Mesmo
com a ameaça do subemprego, jovens brasileiros têm
esperança de vencer em países do primeiro mundo
As longas esperas, muitas vezes em vão, para conseguir
um visto para os EUA e a nova lei contra a imigração
ilegal aprovada pelo Parlamento europeu comprovam: sair do
Brasil e morar no exterior parece cada vez mais difícil.
Segundo o texto da nova lei européia, um imigrante
ilegal pode ser detido por até 18 meses e proibido
de voltar a qualquer país do bloco por até cinco
anos.
Mas nada disso parece assustar os 42% de jovens brasileiros
que, segundo o Datafolha, querem sair do país -e ficar
para sempre fora das fronteiras tupiniquins.
Para Bruna Nunes, 27, que faz mestrado em Bilbao, na Espanha,
muitos dos brasileiros que querem deixar o país têm
a ilusão de que a vida no exterior será fácil.
A jovem, que já lavou pratos e foi camareira em Barcelona,
diz que as condições sociais não são
tão igualitárias quanto se imagina no Brasil,
mesmo para quem está em situação legal.
Além do problema da inclusão social, há
as questões financeiras e a dificuldade de encontrar
um trabalho fora do subemprego para quem não tem cidadania
européia.
A brasileira Marcela Canavarro, 25, que mora em Nova York,
compartilha da opinião de Bruna. Segundo a jornalista,
os nova-iorquinos falam do Brasil como o "país
pobre que deu certo", e ela própria se surpreendeu
ao ouvi-los dizer que deve ser o melhor país do mundo
para morar. Marcela afirma ter mudado sua perspectiva sobre
o Brasil.
Subemprego
Quando, em 2001, Isabella Bolfarini, 29, formou-se em direito,
resolveu se especializar em direitos humanos, área
ainda incipiente no Brasil, e acabou fazendo mestrado na Bélgica
e doutorado em Paris. Para se sustentar, fazia faxina. A flexibilidade
do subemprego era, para a jovem, a melhor forma de poder estudar.
Nina Serebrenick, 23, também saiu do país em
busca de um tipo de educação diferente da brasileira.
Ela, que considera "a educação de arte
no Brasil muito tradicional", foi em 2006 estudar em
Londres numa academia de arte. "É para você
ser um artista, e não um especialista em arte."
Hoje em Amsterdam, Nina já trabalhou numa padaria e
começou há pouco tempo numa loja de relógios.
Diferentemente dos jovens ouvidos pela pesquisa Datafolha,
Nina e Isabella saíram do país com o objetivo
de voltar. "Se eu tivesse certeza de que no Brasil existe
uma escola de arte tão boa quanto as daqui, nem teria
saído", diz Nina.
Juliana Lugão
Folha de S.Paulo
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