É
um preservativo de um novo tipo que acabou provocando um escândalo
político. Em março, a Hindustan Latex Limited
(HLL) lançou o Crezendo, uma caixa que contém
diversos preservativos, os quais são dotados na sua
base de um anel vibrador e vêm acompanhados de um passaporte
que inclui um carimbo do visto "Commonwealth - Associação
de Territórios - do 7º Céu".
Algumas semanas mais tarde, Kailash Vijayvargiya, o ministro
de questões públicas de Madhya Pradesh, um Estado
do centro da Índia, afirmou indignado que aquilo era
um escândalo e exigiu a proibição do preservativo,
considerado como "um brinquedo sexual, contrário
à moral e às tradições indianas".
Em vão, uma vez que o ministro indiano da saúde
incentivou finalmente o fabricante indiano e louvou a sua
inventividade.
Por trás deste escândalo político esconde-se
uma concepção de marketing revolucionária
do preservativo, a qual, aliás, está na origem
do sucesso desta empresa pública. Após ter escapado
por pouco da falência, há trinta anos, a HLL
está prestes a se tornar o segundo fabricante mundial
do setor. Ela desenvolveu produtos adaptados ao mercado local,
e às situações por vezes constrangedoras
enfrentadas pelos seus usuários.
Assim, os preservativos da HLL são perfumados com
fragrâncias de jasmim, de almíscar, de rosa ou
ainda de pan massala, uma especiaria muito apreciada neste
país. A HLL também foi a primeira a se preocupar
com o caso dos homens que sofrem de problemas de ereção,
lançando no mercado o preservativo "all night"
(noite inteira), que supostamente é capaz de garantir
a ereção por uma longa duração.
Além disso, para aqueles que se sentem perdidos em
meio à escuridão do seu quarto, o preservativo
fluorescente põe um fim às suas preocupações.
Parto a R$ 90
O fabricante indiano também investiu na tecnologia
do preservativo. Os engenheiros da companhia desenvolveram
máquinas de testes, e, para a terceira fábrica,
que em breve será inaugurada em Thiruvananthapuram,
no sul da Índia, eles conceberam as próprias
máquinas de produção.
Os novos preservativos foram comercializados no quadro de
uma campanha publicitária de grande vulto. Por ocasião
do lançamento, os outdoors traziam os dizeres: "A
única vez em que ela apreciará as fricções
na relação do casal", ou ainda, "A
única vez em que ela não se queixará
de que você está atrasado".
E deu certo: a HLL em breve vai produzir 1,5 bilhão
de preservativos, por um faturamento anual de cerca de 50
milhões de euros (cerca de R$ 130 milhões),
ou seja, o dobro daquele de 2001. O seu objetivo é
de alcançar um faturamento de 200 milhões de
euros (pouco mais de R$ 520 milhões) em 2010, contando
com um mercado interno em pleno crescimento (70% da população
indiana tem menos de 30 anos).
A HLL pensa até mesmo naqueles que não utilizam
preservativos. Para eles, a companhia implantou um programa
de construção de hospitais nos quais as diferentes
etapas do parto custarão apenas 35 euros (R$ 90), "tarifa
que inclui três dias de hospitalização",
diz M. Ayyappan, o diretor geral da companhia. Estes estabelecimentos
de um novo tipo, concebidos para tornar-se "clínicas
privadas de baixo custo" - subentendido, de melhor qualidade
do que os hospitais públicos, porém mais em
conta do que os hospitais privados -, estão instalados
em áreas semi-rurais, na periferia das cidades médias,
e não contam mais do que 25 leitos.
Por fim, a companhia indiana também pretende conquistar
os mercados externos. Ela já está atuando em
70 países, e vende 120 milhões de preservativos
por ano no continente africano. Daqui para frente, ela quer
conquistar a Europa, lançando mão do método
que deu tão certo para ela até agora. Atendendo
a um pedido de um distribuidor francês, a HLL vai fabricar
o primeiro preservativo com perfume de chiclete para o mercado
hexagonal. Os fabricantes franceses deveriam pensar em se
preparar para enfrentar esta tremenda concorrência.
Julien Bouissou
Correspondente em Nova Déli
Tradução: Jean-Yves de Neufville
Le Monde
As informações são do Portal UOL.
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