Imigrante
(RS) e Baraúna (RN) estão nos extremos da lista
do Ideb
Os avanços na Educação
Básica do País, mostrados nos últimos
dias com os números mais recentes do Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb), ainda deixam para trás boa parte do alunos
dos anos finais do ensino fundamental. Na 8ª série,
quase 40% das escolas não conseguiram atingir a meta
estabelecida em 2006 pelo Ministério da Educação
e um quarto dos municípios pioraram a sua situação
quando se compara o Ideb de 2007 e 2005. Entre os 100 que
estão em pior situação este ano, 58 caíram
em relação ao primeiro Ideb.
Veja
todos os números do Ideb e o desempenho
dos Estados
Os números divulgados pelo MEC mostram que o avanço
ainda se concentra nas séries iniciais. É na
4ª série que os resultados dos municípios
e das escolas são melhores. Hoje, há 739 escolas
brasileiras dessa série com Ideb 6 - considerado um
nível compatível com escolas de países
desenvolvidos -, mais do que com Ideb ruim. São apenas
542 com Ideb abaixo de 2. Na 8ª, a situação
é inversa: apenas 43 escolas - a maioria delas da rede
federal de ensino - têm média 6 ou superior.
Na ponta de baixo da tabela, com Idebs abaixo de 2, concentram-se
1.042 - ou 7,3% de todas as que participaram do Ideb de 2007.
As próprias notas dos municípios revela que
as 8ªs ainda precisam melhorar muito. Apenas 88 cidades
conseguiram fazer médias acima de 5, considerada boa
pelo MEC. Apenas 2 - Imigrante e Três Arroios (RS) -
alcançaram média 6.
As duas cidades gaúchas, com cerca de 3 mil habitantes,
têm perfis semelhantes, com população
pequena, homogênea a decisão de investir em educação.
Imigrante, a 136 quilômetros de Porto Alegre, chegou
a um Ideb de 6,1 graças tanto à sua condição
de pequeno, com poucos problemas sociais, quanto ao trabalho
coletivo e aos métodos educacionais que desenvolve
na Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Antônio.
Com apenas uma turma de 15 alunos na 8ª série,
o trabalho do município também foi facilitado.
O investimento necessário é menor e, como explica
a secretária municipal da Educação de
Imigrante, Edi Fassini, a proximidade das pessoas favorece
o trabalho conjunto, o planejamento, a troca de informações
e de ajuda entre professores e entre alunos.
A coordenadora regional de Educação, Rosana
Rührwien, atribui os bons resultados de Imigrante às
iniciativas da prefeitura. “O corpo docente faz sistematicamente
uma reflexão de sua prática pedagógica,
os alunos têm diversas atividades extracurriculares,
como projetos de leitura e música, canto e marcenaria,
podem optar por aulas de inglês, alemão e italiano,
as escolas trabalham o relacionamento de pais e filhos e a
informática é utilizada desde 1996.”
Em 2005, a cidade não havia participado do Ideb por
não ter alunos suficientes na 8ª série,
mas já tinha indícios de que o ensino da cidade
funciona. No ano passado, o estudante Tobias Lucian, da 7ª
série, foi medalha de ouro da Olimpíada Brasileira
de Matemática. “Nós tínhamos avaliações
internas, mas precisávamos nos posicionar no Ideb para
termos alguma referência em relação aos
demais municípios”, comentou a secretária
de Educação.
Na extremidade oposta do ranking do Ideb, o município
de Baraúna (RN) obteve, este ano, o título de
cidade com pior resultado do País, com apenas 1,5 -
ainda menor do que o 1,9 de 2005. Bem maior do que a campeã
Imigrante, com 23 mil habitantes, Baraúna também
é mais pobre, e enfrenta vários problemas sociais
que não afligem o município gaúcho, como
trabalho infantil e evasão escolar. Mas, com um Produto
Interno Bruto per capita de R$ 11.543 - próximo à
média nacional de R$12, 4 mil - e um Índice
de Desenvolvimento Humano médio, em 0,600, Baraúna
também não tem o perfil típico da cidade
miserável e sem recursos para cuidar de suas escolas.
A secretária de Educação, Núbia
Bezerra, afirma que seu município enfrenta as mesmas
dificuldades de outras cidades pobres do País. “Mas
estamos tentando reverter esses maus resultados.” A
evasão escolar e o baixo rendimento são, de
acordo com a secretária, os principais problemas encontrados
na educação do município. “A maior
parte das evasões ocorre porque os alunos têm
de optar entre trabalhar ou estudar. Muitas famílias
só têm a renda de programas como o Bolsa-Família”,
disse. “Além disso, muitos só vão
para a escola depois de passar o dia trabalhando e terminam
por ter um rendimento baixo.”
A secretária avalia que, se a educação
no município contasse com maior ajuda do governo ou
de empresas que exploram a fruticultura na região,
a situação poderia ser diferente. “Temos
educadores responsáveis que educam com amor, mas não
é só isso. A gente está tentando melhorar,
mas precisa de mais ajuda”, disse. O município
pretende criar aulas de reforço, mas só conseguirá
implantá-las, de acordo com Núbia, no início
do próximo ano. A evasão é combatida
com um grupo de 30 agentes que visitam as famílias
para tentar convencê-las da importância de manter
seus filhos na escola. A secretária acredita que ação
trouxe resultado, mesmo que o reflexo no Ideb não tenha
aparecido.
Correção
Diferentemente do publicado na edição de sábado,
3ª nota da pág. A35, as escolas da rede municipal
que ficaram em 4º lugar na lista das piores na 4ª
série, com Ideb de 1,8 - o mesmo de 2005 - não
são de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, mas do município
homônimo de Alagoas.
Lisandra Paraguassú e
Elder Ogliari, PORTO ALEGRE;
Éverton Dantas, NATAL
O Estado de S.Paulo
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