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A proporção de miseráveis
cresceu 51% nos anos 90 no município de São
Paulo, segundo o "Mapa do Fim da Fome 2", divulgado
ontem pelo CPS (Centro de Políticas Sociais) da Fundação
Getúlio Vargas em parceria com a organização
não-governamental Ação pela Cidadania
e com o Sesc-RJ.
Em 1991, 8% dos paulistanos
eram considerados miseráveis na avaliação
da FGV. Em 2000, esse percentual aumentou para 12,1%.
Em números absolutos,
isso significa que, em 1991, 772 mil paulistanos viviam abaixo
da linha da pobreza. Em 2000, o número de miseráveis
subiu para 1,3 milhão de pessoas, uma variação
de 63%.
No mesmo período, o município
do Rio registrou queda no número de miseráveis.
A proporção caiu de 16,36% para 13,32% de 1991
para 2000. Em número absolutos, eram 897 mil em 1991
e passaram a ser 780 mil em 2000.
Quem é o miserável
A FGV classifica como miseráveis pessoas com renda
mensal per capita inferior a R$ 79- valor necessário,
de acordo com preços de São Paulo, para garantir
a ingestão mínima de alimentos recomendada pela
Organização Mundial da Saúde (OMS).
"São Paulo foi a
cidade que mais sofreu com a crise econômica que atingiu
os centros metropolitanos brasileiros. A explosão de
miséria pode ser explicada pelo aumento na taxa de
desemprego", disse o economista Marcelo Neri, coordenador
do CPS da FGV.
Com base em dados da Pesquisa
Mensal de Emprego do IBGE, o pesquisador concluiu que, entre
2000 e 2002, a miséria explodiu nos municípios
das regiões metropolitanas de São Paulo e Rio
de Janeiro (excluindo as duas capitais). Até então,
havia uma homogeneização crescente da pobreza
nas capitais e em seu entorno.
Entre 2000 e 2002, a proporção
de miseráveis nas cidades vizinhas do Rio aumentou
18,25%, enquanto na vizinhança de São Paulo
essa variação foi de 10,43%. Quando se analisa
as capitais dos dois Estados, houve queda de 1,7% na proporção
de miseráveis no Rio e um pequeno crescimento de 1,6%
na capital paulista.
"Concluímos que
inexistem políticas públicas de transferências
de renda nos grandes centros. Grande parte da atenção
do governo está voltada para os grotões do país",
afirmou Neri.
O estudo revela ainda que o
Brasil tem 33% da sua população vivendo como
miseráveis, o que representa 56 milhões de brasileiros.
Segundo o trabalho, se cada brasileiro transferisse R$ 14,04
mensais de sua renda para os miseráveis do país,
seria possível erradicar a fome. Cada miserável
deveria receber R$ 33,15 por mês, em média, para
superar a linha da pobreza. Por mês, seriam necessários
R$ 2,4 bilhões para acabar com todos os indigentes
do país.
Não é possível
comparar os resultados desse estudo com os dados do primeiro
mapa, divulgado em 2001. Naquele ano, a FGV apontou a existência
de 50 milhões de indigentes, ou 29,3% da população.
"As bases de cálculo são diferentes",
diz Neri.
O mapa também fez um
ranking da miséria por Estados e municípios
brasileiros. São Paulo é o Estado com menor
percentual de pessoas recebendo menos de R$ 79 reais por mês
(14,3%), seguido de Santa Catarina (15,4%), Distrito Federal
(17,1%), Rio Grande do Sul (18,4%) e Rio (19,5%).
Os Estados com mais miseráveis
são Maranhão (68,4%), Alagoas (63,8%), Piauí
(63,3%), Ceará (58,7%) e Bahia (57,9%).
MURILO FIUZA DE MELO
da Folha de S. Paulo
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