Esticada
no tatame, pernas sobre uma almofada e braço cobrindo
os olhos, a agente de turismo Mariana faz, de 21 anos, dorme
profundamente numa espécie de tenda, no porão
do restaurante Bello-Bello. São 13h30 na movimentada
Rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros. Mariana dorme a sono solto.
Quando acorda, pega bolsa e casaco e sai, apressada, bocejando.
Na sua hora de almoço, ela come e tira uma soneca.
É de lei. Bastam de 15 a 20 minutos e está refeita,
pronta para o batente na agência de ecoturismo onde
trabalha. O celular toca. É o chefe. “Estou chegando”,
avisa. Como Mariana, muitas pessoas descobriram o endereço
para tirar um cochilo, depois do almoço. E há
outros restaurantes na cidade onde se pode, senão dormir,
ao menos descansar.
No Chácara Santa Cecília, em Pinheiros, pode-se
escolher entre o grande sofá do salão, os bancos
no meio do bosque, redes e até uma cama que fica num
mezanino, sob as árvores, para tirar uma pestana. No
Tantra, na Vila Olímpia, o relaxamento vem em forma
de massagem hora do almoço. No Chakras, nos Jardins,
há mais camas do que mesas. Mas a idéia é
que se aproveite o espaço para descontrair, e não
exatamente dormir.
Não é difícil achar o Bello- Bello,
perto da Praça Benedito Calixto. Fachada e paredes
vermelhas, deck na calçada, fotos de divas do cinema
por toda parte. As pessoas se servem no balcão e conversam
animadamente nas mesas.
No porão, em um salão de piso de cimento, fica
a tenda, com quatro tatames, mesa e luminária que dá
ao ambiente uma cor alaranjada, como a dos futons –
colchonetes feitos na medida para relaxar. Incenso e sons
de água correndo ajudam. Para Mariana, tudo isso é
dispensável. “Tô com sono atrasado, durmo
em qualquer lugar.” Muita balada? “Exato.”
Sócios de um escritório de arquitetura, Margaret
Candossim e Celso Cabana Prado fizeram até convênio
com o restaurante para que seus 15 funcionários tenham
desconto. Os dois dão o exemplo, estirando-se nos tatames
depois do almoço. “Nosso trabalho exige muita
criatividade. Este é o momento de relaxar e desligar
de projetos”, diz Margaret.
A dona do restaurante Salete Ebone, de 40 anos, é
de Passo Fundo (RS), ondese importou da Itália o hábito
de dormir depois do almoço, popularizado pelos espanhóis.
Há quatro anos e meio, ao abrir a casa, ela pendurou
redes no porão. “O pessoal não curtiu.”
Em agosto, criou a tenda árabe, que emplacou. Às
vezes, alguém capota. Salete dá um tempo, depois
avisa: “Olha, são 3 horas, você não
tem de trabalhar?”
Na semana passada, Raquel Juciléia Costa, de 33, e
Talita Batalha, de 21, dividiamumtatame. Detalhe: Raquel é
dona da Cropharma, empresa de consultoria clínica onde
as outras trabalham. O gerente financeiro Wagner Silva, de
30, ficou
na entrada da tenda, só olhando, cheio de vontade.
“Vou me esticar um pouco”, decidiu, afinal. “Só
falta uma massagem.”
A idéia da sesta pegou tanto que Salete já
pensa em reformar a sala de TV, substituir o conjunto de sofás
de gosto duvidoso, forrado de pele de oncinha, por um tapete
macio, pufes e almofadões. Com direito a ursos de pelúcia,
para quem
não gosta de dormir sozinho.
ROSA BASTOS
do Estado de S. Paulo
Endereços
Bello-Bello: Rua Teodoro Sampaio, 1.097,
Pinheiros. Tel: 3088-2242. Tem espaço para descanso
com tatames, colchões, música relaxante e incenso
Chakras: Rua Dr. Mello Alves, 294, Jardins.
Tel: 3062-8813. Oferece sofás e camas para se deitar
e rolar, não dormir
Chácara Santa Cecília: Rua
Ferreira de Araújo, 601, Pinheiros. Tel: 3034-3910.
Tem bancos de jardim, sofás, camas e redes
Tantra: Rua Chilon, 364, Vila Olímpia.
Tel: 3846-7112. Na hora do almoço, oferece shiatsu
gratuitamente para clientes estressados
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