Considerada pelo próprio
PT a área de pior avaliação da prefeita
Marta Suplicy, a saúde da cidade de São Paulo
vai ganhar um reforço federal a seis meses das eleições
municipais. A pedido do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, o programa Farmácia Popular, promessa da
campanha presidencial petista atrasada há pelo menos
oito meses, começará pela capital paulista nas
próximas semanas.
Cercado de sigilo no Ministério
da Saúde, o Farmácia Popular nada mais é
do que uma rede de farmácias públicas que venderão
medicamentos a preços mais baixos do que os da rede
privada.
A aceleração do projeto,
que coincide com o calendário eleitoral, foi uma ordem
de Lula ao ministro da Saúde, Humberto Costa. Ele quer
20 unidades funcionando na cidade de São Paulo nas
próximas semanas. Outras dez seriam implantadas no
Rio de Janeiro e em duas capitais administradas pelo PT: Recife
e Goiânia.
Pelo plano que repousa na mesa do
ministro, os preços seriam, em média, 40% mais
baixos do que os dos remédios vendidos em drogarias
comuns. O público alvo do programa são as classe
média e média baixa, expulsas nos últimos
anos dos planos de saúde privados e que hoje disputam
com os mais pobres vagas e remédios nos postos municipais
e estaduais.
As primeiras unidades do Farmácia
Popular serão construídas em grandes avenidas
da capital paulista, a maioria na região central. Os
locais serão definidos após a prefeitura decidir
qual será sua contrapartida -se cederá os terrenos,
funcionários ou os dois.
O Ministério da Saúde
não deu informações sobre o Farmácia
Popular. Limitou-se a dizer que será lançado
"em breve".
Dirigentes petistas identificaram
três grandes preocupações entre os brasileiros
que elegerão os novos prefeitos em outubro: segurança,
desemprego e saúde. Suas pesquisas internas revelam
o mesmo panorama que se extrai das planilhas do último
levantamento do Datafolha, publicado duas semanas atrás.
O sistema de saúde municipal
é muito mal avaliado pelos paulistanos. Apenas 12%
dizem que os serviços são ótimos ou bons.
Mais da metade dos entrevistados (55%) diz que são
ruins ou péssimos. E a avaliação vem
piorando a cada pesquisa, deixando nítidas as diferenças
com os projetos prioritários da administração.
É o caso dos CEUs, os "escolões" da
periferia. A área de educação tem uma
avaliação positiva seis vezes maior do que a
da saúde. "Esse é o resultado das prioridades
escolhidas por Marta", afirma Eduardo Jorge, ex-secretário
da Saúde demitido no ano passado.
A estratégia petista é
minimizar esses problemas com a chegada do Farmácia
Popular. Um assessor próximo à prefeita afirma
que a saúde não vai eleger ninguém neste
ano, mas que também não vai atrapalhar.
Os problemas -filas intermináveis,
remédios em falta e hospitais sem médicos- não
são novos. Arrastam-se há várias administrações.
Mas podem dificultar a reeleição de Marta, ao
afastar grupos tradicionalmente ligados ao PT. "As pessoas
não encontram atendimento digno nos hospitais. Esperávamos
uma mudança de qualidade na gestão petista",
critica Celina Maria de Oliveira, dirigente da União
dos Movimentos Populares de Saúde da Cidade de São
Paulo, que organizou manifestação na Praça
da Sé ontem.
Privilégio
Esta não é a primeira vez que o governo
Lula privilegia administrações petistas. De
janeiro de 2002 a junho de 2003, o BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social) emprestou R$ 741,3
milhões à Prefeitura de São Paulo -80,6%
do total desembolsado pela estatal para investimentos em municípios.
No último domingo a Folha revelou
que a gestão Lula aumentou em 84,1% os empenhos de
verbas de acordos, convênios e ajustes feitos entre
a União e os Estados governados pelo PT. No mesmo período,
houve uma redução de 3% dessas transferências
no país.
FABIO SCHIVARTCHE
da Folha de S.Paulo
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