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Um novo bairro vai começar a ser criado em São
Paulo, em uma área de cerca de 878 mil m2, entre a
Barra Funda e a Água Branca (zona oeste). Ocupada por
galpões de depósito, campos de futebol e lotes
irregulares, a área ganhará, em julho, um projeto
urbanístico, escolhido em um concurso chamado Bairro
Novo, promovido pela prefeitura e pelo Instituto de Arquitetos
do Brasil (IAB).
Esta será a primeira vez que
a prefeitura toma a iniciativa de planejar um bairro -todos
os demais bairros planejados da cidade se originaram de loteamentos
privados, como a City Lapa e o Alto de Pinheiros, criados
pela Cia. City no início do século 20.
E a área delimitada para o bairro é também
uma das últimas ainda subutilizadas que restaram na
região entre os rios Pinheiros e Tietê, onde
a alta densidade demográfica, a falta de terrenos livres
e a infra-estrutura elevaram o preço dos imóveis
e expulsaram a população de baixa renda.
De acordo com o secretário de Planejamento, Jorge Wilheim,
a proposta da criação do bairro surgiu a partir
de um estudo da Operação Água Branca,
que foi criada em 1995 pelo então prefeito Paulo Maluf
e obteve resultados mínimos. A sugestão foi
feita aos proprietários dos terrenos -a administração
municipal, o governo federal, a Telefônica e alguns
particulares- que adotaram a idéia.
Eles assinaram um protocolo de interesses para formar uma
sociedade, na qual a representação de cada um
fica vinculada ao tamanho do terreno que possuem. O projeto
vencedor vai virar uma lei, uma revisão da Operação
Urbana, e a sociedade negociará com os empreendedores.
Paulo Sophia, presidente do IAB/SP, explica que o concurso
coloca como referência para os arquitetos uma série
de questionamentos. Como deve ser o bairro ideal para se viver
em São Paulo hoje em dia? Que tipo de circulação
será privilegiada? Qual o desenho urbano e as características
de seus espaços públicos?
Além da reflexão teórica,
o concurso dá diretrizes mais concretas para os candidatos,
como a mistura de usos, de tipos de habitação
e espaços públicos, além da necessidade
de manter uma parte da área permeável, devido
à característica geográfica do local,
antiga várzea do rio Tietê.
"Eu não quero fazer uma nova Faria Lima. Que o
prolongamento da avenida foi um sucesso de lançamento
de imóveis, é indiscutível. Agora, que
seja um bom lugar para morar, é discutível.
O Bairro Novo vai ser bom para morar, e nós temos a
convicção de que dá para ganhar dinheiro
e fazer uma coisa boa para se morar", afirmou Wilheim.
Segundo ele, os projetos serão julgados pelo critério
do bem-viver, como moradia, trabalho, lazer e pontos de encontro.
O tamanho da área subocupada, a boa localização,
a variedade de transporte -com estação de metrô,
trem metropolitano e grandes avenidas- e a possibilidade de
introduzir nova vida urbana no antigo território industrial
fazem com que especialistas chamem a atenção
para a oportunidade única de planejar uma ocupação
mais racional e harmoniosa do espaço.
"Essa área é realmente uma coisa interessantíssima
que está solta e livre dentro da cidade. Ela sobrou
milagrosamente por motivos econômicos vários
e deve ser aproveitada com o máximo de inteligência
e bom senso", afirma o arquiteto Carlos Lemos, professor
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Para a arquiteta Regina Monteiro, do Defenda São Paulo,
os projetos devem considerar a referência histórica
e dialogar com os bairros vizinhos. O concurso, diz, é
a forma mais democrática de ter um projeto para a região.
Para um dos que concorrem, o arquiteto Héctor Vigliacca,
o poder público sempre se associa às empreiteiras
para fazer intervenções. Isso, segundo ele,
gerou "uma série de coisas que são vergonhosas
como soluções urbanísticas para São
Paulo". "A iniciativa movimenta uma classe intelectual
que nunca foi chamada", diz.
A Barra Funda já começa a ganhar novos empreendimentos,
que tendem a se intensificar com o prédio do Tribunal
Regional do Trabalho, inaugurado neste ano, que deve atrair
escritórios e apartamentos, afirma Henrique Cambiaghi,
presidente da Asbea (Associação Brasileira dos
Escritórios de Arquitetura).
"O interesse do mercado imobiliário pela região
vai crescer com ou sem o projeto. A grande vantagem de ter
um planejamento urbanístico é que você
não deixa o mercado imobiliário tão solto.
Você pensa parâmetros de ocupação
para oferecer aos empreendedores, que sozinhos pensam apenas
nas suas construções, com resultados que não
são bons do ponto de vista urbanístico",
diz Eduardo Della Mana, diretor do Secovi (sindicato de construtoras
e imobiliárias).
SIMONE IWASSO
da Folha de S.Paulo
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