Projeto
de R$ 234 mi quer levar presença do Estado a quatro
comunidades violentas do País
Lojas e mercadinhos da ocupação irregular de
Itapoã, no Distrito Federal, só atendem por
trás das grades, mesmo a luz do dia. No bairro de Santo
Amaro, no Recife, 58 pessoas foram assassinadas no ano passado.
O conjunto de 12 favelas do Complexo do Alemão, na
zona norte do Rio, dominado pelo tráfico, dispensa
apresentações. São essas as áreas,
além da comunidade de Santa Inês, em Rio Branco,
que o governo federal pretende, a partir da próxima
semana, pacificar com uma série de projetos sociais
e a implantação de polícia comunitária.
Os Territórios da Paz terão
investimento inicial de R$ 234 milhões. Com o projeto,
o Estado espera entrar em áreas onde hoje tem ação
discreta. O foco central será a polícia comunitária.
O Ministério da Justiça quer que os policiais
sejam conhecidos dos moradores e sejam chamados pelo nome.
Para isso, o governo vai oferecer cursos de segurança
e direitos humanos em troca de bolsa de R$ 400 mensais e financiamento
para compra da casa própria.
Apesar de aparentemente pouco para
estimular o enfrentamento em áreas violentas, o dinheiro
significa, por exemplo, a metade do que ganha hoje um PM iniciante
no Rio. No Acre e Pernambuco, onde um soldado recebe entre
R$ 1,1 mil e R$ 1,2 mil, a bolsa faz diferença. O impacto
é menor no Distrito Federal, onde o salário
inicial é R$ 3,6 mil. "Temos de recuperar a polícia
para o cidadão, aproximá-la das pessoas",
disse o secretário nacional de Segurança Pública,
Ricardo Balestreri, no lançamento do Mapa da Violência
da América Latina.
A experiência de polícia
comunitária não é uma novidade. Uma das
mais bem-sucedidas é justamente no Morro do Cavalão,
em Niterói (RJ), onde a Polícia Militar instalou
em 2003 um quartel do Grupo de Policiamento de Áreas
Especiais. A PM conseguiu assumir o papel de apoio à
comunidade antes exercido pelos traficantes.
A experiência do Territórios
da Paz vai incluir mais dois projetos. No Mulheres da Paz,
mães da comunidade vão receber R$ 190 para trabalhar
com jovens, tentar afastá-los do crime e encaminhá-los
para projetos socioculturais. A terceira ação,
um projeto para jovens chamado Protejo, vai pagar bolsa de
R$ 100 para quem se envolver com cultura, esportes e educação.
Os jovens deverão ser multiplicadores das ações.
Dos quatro territórios que
serão inaugurados, o Rio vai receber o maior volume
de recursos. Além de R$ 94,1 milhões para o
projeto, outros R$ 55 milhões vão apenas para
ações de segurança, para fazer a polícia
entrar na comunidade.
Os resultados, no entanto, não
deverão chegar facilmente. Em Itapoã, o posto
da polícia comunitária foi inaugurado há
quase dois meses, mas os moradores ainda não sentiram
diferença. Acuados, comerciantes atendem aos clientes
por detrás grades - ninguém entra nas lojas.
Nenhum morador se identifica, mas todos têm histórias
de horror para contar. Como a da "Rua da Morte",
onde são jogados os corpos de assassinados ou do ladrão
que avisa à vizinha que no dia seguinte vai assaltá-la
e "é melhor que ela tenha alguma coisa em casa".
A avaliação é
que a presença da polícia é boa, quando
ela aparece. Os moradores se queixam, no entanto, que raramente
os policiais saem do posto para fazer ronda. Alguns mostram
ter receio de andar pela comunidade.
Lisandra Paraguassú
André Dusek
O Estado de S.Paulo
Expectativa de vida aumenta e
chega a 72,6 anos,
diz IBGE
Esse aumento na taxa pode diminuir benefício de
quem está para se aposentar; em 2006, taxa era de 72,3
anos
Como em anos anteriores, mulheres
vivem mais que os homens; mortalidade masculina na faixa de
20 a 24 anos influi nesse item
A expectativa de vida do brasileiro
alcançou no ano passado o nível de 72,6 anos,
um aumento de 5,6 anos em comparação com 1991.
