Alan
Meguerditchian
especial para o GD
Valorizar a produção dos alunos. Ampliar a aprendizagem,
relacionando os temas abordados em sala com o contexto do
estudante. Ultrapassar os muros do colégio, estabelecendo
contato entre o conteúdo produzido e o público externo. Além
da grande atração provocada.
Essas foram algumas das principais conquistas da professora
de português, Marli Fiorentin, da Escola Estadual Padre Cobalchini,
de Nova Bassano, no Rio Grande do Sul, a partir da utilização
do blog como ferramenta pedagógica.
Seu blog,
Vidas Secas, nasceu para chamar a atenção e atrair os 59 alunos
das duas turmas de 8ª série para os dois principais temas
do primeiro trimestre de 2005: a obra de Graciliano Ramos
e a grave seca que atingira a região sul do Brasil. "Um tema
foi ao encontro do outro. Poderíamos tratar a literatura comparando
as situações, aproximando a obra à vida do aluno".
Essa aproximação é uma das principais vantagens obtidas pela
ferramenta, porque permite aos leitores postarem seus comentários,
os comments. "É constante observar palavras calorosas e espontâneas
dos alunos em relação aos temas abordados no blog", revela
Betina von Staa, consultora de tecnologia educacional do site
Educacional. Apesar desse benefício, a ferramenta ainda gera
insegurança em alguns educadores. "Como a tecnologia é relativamente
nova e, para o professor começar a trabalhar com ela é necessário
um pequeno domínio técnico, assim como um espaço no seu planejamento,
alguns ficam receosos de começar a usa-la", diz Staa.
"Apesar disso, a grande maioria se surpreende com os resultados
obtidos. Receber um elogio, por meio de uma mensagem de um
professor de outro estado, valoriza o trabalho".
Tal amadurecimento foi sentido pela professora Fiorentin,
no blog Vidas Secas. "Conheci a ferramenta em 2004. Não sabia
construir, mas achei que tinha potencial. Pesquisei um pouco,
conversei com outros professores através de bate-papos - conversas
promovidas por sites - e criei o blog no início do ano seguinte".
A insegurança da educadora não demorou muito para desaparecer.
"Minhas expectativas foram concretizadas. Em pouco tempo,
cada aluno começou a comentar o trabalho do outro e isso gerava
uma discussão interessante, saindo da dinâmica em que o aluno
escreve e só o professor lê", acredita.
Mesmo diante do potencial da ferramenta, Staa não identifica
uma "avalanche" no aparecimento de blogs educacionais. Segundo
ela, isso será resultado de um crescimento natural do meio
como instrumento pedagógico. Em uma das escolas em que a consultora
presta serviço, trabalham cerca de 500 professores, dos quais
15 criaram blog.
Tal desenvolvimento passa pela identificação, por parte das
diretorias das escolas, de que o blog é uma ferramenta importante.
Segundo Staa, há cinco anos a preocupação das diretorias era
maior. "Muitos se perguntavam se valia à pena expor o trabalho
da escola. Hoje isso diminuiu muito, mesmo que alguns prefiram
começar mais lentamente, restringindo a possibilidade de comentários
à turma, por exemplo", necessidade já suprida por sites de
auxiliam na criação de um blog, como o Educacional.
Ao navegar por alguns blogs é possível identificar a falta
de periodicidade em relação às publicações. Segundo Staa,
isso faz parte da dinâmica da ferramenta quando é utilizada
com fins educacionais. "Os professores usam o instrumento
quando precisam divulgar algum texto novo para os alunos.
Outra publicação só ocorre quando outro material precisa ser
consultado", diz. Além disso, a vida útil de um blog depende
muito do tempo em que o assunto é tratado. "Não é como um
diário de um jovem ou um blog jornalístico. O blog acompanha
o ritmo da aula".
O caso de Fionrentin pode mostrar como é possível não deixar
de utilizar a ferramenta quando um determinado assunto se
esgota. A professora continuou criando blogs e hoje reúne
todos em um blog
pessoal. "Os alunos entenderam a importância do instrumento,
se sentiram importantes e ouvidos, assim se envolvendo com
o projeto".
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