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A participação dos idosos na renda familiar
aumentou nos últimos anos. De acordo com a Síntese
de Indicadores Sociais, em 53% dos domicílios onde
viviam idosos em 2007, eles contribuíam com mais da
metade da renda familiar. Em 1997, esse percentual era de
47,2%. Essa proporção é maior na região
Nordeste, onde alcança 63,5%.
Em 22,5% dos domicílios, eles contribuíam com
mais de 90% da renda. Segundo Lucia Maria Cunha, do IBGE,
a participação na renda está ligada também
ao convívio entre diferentes gerações
em um mesmo domicílio.
Em 2007, 45% dos idosos viviam com os seus filhos na condição
de chefes do domicílio. Além disso, em casas
onde mora ao menos um idoso, 30,2% dos moradores têm
até 24 anos e 33,7% têm mais de 60 anos.
Para Ana Amélia Camarano, do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, a maior contribuição
na renda por parte do idoso está relacionada à
aposentadoria rural, ao benefício de prestação
continuada e à dificuldade do jovem em arrumar emprego
e sair da casa dos pais.
A pesquisa confirma a tendência de crescimento de domicílios
unipessoais entre 1997 e 2007, de 11,2% para 13,5%, e de casais
sem filhos, de 19,2% para 22,1%, é mais forte na região
Sul -representa 44,7% dos domicílios com idosos.
Para o presidente do IBGE, Eduardo Nunes, a maior participação
dos idosos na renda está relacionada ao ritmo de envelhecimento
da população. A expectativa de vida do brasileiro
ao nascer aumentou 3,4 anos entre 1997 e 2007 -está
em 72,7 anos. As mulheres têm expectativa de vida mais
alta (76,5 anos) que os homens (69 anos).
Cresce
o número de casais sem filhos entre os mais ricos
Novo modelo de família passou a representar
3,4% do total de domicílios em 2007, o equivalente
a 1,94 milhão de casais
Em média, o rendimento per capita desse tipo de casal
é de 3,5 salários mínimos, o que os coloca
entre os 10% mais ricos da população
Os casais sem filhos em que ambos os cônjuges trabalham
figuram cada vez mais no retrato da família brasileira,
aponta a Síntese de Indicadores Sociais. Em 2007, esse
novo modelo de família passou a representar 3,4% do
total de domicílios, o equivalente a 1,94 milhão
de casais. Em 1997, esse perfil somava menos de 1 milhão.
Segundo Ana Lúcia Saboia, gerente de Indicadores Sociais
do IBGE, esse modelo tem crescido muito em sociedades industrializadas
e é chamado de "dinc" (na sigla em inglês
para duplo rendimento e nenhuma criança). Na prática,
segundo o instituto, permite que o casal tenha mais recursos
para se dedicar ao trabalho e ao lazer.
"O resultado pode significar a escolha de não
ter filhos, mas há também a influência
do retardamento da maternidade para a busca profissional",
diz Saboia. Em 58,7% desses casais, a pessoa de referência
(considerada chefe de família, não só
por questões econômicas) tinha até 34
anos, o que pode, segundo o IBGE, refletir o adiamento da
decisão de ter filhos.
É o caso de Flávia Assis, 31, que já
gostaria de ser mãe, mas pretende se estabilizar profissional
e financeiramente antes. Ela e o marido são tradutores
autônomos. "Sei que para a mulher é bom
ter filho cedo, mas adiamos porque não tivemos ainda
disponibilidade financeira", diz ela.
A pesquisa mostra que esse arranjo familiar ainda está
restrito às classes de renda mais alta. Em média,
o rendimento per capita desse tipo de casal é de 3,5
salários mínimos, o que os coloca entre os 10%
mais ricos da população.
Para a antropóloga Miriam Goldenberg, o resultado reflete
que a opção de não ter filhos começa
a ser vista como legítima. "Até hoje, no
Brasil, não ter filhos é um problema do casal
ou da mulher, e muitas vezes é visto como fracasso.
Isso acontece porque a família tem valor fundamental",
disse.
A relações-públicas Brígida Moreira,
48, diz ter feito essa opção na adolescência.
Casada há 19 anos, ela se disse surpresa ao saber do
crescimento dos casais com o seu perfil. "Ser mãe
deixou de ser o grande sonho feminino. Foi um sonho imposto
por muito tempo, e muitas que não deveriam ser mães
aceitaram. Agora as pessoas têm o poder de decidir."
Goldenberg destaca que os dados reforçam também
a tese do adiamento do casamento e da maternidade. "Ter
filhos mais tarde já é algo corriqueiro em muitos
países, mas, no Brasil, quando a mulher chega aos 35
anos, entra em crise. Apesar dos comportamentos estarem mudando,
os valores demoram mais para mudar", disse.
Folha
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