Com 7,7 milhões delas à frente dos negócios,
o Brasil é o sétimo colocado no ranking do empreendedorismo
feminino mundial
O número de mulheres donas de empreendimentos iniciais
(com até 42 meses de criação) supera
o de homens pela primeira vez. Elas controlavam 52,4% dos
negócios em 2007, ante 43,8% em 2006, segundo dados
do GEM (Global Entrepreneurship Monitor), estudo do Sebrae
e do IBQP (Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade)
que mede o grau de empreendedorismo mundial.
O desempenho das brasileiras supera o da média dos
42 países pesquisados (39% de participação).
Com 7,7 milhões de mulheres à frente dos negócios,
o Brasil conquistou a sétima posição
no ranking mundial de empreendedores.
A taxa de empreendedorismo das brasileiras foi igual à
dos homens -de 12,7%. O índice significa que, de cada
100 adultos de ambos os sexos, praticamente 13 estão
envolvidos em atividades empresariais.
Já entre os negócios estabelecidos (com mais
de 42 meses de criação), as mulheres têm
apenas 38% de participação.
O coordenador do Programa de Estudos Avançados em
Empreendedorismo da FGV (Fundação Getulio Vargas),
Francisco Barone, acredita que as mulheres também ocuparão
maior percentual nos empreendimentos consolidados em poucos
anos. Para ele, a expansão feminina nos negócios
é conseqüência das mudanças sociais
do século 21. "Cada vez mais as mulheres ocupam
espaços primeiramente masculinos, tanto em empregos
formais como em empreendimentos."
A pesquisa dividiu os empreendedores entre os que abrem um
negócio por necessidade de sustento e aqueles que o
fazem para aproveitar uma oportunidade de mercado. Enquanto
a maioria das mulheres empreende para se sustentar (63%),
entre os homens o percentual é de 38%.
"As mulheres do Brasil estão indo à luta,
por necessidade. Mas, com certeza, quanto mais o país
se desenvolver, mais elas vão empreender por oportunidade",
afirma o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto.
Para a coordenadora do projeto GEM, Simara Greco, os empreendimentos
por necessidade são mais freqüentes entre as mulheres
porque muitas delas precisam conciliar as atividades domésticas
e o cuidado dos filhos com o negócio. "Acaba se
tornando uma atividade secundária para elas, apenas
para complementar a renda."
O Brasil no GEM
Sem considerar a distinção por gênero,
o Brasil passou de décimo para nono colocado no ranking
do GEM de 2007. Ao todo, o país possui 15 milhões
de empreendedores iniciais.
Um dado do estudo que não agradou aos analistas foi
que 46% desses empreendedores brasileiros não pensam
em contratar funcionários ao longo de cinco anos -a
média mundial é 30%. Apenas 3% deles têm
intenção de empregar mais de 20 pessoas.
Para Barone, essa visão é conseqüência
da legislação trabalhista. "Antes de contratar,
o empresário lembra que a Justiça do Trabalho
brasileira sempre prejudica o empregador."
Marina Gazzoni
Folha de S.Paulo
Seade vê baixa escolaridade
e SP muda viés
de capacitação
Entre trabalhadores de 30 a 44 anos, 40% não têm
ensino fundamental completo
Pesquisa mostra redução acentuada de vagas
na agropecuária e dificuldade de encontrar mão-de-obra
mais educada para serviços
Entre os paulistas com mais de 15 anos, 42% não têm
o ensino fundamental completo. O percentual sobe para 54%
entre as pessoas entre 45 e 49 anos e é de 40% entre
os que têm de 30 a 44 anos, faixas que concentram os
trabalhadores.
No Estado mais rico do país, 50% dos empregados com
carteira assinada têm hoje idades entre 30 e 49 anos.
Além de serem pouco escolarizados, eles se concentram
na faixa que mais sofre com as mudanças no mercado
de trabalho.
Por causa da redução da taxa de fertilidade
no Estado (hoje em um patamar considerado de "reposição",
de 2,1 filhos por mulher), a economia paulista ficará
cada vez mais dependente dessa mão-de-obra com idade
um pouco mais avançada.
Basicamente, hoje os trabalhadores dessa faixa saem em massa
do setor agropecuário, onde a escolaridade exigida
é mínima, para tentar vagas em profissões
que demandam -cada vez mais- ao menos saber ler e escrever
e fazer as quatro operações matemáticas.
Esse diagnóstico sobre o mercado de trabalho paulista
e suas mais recentes mudanças foi apresentado ontem
pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise
de Dados) e realizado por encomenda da Sert (Secretaria do
Emprego e Relações do Trabalho).
Participaram ativamente do trabalho, inclusive confirmando
as tendências encontradas na pesquisa, 625 municípios
do Estado.
As conclusões devem orientar uma alteração
importante no atual sistema de treinamento de mão-de-obra
no Estado. Do total de 200 horas hoje destinadas à
capacitação de pessoal para profissões
onde a demanda é crescente, 120 horas serão
destinadas exclusivamente à reeducação
básica.
Na apresentação dos resultados, a diretora-executiva
da Fundação Seade, Felícia Reicher Madeira,
afirmou que faltavam diagnósticos mais precisos para
orientar as políticas no setor.
"Entre 2005 e 2007, foram oferecidos cerca de 10 mil
cursos gratuitos pelas administrações municipais
no Estado de São Paulo, totalizando mais de 800 mil
vagas. A despeito de tais esforços, permanece um mistério
o impacto desses cursos na trajetória ocupacional dos
participantes", disse.
Sobe-e-desce
Entre homens e mulheres em todo o Estado, os setores de pior
desempenho em termos de criação de vagas em
2007 foram, entre outros, o da cana-de-açúcar
e de cultivo de árvores frutíferas, seguidos
pelo agropecuário em geral.
Na contramão, as vagas formais aumentaram mais rapidamente
na construção civil e no setor de serviços
como um todo, área cada vez mais exigente em termos
de escolaridade.
Em termos absolutos, o setor de serviços já
representa mais de 66% do PIB (Produto Interno Bruto) do Estado.
A fatia da indústria é de 31,7% e a da agropecuária
está restrita hoje a menos de 2% do total.
Em termos geográficos, apenas 38 municípios
do Estado concentram 75% do PIB paulista, o que pode permitir
um direcionamento mais efetivo para essas regiões das
novas políticas para a capacitação de
mão-de-obra no Estado.
Reeducação
Segundo o titular da Secretaria do Emprego e Relações
do Trabalho, Guilherme Afif Domingos, o Estado de São
Paulo pretende aplicar a nova sistemática envolvendo
mais "banco escolar" entre 30 mil pessoas em 2008.
O número subiria para 60 mil em 2009 e atingiria 90
mil até 2010.
A reeducação deve ocorrer em parcerias com
o Centro Paula Souza, o Centro Federal de Educação
Tecnológica de São Paulo e os integrantes do
chamado sistema "S" (Sesc, Senai e Sesi, entre outros).
A idéia é que essas entidades forneçam
os professores. Em alguns casos, as salas de aula serão
tomadas de empréstimo de universidades privadas em
horários de ociosidade.
Fernando Canzian
Folha de S.Paulo
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