Esse aumento é explicado em parte pela melhoria da
taxa de mortalidade infantil, que caiu no mesmo período
de 45,2 bebês mortos por mil nascidos vivos para 24,3.
Em 2006, essa expectativa era de 72,3 anos, o que significa
que em um ano o brasileiro ganhou, em média, uma sobrevida
de quatro meses.
A mudança, anunciada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística), interfere desde 1999 no
cálculo das aposentadorias pagas pelo INSS. O Ministério
da Previdência utiliza essa informação
para calcular o fator previdenciário, mecanismo que
diminui o valor do benefício de quem for se aposentar
nos 12 meses seguintes à divulgação do
aumento da expectativa de vida.
A maior expectativa foi verificada no Distrito Federal, onde
a esperança de vida ao nascer chega a 75,3 anos, patamar
igual ao verificado na Argentina hoje. No outro extremo, Alagoas,
com 66,8 anos, está no mesmo nível da Mongólia,
segundo a ONU.
É também em Alagoas que se verifica a maior
mortalidade infantil do país: 50 bebês mortos
antes de completar um ano de idade por mil nascidos vivos,
nível próximo do verificado pela ONU em Bangladesh
(52,5 anos). No outro extremo, o Rio Grande do Sul tem a menor
taxa (13,5 por mil), mesmo patamar da Argentina (13,4).
O IBGE divulgou também que as mulheres continuam vivendo,
em média, por mais tempo do que os homens. No ano passado,
essa diferença foi de 7,6 anos (68,8 anos para homens,
76,4 para mulheres). A distância permanece praticamente
estável desde 1991, quando era de 7,7 anos.
Um dos fatores a explicar a expectativa menor de homens é
a sobremortalidade masculina na faixa etária de 20
a 24 anos, causada principalmente pelas mortes violentas (sobretudo
assassinatos e acidentes de trânsito) de jovens do sexo
masculino.
Segundo o IBGE, em 2007, nessa faixa etária a chance
de um homem morrer era 4,2 vezes maior do que a de uma mulher.
Em 1991, essa relação era 3,3 vezes superior.
Ainda segundo o instituto, aproximadamente nove pessoas morrem
por hora no Brasil por causa de homicídios ou acidentes
de trânsito. Em 2005, último ano para o qual
há dados do Ministério da Saúde, 76.730
brasileiros foram assassinados ou morreram em acidentes de
trânsito. Desse total, cerca de 40% dos mortos tinham
entre 20 e 29 anos.
Juarez de Castro Oliveira, gerente de estudos e análises
de dinâmica demográfica, lembra que essas mortes
têm forte impacto na redução da expectativa
de vida masculina.
"Estamos perdendo 2,9 anos de vida média [na taxa
de expectativa de vida geral] por causa dessa morte precoce
de jovens", diz Oliveira.
Violência afeta Sudeste
Justamente por terem maior mortalidade por causas violentas,
os Estados do Sudeste apresentam sobremortalidade masculina
mais acentuada.
A maior relação, no entanto, é verificada
no Amapá, onde a chance de um jovem do sexo masculino
morrer é 6,15 vezes superior à de uma mulher.
O segundo Estado com maior relação é
São Paulo, com sobremortalidade de 5,94 vezes.
No caso de São Paulo, no entanto, Oliveira afirma que
essa taxa é calculada levando em conta os dados dos
Censos Demográficos. Como o último censo foi
divulgado em 2000, os dados do IBGE ainda não captam
a redução no número de assassinatos verificados
no Estado desde então.
Segundo o gerente do IBGE, somente após o Censo de
2010 esse cálculo será feito nessa pesquisa
com mais precisão, e a posição de São
Paulo, provavelmente, será melhor na comparação,
caso o Estado mantenha a tendência de diminuição
das mortes violentas.