SÃO PAULO - Congestionamento
e poluição estão longe de ser motivos
suficientes para fazer o paulistano a deixar o carro na garagem.
A mudança de hábito só ocorreria se fosse
adotado o pedágio urbano ou outra sanção
econômica, como multa. É o que mostra uma pesquisa
feita pelo Departamento de Engenharia de Transportes da Escola
Politécnica da USP, em parceria com a Fundação
de Amparo À Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp), feita com 176 usuários de carros da cidade.
O objetivo é buscar fatores
comportamentais que ajudassem o poder público a encontrar
mecanismos que reduzam o uso do transporte individual.
"O automóvel é
um conforto e é o único meio que leva da porta
de casa até a porta do trabalho. O Metrô não
vai a qualquer lugar, pois o usuário precisa complementar
a viagem com carro, ônibus ou táxi", afirma
o pesquisador e doutor Luis Alberto Noriega Vera, da Escola
Politécnica da USP.
Segundo a pesquisa, divulgada nesta
segunda-feira no site do governo do estado de São Paulo,
58,5% das pessoas que circulam sozinhas em seus carros não
se sentem responsáveis pela poluição
do ar. Apenas 29% admitiram que os automóveis poluem
e 12,5% simplesmente não se posicionaram.
Na avaliação de Noriega
Vera, o usuário de automóvel acredita que o
transporte coletivo não atende as suas necessidades.
Eles acham que têm mais conforto e rapidez, mesmo com
os congestionamentos. Para driblar o desconforto de permanecer
parado no trânsito, o motorista recorre a ar condicionado
e som no automóvel - não necessariamente em
caminhos mais curtos ou outros meios de transporte.
Apesar de citar o Metrô como
segunda opção, os motoristas pensam em mudar
o horário de sair de casa para o trabalho para escapar
do problema. Rodízio e campanhas educativas, para Noriega
Vera, não resolvem o problema. Para reduzir o uso do
carro, só mesmo com medidas econômicas. Segundo
o especialista, o paulistano já se adaptou ao rodízio
e sai mais cedo ou mais tarde de casa ou do trabalho para
não ser multado nos horários de pico. Com isso,
algumas avenidas da cidade passaram a ficar congestionadas
em horários que seriam tranqüilos, como às
15h.
"O número de veículos
na rua é praticamente o mesmo e o período de
pico se estende. O rodízio ampliou o período
de congestionamento e precisa ser revisto. Uma alternativa
seria voltar ao passado, quando o carro tinha de ficar parado
o dia todo", diz Noriega Vera.
O pedágio urbano seria taxado
em ruas com acesso. A pesquisa identificou que algumas pessoas
aceitam pagar pedágio, cerca de 30% da amostra. 70%
não concordam ou não têm opinião
formada.
CLEIDE CARVALHO
do jornal O Globo
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