São Paulo deve ter, ainda neste ano, um ganho
de pelo menos 804 árvores, como resultado das compensações
ambientais pelas obras viárias em curso na cidade.
Isso representa quase dois campos oficiais de futebol em áreas
verdes (12.800 m2).
O reforço, porém, vai
beneficiar diretamente alguns dos paulistanos mais privilegiados
quando se trata de arborização urbana e que
vivem ou trabalham em regiões nobres da cidade, em
vez de ser usado para reduzir o déficit histórico
de verde da fronteira entre as regiões central e leste
e da periferia no extremo leste da capital.
Lá, há distritos cujos
habitantes não têm um metro quadrado sequer de
área arborizada e sofrem, por um lado, com enchentes
e, por outro, com temperaturas até 5C acima da média
no verão.
A distribuição desigual
deve se manter porque a Secretaria Municipal do Verde e do
Meio Ambiente decidiu plantar as novas árvores no entorno
de onde estão sendo realizadas as obras -na zona oeste-
e no parque Cordeiro -que fica no Jardim Petrópolis,
bairro de classe média alta de Santo Amaro (zona sul).
Não há nenhum dispositivo
que obrigue o plantio por conta de compensação
ambiental a ser feito nas proximidades da intervenção
que demanda tal reparação.
Um dos critérios para escolher
onde colocar as novas árvores foi o da visibilidade,
segundo o próprio secretário do Verde e do Meio
Ambiente, Adriano Diogo. Ele diz, porém, que pesou
também o "bom senso".
Com relação à
escolha do parque Cordeiro, o secretário disse que
ele é "importantíssimo". Reivindicação
antiga da Sajape (Sociedade Amigos dos Jardins Petrópolis
e dos Estados), o empreendimento só existe num decreto
municipal e não tem data certa de entrega à
população.
Entre os benefícios da arborização
urbana estão a purificação do ar pela
fixação de poeiras e gases prejudiciais à
saúde; a melhoria do microclima da cidade, pela retenção
de umidade do solo e do ar e pela produção de
sombra; o aumento da permeabilidade do solo, que evita enchentes
e favorece a recarga natural dos lençóis subterrâneos
de água; o abrigo a animais, o que ajuda a controlar
pragas e agentes transmissores de doenças; e a redução
de ruídos.
Distribuição
Do total de árvores que serão plantadas,
368 unidades (46%), que compensarão as 35 a serem removidas
para construção do corredor de ônibus
da av. Ibirapuera, vão para o futuro parque Cordeiro.
Em Santo Amaro, há em média 90 m2 de área
verde por morador, o que coloca o distrito numa confortável
13ª posição (de um total de 96) no ranking
do Atlas Ambiental de São Paulo.
A maior parte das plantas, 54% ou
436 unidades, ficará em vias públicas no entorno
das obras que as tornaram necessárias porque causaram
desmatamento.
Por conta da construção
da passagem subterrânea no cruzamento das av. Rebouças
e Faria Lima, serão plantadas 138 árvores na
região, de onde serão tiradas 37 unidades -saldo
positivo de 101 plantas. Um pouco mais adiante, no entorno
do futuro túnel na esquina da Faria Lima com a av.
Cidade Jardim, 185 árvores chegam e 30 saem (saldo
de 155).
Ambas as regiões ficam no distrito
de Pinheiros (zona oeste), que ocupa o 38º lugar no ranking
de vegetação per capita (22,2 m2 por habitante).
A Faria Lima é endereço de comércios
e escritórios de alto padrão. Seguindo alguns
quilômetros, o prolongamento da Faria Lima, na região
da av. Hélio Pellegrino, vai custar 36 árvores,
pagas com 251 novas unidades (ganho líqüido de
215 plantas).
MARIANA VIVEIROS
da Folha de S.Paulo
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