População brasileira encolhe a partir de 2039, afirma IBGE
Queda
mais intensa na fecundidade alterou projeção,
que apontava redução só após 2062
Número de idosos deve superar
o de crianças em 2036; em 2050, haverá 6,8 milhões
de mulheres a mais que homens
O Brasil que o IBGE projeta para o
futuro é um país mais envelhecido, com menos
crianças e com número crescente de mulheres
a mais na população.
É também uma nação que atravessa
um período único em sua história, que
pode ser aproveitado para acelerar o crescimento econômico
e preparar melhor o país para os desafios de atender
a uma proporção cada vez maior de idosos.
As projeções também indicam que há
um longo caminho até que o Brasil se aproxime, em indicadores
de qualidade de vida, do nível verificado hoje nas
nações mais ricas.
Essas são conclusões da nova estimativa populacional
do IBGE, divulgada ontem. Ela substitui a divulgada em 2004,
que não previa uma queda tão intensa na fecundidade
quanto a verificada nos últimos anos.
Em 2004, o IBGE projetou que a fecundidade chegaria 1,85 filho
por mulher só em 2043. As últimas Pnads (Pesquisas
Nacionais por Amostra de Domicílios), no entanto, já
apontavam que a queda ocorria num ritmo mais intenso, tendo
chegado, já no ano passado, à média de
1,95 filho, abaixo do nível de reposição
populacional.
Segundo o gerente de Estudos e Análises da Dinâmica
Demográfica do IBGE, Juarez Oliveira, não houve
erro: "Quando divulgamos a projeção de
2004, ainda não era possível detectar com segurança
que a fecundidade caía de forma mais intensa.
Esperamos então os resultados de 2001 a 2006 para confirmar
essa tendência".
Pela projeção antiga, a população
só começaria a diminuir após 2062. Agora,
a estimativa mudou para 2039. Houve alteração
também no ponto em que o total de idosos deve superar
o de crianças: de 2049 para 2036.
O envelhecimento populacional mais acelerado significará
também que haverá um excedente cada vez maior
de mulheres na população, já que a expectativa
de vida delas é superior à dos homens. Hoje,
elas são 3,4 milhões a mais. Em 2050, serão
6,8 milhões.
Além de fatores culturais, como maior resistência
masculina a buscar ajuda médica, Oliveira explica que
o excedente feminino cresce devido a mortes por causas violentas,
como acidentes de trânsito e assassinatos, que vitimam
sobretudo jovens do sexo masculino.
Sem essas mortes, diz Oliveira, a expectativa de vida dos
homens seria de dois a três anos superior à atual,
que é de 69,1 anos. A das mulheres é de 76,7;
a da população total, 72,8 anos.
Bônus demográfico
Para o demógrafo José Eustáquio Diniz
Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas
do IBGE, há pontos positivos e negativos na queda mais
intensa da fecundidade.
Uma das vantagens é o chamado bônus demográfico.
Com uma proporção maior de jovens e adultos
e menor de crianças e idosos, há, em tese, mais
espaço para aumento da produtividade, desde que sejam
dadas oportunidades a população em idade ativa.
Esse período, porém, tem prazo para acabar,
já que a população idosa será
proporcionalmente cada vez maior, o que terá impacto
nos gastos públicos na saúde e Previdência.
Para Alves, o bônus demográfico deve acabar entre
2050 e 2055 -dependendo do comportamento da fecundidade.