Estudo
foi feito com duas pacientes e será ampliado
O "chá do Santo Daime",
originário da Amazônia e empregado em rituais
religiosos, tornou-se a base de uma pesquisa inédita
bem-sucedida da USP (Universidade de São Paulo) de
Ribeirão Preto para tratar pacientes com depressão.
O projeto-piloto foi feito com duas mulheres com problemas
crônicos de depressão, que tomaram uma dose do
chá e relataram melhora imediata. A idéia agora
é estender o estudo para 60 pacientes, com dosagens
repetidas. Os pesquisadores querem descobrir se a ayahuasca
-espécie de chá com efeito alucinógeno
feito a partir de um cipó e um arbusto originários
da Amazônia- pode substituir os antidepressivos.
Depois de a Universidade Federal de Santa Catarina fazer pesquisas
com camundongos, a USP testou o chá nas duas mulheres
na faixa dos 50 anos que têm sintomas como perda de
apetite, desânimo e choro.
Elas tomaram 200 ml (um copo) da bebida e ficaram em observação
por três dias. "No mesmo dia as pacientes já
estava melhores, e no segundo dia diziam que não estavam
mais depressivas, que as cores da vida tinham voltado",
disse Jaime Eduardo Hallak, professor do Departamento de Neurociência
e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina
da USP.
Após três dias, foi ministrado às pacientes
antidepressivo comum, "porque ainda não há
evidências do efeito permanente da ayahuasca".
"Mas elas acharam a experiência positiva e disseram
que gostariam de tomar mais." O médico agora aguarda
nova autorização do Comitê de Ética
do HC de Ribeirão para ministrar o chá a 60
pacientes em doses repetidas e em intervalos pequenos.
Na opinião de Hallak, é possível que
o chá amazônico venha a se tornar uma arma contra
a depressão. "Eu acredito que é possível
formular um medicamento com o chá. Se não diretamente
com a estrutura da molécula presente no Santo Daime,
algo muito próximo."
A ayahuasca contém duas substâncias -harmina
e dimetiltriptamina. A harmina é uma espécie
de antidepressivo, mas o que causa o efeito imediato é
a dimetiltriptanima, que gera o equivalente a um banho de
serotonina no cérebro.
O segredo do Santo Daime, diz Hallak, está na rapidez:
o efeito é mais imediato, por exemplo, do que tomar
um comprimido de antidepressivo.