Segundo
pesquisa, em 2005, houve 1,05 milhão de abortos clandestinos,
contra 1,45 milhão em 92; razão está
em acesso à contracepção
A maior queda do número de abortos ocorreu até
o ano de 1997, quando o patamar se estabilizou em cerca de
1 milhão, segundo pesquisa
Nos últimos 13 anos, o número de abortos clandestinos
no país caiu 28%. Em 1992, a estimativa era que 1,455
milhão de mulheres abortaram por razões não-naturais.
No ano passado, o número estimado foi de 1,054 milhão.
O dado foi divulgado ontem no 15º Encontro Nacional de
Estudos Populacionais, que aconteceu nesta semana em Caxambu
(MG).
Para chegar a esses dados, os pesquisadores Mario Francisco
Giani Monteiro, da Uerj, e Leila Adesse, da organização
não-governamental Ipas, utilizaram a mesma técnica
desenvolvida pelo instituto norte-americano Allan Guttmacher
para tentar estimar o número de abortos induzidos em
países da América Latina. A pesquisa teve apoio
da área técnica de saúde da mulher do
Ministério da Saúde. A variação
do número de abortos induzidos ano a ano desde 1992
mostra que a queda aconteceu principalmente até 1997,
quando, a partir de então, o patamar ficou estabilizado
em torno de 1 milhão.
A principal explicação é a melhoria no
acesso a métodos contraceptivos das mulheres. Eles
lembram também que nesse período houve melhoria
significativa na escolaridade feminina. Como a educação
é o fator que mais influencia nas taxas de fecundidade
-quanto mais instruída é a mulher, menor o número
de filhos-, a hipótese é que uma geração
mais escolarizada teve mais condições de evitar
uma gravidez .
Monteiro destaca que essa prática -feita muitas vezes
em situação de risco para a saúde da
mulher- continua tendo um efeito importante na redução
na taxa de fecundidade da brasileira, que desde 2003 atingiu
o nível de 2,1 filhos, o que indica tendência
de mera reposição populacional. Para chegar
a essa conclusão, basta comparar o número estimado
de aborto com o de registro de nascimentos a cada ano. Em
2005, essa relação era de 29 abortos para cada
100 nascimentos. Em 1992, chegava a 43 por 100.
Quando se leva em conta o número da taxa de abortos
em relação à população
feminina de 15 a 49 anos, a queda da prática de abortos
desde 1992 fica ainda mais expressiva. Em 1992, 3,69% das
mulheres praticaram aborto induzido. Em 2005, essa proporção
caiu para 2,07%, o que significa uma redução
na taxa de cerca de 44%.
Para a médica Fátima de Oliveira, da Rede Feminista
de Saúde, as complicações por aborto
têm diminuído graças ao uso do Cytotec,
abortivo vendido clandestinamente.
Metodologia
Como a prática do aborto é ilegal no Brasil
-exceto em casos de estupro ou de risco à saúde
da mulher-, os registros oficiais na rede de saúde
legal são insuficientes para chegar a um número
próximo da realidade. Por isso o instituto Alan Guttmacher
(ONG americana que atua na área de direitos da mulher)
elaborou em 1994 uma metodologia que levasse a um patamar
mais realista.
Após pesquisar a questão, o instituto concluiu
que o número de mulheres que procuravam a rede legal
de saúde por causa de um aborto malfeito variava segundo
o grau de criminalização da prática no
país.
Para o Brasil, foi estimado que uma em cada cinco mulheres
que faziam aborto procurava a rede legal de saúde.
Em países com legislação mais liberal,
esse número chega a uma em três e, em menos liberais,
a uma em cada sete.
Antônio Gois
Folha de S.Paulo
Sem
diagnóstico, jovem morre por aborto malfeito
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