Para
o governador do Rio, interrupção da gravidez
está relacionada à redução da
violência
Para ele, rede pública teria de oferecer condições,
já que mulheres de melhor poder aquisitivo acabam pagando
por procedimento
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho
(PMDB), pai de cinco filhos, defendeu ontem a legalização
do aborto como forma de conter a violência no Estado
e afirmou que as taxas de fertilidade de mães faveladas
são uma "fábrica de produzir marginal".
Segundo o governador, 44, existem "dois brasis",
um de padrão de países nórdicos, como
a Suécia, e outro com nível de pobreza comparável
a países miseráveis africanos.
"Não tenho a menor dúvida de que o aborto
[como política pública] pode conter a violência.
Eu particularmente não sou a favor do aborto",
declarou ontem em encontro de agentes de viagem na Barra da
Tijuca.
De acordo com Cabral, parte das mães moradoras de áreas
carentes "estão produzindo crianças, sem
estrutura, sem conforto familiar e material". Ele disse
lamentar o fato de essas mulheres não receberem "orientação
do governo em questões de planejamento familiar"
dos órgãos de saúde.
Em entrevista levada ao ar ontem pelo site G1, o governador
havia dito: "A questão da interrupção
da gravidez tem tudo a ver com a violência. Quem diz
isso não sou eu, são os autores do livro "Freakonomics"
[Steven Levitt e Stephen J. Dubner]. Eles mostram que a redução
da violência nos EUA na década de 90 está
intrinsecamente ligada à legalização
do aborto em 1975 pela Suprema Corte", citou [na verdade,
foi em 1973].
"Sou favorável ao direito da mulher de interromper
uma gravidez indesejada. Sou cristão, católico,
mas que visão é essa? Esses atrasos são
muito graves. Não vejo a classe política discutir
isso. Fico muito aflito. Tem tudo a ver com violência.
Você pega o número de filhos por mãe na
Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana,
é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É
padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma
fábrica de produzir marginal. O Estado não dá
conta. Não tem oferta da rede pública para que
essas meninas possam interromper a gravidez. Isso é
uma maluquice só", afirmou ao site.
Questionado à tarde pela Folha se mulher de alto poder
aquisitivo não dá à luz a filho marginal,
ele respondeu, irritado, que não é uma questão
de "mãe rica ou mãe pobre".
"A mulher tem o direito de interromper uma gravidez indesejada.
É assim em Portugal, na Espanha, no Japão e
nos Estados Unidos. Por que não pode ser assim no Brasil?",
indagou o governador peemedebista.
Segundo Cabral, a mulher de classe média vai a uma
clínica de aborto ilegal que "todo mundo sabe
onde fica" e faz um aborto "relativamente seguro".
Já as "meninas da favela vão para onde?"
"Vamos parar com hipocrisia. Temos de oferecer oportunidade
de a rede de saúde pública dispor de qualidade
para interromper a gravidez."
Questionado mais uma vez se a prática do aborto ajudaria
a conter a violência, Cabral optou por uma resposta
mais abrangente. "Está tudo dentro de um conjunto
de ações."
"Quis dizer que este ponto do aborto é um desrespeito
às mulheres. Cerca de 200 mil procuram a rede pública
para tratarem de problemas relacionados aos abortos mal feitos.
Oficiosamente, o número chega a 1 milhão anualmente
no país."
Folha de S.Paulo
Veja a relação
entre a queda da taxa de fertilidade e a redução
da violência:
Pílula
contra o aborto
O
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Aborto
reduz o crime?
Relação
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contra gravidez precoce
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federal anuncia anticoncepcional a R$ 0,40
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