Encravada
no Vale do Ribeira, região mais pobre do Estado, a
pequena Barra do Chapéu (370 km de SP) conseguiu o
título de melhor quarta série do país
por meio do acompanhamento integral dos alunos, turmas pequenas,
serviço de reforço, tira-dúvidas e investimento
em leitura e escrita.
Com cerca de 4.900 habitantes, só 24 ruas asfaltadas
e renda baseada na agricultura, o município obteve
média 6,8 no Ideb. A média nacional, como comparação,
é de 3,81. A quarta série é formada por
filhos de famílias humildes, muitos com pais analfabetos.
A rede municipal da cidade, com 680 alunos, é enxuta:
há apenas uma escola de 1ª à 4ª série
-a Leonor Mendes de Barros, que tem mais seis unidades espalhadas
na área rural, algumas dentro de escolas estaduais.
Uma diretora e uma coordenadora pedagógica cuidam de
todas, que seguem a mesma metodologia.
O olhar atento dos educadores, porém, é apenas
uma das dezenas de explicações para o sucesso
de Barra do Chapéu. Na Leonor e suas "filiais",
a média é de 25 alunos por classe, o que permite
aos professores acompanhar cada um. Além disso, o mesmo
docente fica com a mesma turma da segunda até a quarta
série e o material é preparado pela equipe da
escola.
A meta do colégio é fazê-los tomar gosto
pela leitura e pela escrita. "No fim da primeira série,
todo mundo aqui tem de saber ler e escrever", diz Nilza
Ribas, coordenadora pedagógica.
Uma tática é trabalhar a reescrita: pega-se
um texto com erros de um aluno e todos da sala o reescrevem
corretamente.
Avaliações constantes
Os alunos são avaliados a cada 15 dias por suas professoras
e bimestralmente pela direção. Os que apresentam
dificuldades recorrentes, que não estão sendo
solucionadas na classe, são encaminhados para o reforço
-dentro do período de aula, de cinco horas diárias.
Lá, uma professora trabalha com estudantes de várias
idades, com recursos diferentes do da aula normal, como jogos
de palavras, entre outros.
Foi assim que Gabriel resolveu seu problema: toda vez que
ele ouvia palavras como manta, santo ou tanta, sua cabeça
dava um nó. Aos 10 anos, na quarta série, ele
ainda se confundia com a forma de escrevê-las. Vira-e-mexe,
grafava "mãota, sãoto ou tãota".
Assim que percebeu a dificuldade dele, sua professora o encaminhou
para as oficinas de reforço. Agora, ele não
erra mais.
Segundo a coordenadora pedagógica, fazer o aluno avançar
de série com a certeza de que assimilou o conteúdo
ensinado é essencial na cidade. "Adotamos a progressão
continuada mas os meninos não mudam de série
sem aprender", diz Nilva. "E, se no fim da quarta
série, ainda tiver com algum problema, a gente retém."
No ano passado, foram quatro reprovações na
quarta série.
Os aprovados seguem para a quinta série, na Escola
Estadual Paulo Francisco de Assis, que fica do outro lado
da rua. Lá a realidade é diferente. Com média
4,1 no Ideb (o que a coloca na 623ª posição),
a rede estadual da cidade tem cerca de 40 alunos por sala.
"Fica difícil fazer um trabalho tão individualizado
aqui", afirma o diretor, Valderi Luiz Vidal Cézar.
"Apesar de termos ensino integral [são 9h diárias
de aula], precisaríamos de mais professores para o
trabalho render mais."
Só 0,8% das cidades do país têm ensino considerado ideal
Daniela Tófoli
Folha de S.Paulo
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