Universidade
planeja acabar com prova em 2008, abrir vagas e criar ciclo
básico de 3 anos para todos os alunos
A Universidade Federal da Bahia (UFBA) quer ser a primeira
universidade pública do País a acabar com o
vestibular. Recém-reeleito, o reitor Naomar Monteiro
de Almeida Filho dá como certo que o projeto já
estará valendo para os alunos admitidos em 2008.
'A tragédia do vestibular é que a pessoa decide
sua vida inteira num único dia', diz Almeida Filho,
o criador do sistema de cotas da universidade - desde 2005,
45% das vagas vão para negros e índios saídos
de escolas públicas.
Além de ambicioso, o projeto é complexo, pois
exigirá mudanças na estrutura da universidade.
Serão admitidos mais alunos que hoje, e os cursos ficarão
mais longos. Professores serão contratados. Haverá
um ciclo básico de três anos, igual para todos
os estudantes, de Dança a Medicina. É como se
o vestibular se diluísse em três anos. Só
depois disso, dentro da universidade, é que o curso
será escolhido. Arquitetura, por exemplo, durará
dois ou três anos.
Ainda não se sabe quantas vagas a universidade terá.
Hoje a UFBA tem 24 mil alunos e 2 mil professores, proporção
de 12 para 1. Segundo o reitor, o ideal é que haja
60 alunos para cada professor. Apesar do aumento, o novo número
de vagas não será suficiente para absorver todos
os recém-saídos do ensino médio (2º
grau), o que exigirá uma seleção. Em
vez do vestibular tradicional, será utilizado o Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem), prova elaborada pelo
Ministério da Educação para todos os
alunos do 3º ano do ensino médio. 'O Enem é
nacional, é gratuito e avalia o potencial', diz Almeida
Filho.
Segundo o reitor, os vestibulares precisam ser extintos porque
avaliam apenas o conhecimento acumulado, não o talento
dos estudantes. 'Eu dificilmente passaria no vestibular. Quer
dizer que não tenho condição de cursar
a universidade?', diz ele, que é médico. 'No
Enem, eu teria nota boa.'
Interdisciplinar
Os universitários cursarão três anos de
um ciclo básico, com liberdade para escolher as disciplinas
que quiserem, de todas as áreas. Isso, na visão
da UFBA, fará com que deixem de ficar limitados às
suas áreas e cegos às demais. Almeida Filho
lembra que era esse o plano do educador Anísio Teixeira
(1900-1971) ao idealizar a Universidade de Brasília
(UnB). 'A idéia só não foi adiante porque
os militares não deixaram. Não queriam universitários
com espírito crítico.'
Modelo semelhante é aplicada na recém-inaugurada
Universidade Federal do ABC, em Santo André (SP), onde
o ciclo básico é um bacharelado em Ciência
e Tecnologia. O sistema é parecido nos EUA e em países
da Europa.
Na UFBA, só passarão para os cursos pretendidos
os alunos que tiverem acumulado boas notas no ciclo básico.
Quem não passar não terá perdido tempo.
Receberá um diploma de bacharel.
O novo modelo ajudará a reduzir a evasão. Para
educadores, nem todos os estudantes têm maturidade para
escolher uma carreira aos 16 anos e, por isso, desistem do
curso no meio do caminho. Nos três anos iniciais, além
de mais tempo para decidir, os estudantes terão contato
com disciplinas de várias áreas.
Não será preciso construir prédios para
receber os novos alunos já que muitas salas ficam vazias
em certos períodos do dia. Porém, será
necessário dinheiro para a contratação
de professores.
O vestibular não é obrigatório. As universidades
têm autonomia para escolher a forma como selecionam
seus alunos.
Dezenas de especialistas estão envolvidos nas modificações,
que precisarão ser aprovadas pelo Conselho Universitário.
O reitor crê que não terá dificuldades.
Ele acaba de ser reeleito com 60% dos votos. O fim do vestibular
foi sua principal bandeira de campanha.
Ricardo Westin
O Estado S.Paulo.
USP poderá aplicar provas durante 2º grau
|