Para
analistas, crise atingirá primeiro o setor exportador
O mercado de trabalho deve sentir a partir do primeiro trimestre
de 2009 os efeitos da crise financeira que atinge os Estados
Unidos e se espalha pelos demais países.
O primeiro desses reflexos deve ser uma "freada"
no ritmo de criação de vagas, especialmente
nos segmentos exportadores e no comércio, segundo avaliam
economistas e sindicalistas. O comércio paulista já
prevê a criação de menos vagas temporárias
neste ano do que as inicialmente esperadas.
"A crise vai alterar o rumo do que vinha ocorrendo com
o emprego, com uma diminuição na criação
de postos de trabalho no próximo ano", diz Clemente
Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese. Neste
ano, 2 milhões de vagas com carteira assinada devem
ser criadas, segundo estima o governo federal a partir do
Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
Para 2009, deve haver redução em torno de 300
mil a 500 mil postos, de acordo com o diretor técnico
do Dieese. Dessa forma, a criação de vagas no
próximo ano seria de 1,5 milhão a 1,7 milhão,
já que a economia deve crescer menos do que neste ano.
Ao longo do ano passado, os novos empregos somaram 1,617 milhão.
"Segmentos exportadores podem ser os primeiros a assimilar
os resultados da crise porque a demanda por seus produtos
está vinculada à taxa de crescimento de outros
países, como a da China, e de países asiáticos",
diz Ganz Lúcio.
Diante de um cenário de incertezas, o impacto no mercado
de trabalho ainda depende das medidas que o governo irá
adotar para amenizar os efeitos da crise na na economia brasileira.
"Se o governo continuar liberando recursos para que as
empresas possam enfrentar a escassez de crédito, se
o BNDES mantiver sua capacidade de atuação,
se o Banco Central continuar flexibilizando o compulsório,
o Brasil pode minimizar as conseqüências dessa
crise", afirma Ganz Lúcio.
Fábio Romão, economista da LCA, também
acredita que a ocupação vá crescer em
um ritmo "menos robusto" em 2009 do que o verificado
em 2007 e neste ano. Diz ainda que a tendência é
de crescimento da taxa de desemprego no primeiro trimestre
de 2009.
"Dois fatores contribuem para esse cenário: a
desaceleração mundial da economia e a elevação
dos juros. O aumento nos juros começou em abril e,
como há uma defasagem para ser absorvido, deve ter
reflexo [no mercado de trabalho] no final de 2008 e início
de 2009", diz.
Para a ocupação, a LCA projeta crescimento de
3,4% e 2,4%, respectivamente neste ano e em 2009. Para a renda,
aumento de 2,6% neste ano e de 2,5% em 2009.
"O impacto não será maior na renda porque
o salário mínimo [parâmetro para reajustar
salários de categorias menos organizadas] deve ter
ganho real maior em 2009. Isso porque o governo adotou uma
fórmula de reajuste que combina o resultado do PIB
de dois anos com o da inflação", diz Romão.
A crise pode trazer reflexos ao bolso dos trabalhadores de
categorias mais organizadas já no primeiro semestre
de 2009. Entre os químicos, o temor é que a
alta do dólar afete a importação de insumos,
com aumento de custos, e atrapalhe as negociações.
"Um setor como o farmacêutico, cuja data-base é
em abril, pode sentir essa pressão nos custos e resistir
à concessão de ganho real. Até lá
esperamos que a situação melhore", diz
Sérgio Leite, da Fequimfar (ligada à Força).
Claudia Rolli
Folha de S.Paulo
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