É
a maior reprovação desde a criação
da prova do Conselho Regional de Medicina, em 2005 Mais
da metade dos 679 alunos não soube responder quando
o médico deve suspeitar de tuberculose; exame não
é obrigatório
Seis em cada dez estudantes prestes a concluir o curso de
medicina foram reprovados no exame do Cremesp (Conselho Regional
de Medicina do Estado de São Paulo). É a maior
reprovação desde que a prova foi criada, em
2005. O exame não é obrigatório. "Não
foi uma prova difícil. Exigiu-se aquilo que um médico
que acabou de terminar a faculdade precisa saber", diz
o presidente do Cremesp, Henrique Carlos Gonçalves.
"A porta de entrada desses médicos para o mercado
de trabalho são o ambulatório e a emergência.
Ou seja, estão indo para essas áreas estratégicas
justamente os médicos menos qualificados. Eles colocam
vidas em risco." Neste ano, de 679 alunos, 61% não
conseguiram passar da primeira fase. É quase o dobro
dos 31% reprovados em 2005, quando 998 fizeram a prova.
A estimativa é que cerca de 2.500 médicos se
formem no Estado de São Paulo neste ano. Os alunos
tiveram que resolver, na primeira fase, um teste com 120 questões.
Mais da metade não soube responder a uma pergunta sobre
quando se deve suspeitar de tuberculose -tosse com expectoração
por três ou mais semanas, febre, perda de peso e falta
de apetite. Dos 231 estudantes que fizeram a segunda fase,
prática, apenas 24 foram reprovados. Alunos de 23 faculdades
do Estado participaram, mas só 13 tiveram mais de 20
alunos fazendo a prova, número mínimo para o
Cremesp considerar a participação representativa.
Das 13 instituições, só três conseguiram
aprovar mais da metade dos alunos -a aprovação
credencia o aluno a fazer a segunda fase do exame. Foram elas:
Unifesp, com 64% de aprovados; Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de SP, com 56%; e USP, com 52%.
As escolas privadas tiveram os piores desempenhos. O curso
da Universidade São Francisco, de Bragança Paulista,
está na ponta da lista. Dos 28 alunos que realizaram
o exame, só três foram aprovados. A Folha procurou
a faculdade, mas ninguém se manifestou.
Para o presidente do Cremesp, os cursos são ruins porque
as faculdades trabalham com a lógica do lucro. "O
curso de medicina exige professores capacitados, materiais
e hospital universitário. É caro demais para
ser custeado só com as mensalidades. Ou a faculdade
dá prejuízo, ou a faculdade dá lucro,
mas oferece um curso de má qualidade", diz Gonçalves.
Além de cada vez mais baixo o total de aprovados, os
679 participantes deste ano representaram a menor adesão
desde o início da prova do Cremesp. Não participam
a Unicamp e a USP-Ribeirão.
Juliana Coissi
Ricardo Westin
Folha de S.Paulo
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