Com
a enorme proporção de estudantes fazendo dieta
na Universidade do Oregon (EUA), não foi fácil
para a psicóloga americana Cara Bohon recrutar 76 voluntárias
para seu experimento, que consistia em tomar uma taça
inteira de milk-shake dentro de uma máquina de ressonância
magnética. O resultado do trabalho, porém, valeu
o esforço. Ela acaba de comprovar a ligação
entre uma variação específica no DNA
e a tendência de algumas pessoas a comer mais.
Oferecer milk-shake de graça, afinal, atraiu diversas
estudantes. "Nós as recrutamos com panfletos distribuídos
no campus da universidade, mas também pela comunidade",
disse Bohon à Folha, ontem, em entrevista por e-mail.
Pesquisa com uso de milk-shake indica que pessoas com o "sistema
de recompensa" neurológico enfraquecido tendem
a comer mais
A curiosidade despertada pela pesquisa também ajudou.
"Muitas mulheres têm preocupação
com a silhueta e, por isso, se interessaram em participar
dos nossos estudos."
Em artigo na revista "Science" (www.sciencemag.org),
Bohon e seus colegas mostraram que as pessoas com o "sistema
de recompensa" neurológico enfraquecido tendem
a comer mais.
Esse é o mecanismo que, entre outras coisas, transmite
mensagens do sistema digestivo ao cérebro comunicando
o prazer quando ingerimos um alimento saboroso.
Para medir as diferentes reações cerebrais
das mulheres ao prazer proporcionado pelo milk-shake, Bohon
usou a ressonância magnética para observar uma
área específica do cérebro das voluntárias
--o estriado dorsal, que reage à presença da
dopamina, um transmissor de impulsos nervosos ligado à
regulação do prazer.
Os pesquisadores descobriram que uma variação
genética específica pode reduzir a capacidade
do cérebro de se ativar com a dopamina porque diminui
nos neurônios o número de receptores para essa
substância. Eles são como um interruptor molecular,
que "liga" a célula quando a dopamina encosta
neles. As portadoras do gene variante (batizado com a sigla
Taq1A1), mostraram afinal ter mais tendência a engordar
do que as outras pessoas.
A lógica por trás do estudo é que as
pessoas que obtêm menos prazer com uma determinada quantidade
de comida precisam de refeições maiores para
atingir o mesmo nível de saciedade dos outros. Dito
assim pode parecer óbvio, mas os próprios cientistas
reconhecem que o pensamento era outro antes. "Definitivamente,
esperávamos em um momento encontrar "maior"
ativação de recompensa entre obesos; a idéia
seria de que aqueles que têm mais prazer com comida
comem mais", diz Bohon.
Mesmo após os cientistas descobrirem que o raciocínio
correto era o inverso, porém, foi necessário
fazer o experimento com o mapeamento em ressonância
magnética para provar a idéia. "Saber apenas
que esse alelo [gene] em particular está ligado à
obesidade não explica por que isso acontece",
afirma a cientista. Segundo ela, porém, a genética
explica apenas parte da tendência à obesidade,
e o mecanismo descrito na "Science" pode ter aplicação
restrita.
"Achamos que esse efeito pode ser específico
para comidas saborosas, que com freqüência têm
alto teor de gordura e açúcar", afirma
Bohon. Ela diz que não há uma maneira direta
de a descoberta ser aproveitada em tratamentos farmacológicos,
já que drogas dopaminérgicas em geral são
viciantes. "Esperamos desenvolver intervenções
comportamentais", diz.
Rafael Garcia
Folha de S.Paulo
Universitários nos
EUA querem criar 'cerveja anticâncer'
Estudantes tentarão produzir bebida transgênica
para concurso científico.
Um grupo de estudantes da Universidade Rice, no Estado americano
do Texas, pretende criar uma cerveja transgênica que
contém resveratrol, uma substância química
presente no vinho que tem se mostradou capaz de reduzir os
riscos de câncer e doenças cardíacas em
experiências com ratos de laboratório.
Os estudantes estão tão entusiasmados com o
projeto que vão inscrevê-lo no maior concurso
internacional de biologia sintética, o iGEM (International
Genetically Engineered Machine), que será realizado
nos dias 8 e 9 de novembro em Cambridge, no Estado americano
de Massachusetts.
Na competição, as equipes utilizam DNA para
criar organismos vivos que fazem coisas incomuns, como bactérias
que se comportam como um filme fotográfico.
Esta é a terceira vez que o grupo, conhecido como
Rice BiOWLogists, entra na competição. No ano
passado, os estudantes apresentaram um vírus bacteriano
que combatia a resistência a antibióticos, mas
não levou o prêmio.
"Depois do concurso do ano passado, estávamos
conversando sobre o que faríamos este ano", disse
Taylor Stevenson. "Peter Nguyen (outro estudante) fez
uma piada sobre colocar resveratrol na cerveja, mas nenhum
de nós levou à sério."
Mas, quando a equipe começou a pensar em um novo projeto,
descobriu que haviam sido publicados muitos trabalhos científicos
sobre a modificação de fermento com genes ligados
ao resveratrol.
Fase teórica
Por enquanto, a pesquisa dos estudantes de Rice está
na fase teórica. Eles ainda não produziram uma
gota sequer de cerveja. Estão trabalhando, no momento,
na criação de uma variedade transgênica
de fermento que deverá produzir resveratrol ao mesmo
tempo em que fermenta a cerveja.
A equipe tem planos de fermentar algumas doses para teste
nas próximas semanas, que conterão "marcadores"
químicos de sabor ruim necessários para que
sigam a experiência. Esse produto não será
consumido, de acordo com os estudantes.
Até hoje, só uma variedade de fermento transgênico
foi aprovada para uso em cervejas, e os jovens pesquisadores
dizem acreditar que vai levar muito tempo para que sua criação
seja apreciada.
Estudos indicam que o resveratrol possui propriedades antiinflamatórias,
anticâncer e produz benefícios cardiovasculares
para animais de laboratório.
Ainda não foi estabelecido se a substância oferece
benefícios também a seres humanos, mas o resveratrol
já é vendido em lojas de produtos naturais.
Da BBC
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