Entre
dez países, Brasil é o que tem a maior proporção
de jovens entre os desempregados
Estudo do Ipea mostra que melhora no mercado de trabalho
nos últimos anos foi menor entre aqueles que têm
entre 15 e 24 anos
A taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos é
3,5 vezes a dos adultos, revela estudo divulgado ontem pelo
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A publicação
mostra que o Brasil lidera o ranking de maior proporção
de jovens entre os desempregados em uma lista de dez países,
que inclui Argentina, México, Alemanha, Espanha, Itália,
França, Grã-Bretanha, Suécia e Estados
Unidos.
Em 2005, os jovens representavam 46,6% do total de desempregados,
um patamar superior ao de países como México
(40,4%) e Argentina (39,6%). Segundo o estudo, não
apenas a taxa de desemprego dos jovens no Brasil cresceu ao
longo dos últimos 15 anos como ainda avançou
mais do que a taxa de desemprego dos trabalhadores adultos.
"Os jovens representam uma proporção cada
vez maior dos desempregados", diz o estudo.
De acordo com Roberto Gonzalez, pesquisador do Ipea, uma das
hipóteses que justificam a maior dificuldade dos jovens
para ingressar no mercado de trabalho é o preconceito
das empresas em relação aos trabalhadores menos
experientes. "O mercado de trabalho melhorou no Brasil
nos últimos anos, mas a melhora foi menor entre os
mais jovens, o que justifica a necessidade de políticas
públicas para tentar assegurar o lugar desses trabalhadores
no mercado", disse.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
corroboram a percepção de que, de fato, ficou
mais difícil para o jovem de 15 a 24 anos encontrar
trabalho.
Segundo Cimar Pereira, gerente da PME (Pesquisa Mensal de
Emprego), a participação dos jovens no total
de desempregados nas seis maiores regiões metropolitanas
do país passou de 45,7% em março de 2002 para
46,8% em março deste ano. Em março de 2002,
22,9% da população em idade ativa tinha de 15
a 24 anos. Em março deste ano, esse patamar caiu para
19,4%. "Houve um aumento claro da desocupação
nessa faixa etária", resume.
O desemprego entre jovens não é um problema
restrito ao Brasil. Nos países europeus, a taxa de
desemprego dos jovens começou a crescer nos anos 1980.
Nos anos recentes tem havido uma pequena reversão desse
fenômeno, motivada tanto pelo menor desemprego juvenil
como pela redução da população
economicamente ativa nestes países.
Para o Ipea, a demissão dos trabalhadores mais jovens
é de menor custo em razão do valor das indenizações.
Além disso, são normalmente menos experientes
e considerados "menos essenciais" para as empresas.
Há também aspectos como a alta rotatividade
característica dessa etapa da carreira.
"Como o jovem, por definição, está
tendo suas primeiras experiências no mundo do trabalho,
seria "normal" que ele circulasse por vários
empregos como forma de acumular conhecimentos e experiência,
supondo-se que mais tarde isso contribuiria para ele estabilizar-se
em uma ocupação determinada", afirma o
estudo.
Para Lígia Cesar, da MCM Consultores, um dos fatores
que dificultam a entrada dos jovens no mercado é a
rigidez das leis. "Isso prejudica o acesso do trabalhador
com menos experiência. Do ponto de vista do empregador,
ele tem de arcar com um custo alto para contratar alguém
com menos experiência do que os demais."
A taxa de desemprego entre os jovens no Brasil foi estimada
pelo Ipea em 19% em 2005, um patamar superior ao de anos anteriores.
Em 2000, o percentual era de 18% e, em 1995, de 11%. Segundo
o Ipea, a alta taxa de desemprego mesmo na faixa abaixo de
17 anos indica que grande parte das famílias não
tem meios de manter os jovens fora do mercado de trabalho
até a conclusão do ensino médio.
"O que acontece para a maioria dos jovens de famílias
trabalhadoras e de baixa renda é que eles ficam circulando
entre ocupações de curta duração
e baixa remuneração, muitas vezes no mercado
informal. Além de não favorecer a conclusão
da educação básica, essa experiência
é, na maior parte das vezes, avaliada negativamente
pelos empregadores."
O estudo conclui que políticas de emprego não
devem apenas ser julgadas pela capacidade de colocar o jovem
em um posto de trabalho, mas devem também avaliar até
que ponto a experiência de trabalho permite adquirir
novos conhecimentos. "É fundamental que políticas
de emprego desenvolvam estratégias destinadas a romper,
e não a reforçar, as barreiras sociais que se
colocam frente a estes jovens", diz.
Antônio Góis
Janaina Lage
Folha de S.Paulo
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