necessário para cultura universitária,
nesse ponto o ENEM se adequa melhor”, explica Naomar
Monteiro. A UFBA adotará a nota do ENEM para selecionar
os candidatos.
Segundo o próprio reitor, o MEC apóia as mudanças
e o presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes)
simpatiza com a proposta. Em novembro a UFBA organizará
um seminário para debater o assunto com todas federais
do Brasil. A UNB e a Federal do Rio Grande do Sul já
demonstram interesse em adotar o modelo. Caso o projeto esteja
concluído até março do próximo
ano, o novo sistema passa a ser implantado em 2008.
Não escolher a profissão em apenas um dia (o
do vestibular) é prática há muito tempo
nos Estados Unidos e na União Européia. “Se
antes de 2010 (data em que a União Européia
pretende consolidar a Declaração de Bolonha
- documento elaborado em 1999 pelos ministros da educação
da Europa definindo a construção do ensino superior
da área européia) o Brasil não reformular
sua estrutura ficaremos muito atrasados”, analisa Naomar
Monteiro. No Brasil acontece semelhante na Universidade Federal
do ABC, restringindo-se a uma maneira monotemática.
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