Arrisco
dizer que 2006 entra para a história como o ano em
que a educação subiu ao topo da agenda do país
Pela primeira vez, a educação se transformou
num dos principais assuntos dos candidatos a presidente e
a governador -essa é, de longe, a mais interessante
novidade destas eleições.
Isso significa que, mais cedo ou mais tarde, os governantes
serão avaliados pelo desempenho dos estudantes, sobretudo
quando os indicadores forem popularizados assim como os de
inflação e desemprego.
Arrisco dizer que 2006 entra para a história como
o ano em que a educação subiu ao topo da agenda
do país. Esse é um caminho sem volta, por absoluta
falta de alternativa.
Os candidatos não estão refletindo, em suas
propostas e promessas, só as óbvias relações
entre conhecimento e geração de riqueza, uma
das chaves para entender o progresso de nações
como a China. Estão refletindo informações
mais simples, contidas nas pesquisas de opinião: o
eleitor mais pobre está descobrindo que conhecimento
significa dinheiro no bolso, condição indispensável
para conseguir os melhores salários.
A cobrança em cima dos governantes se torna possível
porque, nos últimos anos, uma geração
de acadêmicos -o maior expoente deles é Maria
Helena Guimarães, que estruturou o departamento de
dados do MEC- desenvolveu métodos de avaliação.
O exame do ensino superior, divulgado na semana passada, é
mais um desses diagnósticos a mostrar nossa tragédia.
Já conseguimos saber o desempenho de cada unidade do
ensino fundamental.
Estamos produzindo um grupo de economistas, quase todos aprimorados
em universidades dos EUA, capazes de pôr em números
o que significa cada centavo gasto em capital humano. Vamos
aprendendo a desmontar equívocos. Na semana passada,
o economista Naercio Menezes, em seminário no Ibmec,
em São Paulo, informou que a escola representa só
20% da nota do aluno, o resto vem da base familiar e da vivência
comunitária. Ou seja, trabalhar a família e
a comunidade é tão importante quanto trabalhar
o aluno.
O que há de mais expressivo da elite empresarial brasileira
se prepara para lançar, em 7 de setembro, coincidindo
com a comemoração da Independência, uma
mobilização pela melhoria da educação.
Colocou-se como meta 2022, quando se festejará o bicentenário
da Independência. Alguns dos melhores especialistas
em avaliações foram chamados pelos organizadores
do movimento para montar uma rede de indicadores de desempenho
educacional. A partir disso, pretende-se disseminar boas práticas
e, por conseqüência, mostrar os incompetentes.
Versões desse tipo de mobilização, envolvendo
empresários, governo, fundação e acadêmicos,
já ocorrem na Bahia, no Rio e em Minas.
Empresários paulistas apadrinham escolas estaduais
e, a partir daí, começam a sistematizar modelos
de gestão para serem compartilhados. O critério
essencial, para eles, é o acompanhamento das notas
dos alunos e a descoberta dos mecanismos para superar os obstáculos.
Há uma profusão de seminários, trazendo
experiências nacionais e internacionais, quase sempre
envolvendo a elite política, econômica e empresarial.
Foi o que ocorreu, na segunda, no Ibmec, onde estavam Alexandre
Scheinkman e Ala Krueger (Universidade de Princenton), e na
quarta, em Belo Horizonte, em que se divulgaram casos de escolas
em tempo integral. Nesta semana, educadores do país
todo vêm a São Paulo para acompanhar relatos
sobre políticas públicas inovadoras em educação,
em que se tecem parcerias com a comunidade -a iniciativa é
do Cenpec, que desde 1995 pesquisa a engenharia de parcerias
educativas e a formação de gestores. Já
é quase consenso que a educação não
é responsabilidade única dos governos nem dos
educadores.
Está também se tornando consenso que os alunos
devem permanecer mais tempo estudando. Belo Horizonte lançou,
na quarta, um projeto de escola em tempo integral. Nos próximos
dias, a Prefeitura de São Paulo vai anunciar o aumento
do número de aulas -no mínimo cinco horas- e
a transformação de todos os clubes públicos
em espaços educativos para que o aluno possa estudar
de manhã até o final do dia. Estão em
funcionamento 500 escolas estaduais em regime integral.
Para sair do lamaçal da ignorância em que estamos
metidos, num país em que a maioria dos adultos não
entende o que lê, vamos precisar de muito mais que isso
-e por muito tempo. Mas não tenho dúvida de
que, neste ano, estamos iniciando uma virada histórica.
P.S. - Todas as escolas deveriam pôr na entrada suas
notas. Mais: os pais deveriam aprender a entender o que significam
esses dados. Se os pais não ajudarem a fazer pressão,
os investimentos terão pouco efeito.
Coluna originalmente publicada na Folha
de S.Paulo, editoria Cotidiano.
|