É
o que mostra estudo realizado pela Unesco no País
A culpa é do aluno. Professores, pais, diretores, coordenadores
e até o próprio estudante acreditam que, se
a criança não aprende, a maior parte da culpa
é dela mesma. Esse é o quadro que sai do estudo
“Repensando a escola: um estudo sobre os desafios de
aprender, ler e escrever”, divulgado ontem pela Organização
das Nações Unidas para Educação,
Ciência e Cultura (Unesco). Com maior ou menor intensidade,
a escola culpa o aluno e seus pais pelas deficiências
na capacidade de ensinar.
“Pode-se afirmar que, se a escola deseja transferir
a culpa pelo fracasso aos alunos, nisso consegue ter amplo
êxito, pelo menos nas séries iniciais do ensino
fundamental. Com maior freqüência, as falas atribuem
a responsabilidade aos próprios discentes (alunos)
e às suas famílias. Os pais não ajudam
ou a criança não aproveita”, diz o documento.
A medida para ser um bom aluno está no esforço
e na disciplina em sala de aula.
A pesquisa da Unesco foi feita por amostragem em dez Estados,
apenas em escolas públicas, com alunos da 4ª série
do ensino fundamental. Há uma parte quantitativa, de
questionários respondidos por alunos, professores,
diretores e funcionários de cargos técnicos
(coordenadores de área, pedagógicos, etc.) e
outra qualitativa, com entrevistas, que incluíram também
os pais dos estudantes.
Entre os professores, quase 40% consideram que, se um aluno
não passa de ano, a culpa é dele mesmo. Outros
24% acreditam que a culpa é dos pais. Mas apenas 2%
reconhecem algum tipo de responsabilidade. Cerca de um terço
dos diretores e técnicos também considera que
a culpa é do aluno, mas metade deles acredita que a
escola é a verdadeira responsável.
“É uma carga tremenda para uma criança.
Uma situação em que os adultos se eximem da
culpa e a transferem para o lado mais fraco. Ela carrega a
culpa por todo o fracasso. Desse jeito não se aprende,
não se educa”, diz Cândido Gomes, um dos
autores do estudo.
A cobrança vem também da família, que
é cobrada pela escola. A maior parte dos professores
também culpa pais e mães pelo fracasso escolar
do filho e considera que não há participação
suficiente ou, pelo menos, acha que o aluno não irá
adiante porque a família não tem como ajudar.
O estudo mostra, porém, que, na maioria dos casos,
é na família que a criança encontra ajuda
quando precisa. A escola aparece apenas em 4º lugar.
“Essa cobrança está, muito freqüentemente,
acima da realidade. Na verdade, a escola dá pouco apoio
e é na família que a criança encontra
ajuda”, comenta o pesquisador.
Escola Chata
A escola que aparece no estudo é chata, sem
sentido e não consegue passar para seus estudantes
o porquê de aprender a ler e escrever e, principalmente,
de fazer aquelas tarefas. Nas entrevistas qualitativas, os
alunos apontam como principal - e praticamente única
- razão para estudar a necessidade de precisar da leitura
para trabalhar.
Mais do que isso, não conseguem entender as tarefas
que lhes são dadas na escola. Os exercícios
de cópia, por exemplo, aparecem como um castigo: quando
a turma está bagunçando, a professora dá
cópias para fazerem. “O aluno com facilidade
aprende. Para os outros, sobra a bagunça. Professores
e estudantes não se entendem”, afirma Gomes.
É justamente como o estudante que se esforça
para aprender e é disciplinado que o professor vê
o bom aluno. Apesar de não considerar “obedecer
ao professor” um dos quesitos principais, a tradução
de “ser disciplinado” é, segundo o estudo,
justamente não fazer bagunça.
Para o estudante, o perfil vai além: a criança
acha que não deve fazer perguntas demais ou duvidar
do professor. “O aluno tem de ser recebido com afeto
e valorização; a escola tem de estar sintonizada
com a realidade do aluno; a criança tem de saber por
que está aprendendo. É um sistema que tem de
mudar', resume Gomes.
Veja a pesquisa na íntegra
Lisandra Paraguassú
O Estado de S.Paulo
Entrevista com a diretora da escola paulista mais bem avaliada
pelo Ideb
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