Degradação
facial do fumante é 3,5 vezes mais rápida, indica
estudo
A vaidade é o novo argumento dos médicos no
combate ao fumo. Estudo da Santa Casa de São Paulo
quantificou o envelhecimento da pele com a ação
do cigarro. E calculou as chances de o fumante ter problemas
estéticos com a idade.
Uma das conclusões da pesquisa da Santa Casa tem tudo
para perturbar até os menos vaidosos - o envelhecimento
facial do fumante é 3,5 vezes mais rápido em
relação ao não fumante. "Queremos
usar a estética para atingir o fumante", diz o
dermatologista Marcus Maia, coordenador do trabalho, publicado
na última edição dos Anais Brasileiros
de Dermatologia, maior referência científica
brasileira na área. "Há anos coordeno campanhas
da Sociedade Brasileira de Dermatologia e não vejo
progressos, o número de fumantes nunca cai significativamente."
A dermatologista Mirian Marques, médica-assistente
da Central de Laser do Instituto do Coração
(Incor), concorda. "Tenho muitas pacientes que só
pararam de fumar quando souberam que o cigarro envelhece."
Rugas profundas ao redor dos olhos, da boca e nas bochechas
são os primeiros sintomas da ação do
cigarro (veja quadro ao lado). "Na pele do fumante, a
fase das ruguinhas quase nunca existe. Os primeiros sinais
são vincos grossos", conta Maia.
Vaso apertado
O cigarro provoca vasoconstrição - um só
cigarro mantém o vaso contraído por cerca de
90 minutos. Com menos espaço para o sangue circular,
a pele recebe menos oxigênio e as rugas se formam. Não
só isso. A diminuição na quantidade de
sangue faz com que a pele fique desbotada.
A falta de sangue também age na camada de gordura
da pele, que fica embaixo da derme. Com menos oxigênio,
o número de células gordurosas diminui. No rosto,
isso não é bom, já que a gordura ajuda
na sustentação da pele. O resultado são
ossos saltados e bochechas aprofundadas.
Uma das explicações para a vasoconstrição
é a nicotina agir no sistema nervoso simpático,
região responsável pela estimulação
de ações que permitem ao organismo responder
a situações de estresse, como aceleração
dos batimentos cardíacos, aumento da pressão
e da adrenalina.
A nicotina também estimula a agregação
das plaquetas, parte do sangue responsável pela coagulação.
Na prática, o sangue fica mais viscoso e com mais dificuldade
de circular.
O estudo da Santa Casa analisou 77 voluntários com
idade de 40 a 60 anos. A maioria fumava havia mais de dez
anos. Os grupos foram divididos por duas cores de pele, branca
e negra. Os negros são mais resistentes às rugas.
"A pele negra tem mais melanina (pigmento que faz as
vezes de filtro solar) e colágeno (camada de sustentação
da pele)", explica Mirian, do Incor. "O cigarro
afeta a fabricação do colágeno."
Não há dados exatos sobre a reversibilidade
das rugas. "A vasoconstrição pode melhorar
um pouco depois de alguns meses sem nicotina no corpo. Mas
o colágeno não é mais reconstituído",
alerta Mirian.
A analista de sistemas Eliana Ponte, de 45 anos, que parou
de fumar há um ano, sentiu algumas diferenças.
"Não vi diferença nas rugas. Mas ganhei
cor."
Adriana Dias Lopes
Estado de S.Paulo
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