Pesquisa
avaliou 71 currículos de cursos em todo o País
Chegar à sala de aula sabendo o quê e como ensinar
não é garantia oferecida aos professores nos
cursos de Pedagogia no Brasil. Uma pesquisa realizada pela
Fundação Carlos Chagas, a pedido da Fundação
Victor Civita, revela que as disciplinas obrigatórias
que tratam de práticas de ensino, didáticas
específicas e metodologias para os professores usarem
nas salas de aula representam apenas 20,7% do currículo
dos cursos de Pedagogia.
Foram avaliados 71 currículos de cursos distribuídos
em todo o Brasil. A pesquisa evidenciou também que
há grande diversidade do leque de temas abordados:
foram encontradas 1.968 (de 3.107) disciplinas oferecidas
com nomes e enfoques totalmente diferentes. Os concursos públicos,
por sua vez, também não colocam a didática
de ensino como requisito prioritário para a seleção
dos professores. Foram avaliados 35 editais de concursos de
secretarias municipais e estaduais de educação
realizados entre 2002 e 2005.
A pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, Marina
Nunes, que participou da coordenação do estudo,
afirma que a tendência observada nos concursos é
uma exigência maior das questões ligadas à
legislação e ao funcionamento dos sistemas educacionais
do que conteúdos que tratem da relação
entre teoria e prática de ensino. "A pesquisa
evidencia a necessidade de reestruturação urgente
na formação inicial e processos de seleção",
conclui Marina.
Sobre o currículo, outro fator que chama a atenção
são as disciplinas ligadas a modalidades de ensino
específicas: 11% são voltadas a educação
infantil, de jovens e adultos ou educação especial.
Na prática, isso quer dizer que o professor que pretende
dar aulas em educação infantil tem apenas 5%
das disciplinas voltadas a essa etapa, enquanto fundamentos
da educação e funcionamento dos sistemas educacionais
ocupam 42% do currículo.
"É importante frisar que didática também
envolve teoria. Não estamos defendendo um curso que
apenas aborda a prática, mas é preciso haver
proporcionalidade nas disciplinas ofertadas", avalia
a coordenadora pedagógica da Fundação
Victor Civita, Regina Scarpa.
Formada há dois anos, Dulceli de Souza Carvalho, de
24 anos, afirma que os obstáculos do início
de carreira foram amenizados com o amor ao trabalho. "Quando
a gente faz o que gosta não vê problemas",
diz. Questionada sobre o curso de Pedagogia, a professora
aponta as disciplinas de aprendizagem prática como
as mais importantes. "As práticas eram as aulas
que possibilitavam um conteúdo melhor para trabalhar
na escola."
Em países como a Finlândia, que tem um dos melhores
índices de desempenho da educação básica,
há maior oferta de disciplinas voltadas à didática.
"Muitos docentes acham que o amor à profissão
basta, enquanto boa prática de ensino exige profissionalização."
Há 13 anos no comando da Escola Municipal Presidente
Campos Salles, em Heliópolis, Braz Rodrigues Nogueira
diz que a formação inicial não prepara
o professor para a sala de aula e tampouco concursos garantem
a seleção dos melhores. "O professor acaba
tendo de aprender na prática."
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