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Retratos
gigantes de afrodescendentes, como Castro Alves, são
colocados em fachadas de prédios em São Paulo
No mês de novembro, as ruas
paulistanas viram uma galeria a céu aberto, ao receber
imensos retratos de brasileiros negros, que marcaram a história
do País. Eles serão instalados em 20 prédios
públicos e particulares, como o Teatro Municipal e
o Instituto Itaú Cultural, em forma de banners de 5
metros de altura. Os primeiros retratos começaram a
ser instalados ontem. A foto da compositora Chiquinha Gonzaga
- que escreveu, entre outras canções, a marchinha
Ó, Abre Alas - foi pendurada na Sala São Paulo,
no centro, e a do engenheiro Teodoro Sampaio, fundador da
Escola Politécnica, no Museu de Arte de São
Paulo (Masp), na Avenida Paulista.
Essas mesmas fotos ainda serão
espalhadas em 20 CEUs da capital, 11 pontos de atendimento
do Poupatempo e 20 terminais de ônibus. A iniciativa
é da secretarias de Cultura do Estado e do Município,
que lançam a campanha Mês da Consciência
Negra. As fotos ficam expostas na cidade até o final
do mês.
Além de mexer com a cara da
cidade, elas podem provocar polêmica, já que
algumas das personalidades não são reconhecidas
como afrodescendentes pelas famílias. “É
o caso de Nilo Peçanha, que tinha mãe negra,
mas a família nega a raiz africana”, diz Dagoberto
José Fonseca, professor de antropologia, da Universidade
Estadual Paulista (Unesp), de Araraquara. Ele pesquisou cerca
de 100 nomes de brasileiros negros importantes, que serviram
de base para a escolha dos 20 finalistas. “Quando entreguei
a lista, avisei que era polêmica.”
O fluminense Nilo Peçanha,
elegeu-se vice-presidente de Afonso Pena em 1906 e, quatro
anos depois, com a morte do presidente, assumiu seu posto.
Na gestão de Peçanha, suas fotos foram retocadas
para não transparecerem os traços marcadamente
negros. “Nunca soube que Nilo Peçanha era negro”,
diz o governador José Serra. “Para mim foi uma
surpresa. Também não tinha idéia, até
por ser de uma área distante da minha, que a Sociedade
Brasileira de Psicanálise foi fundada por Virgínia
Leone Bicudo, uma mulher negra.”
Fonseca explica que a sociedade brasileira
promoveu e promove uma espécie de branqueamento da
cultura negra. “Chiquinha Gonzaga, por exemplo, foi
interpretada no seriado da TV Globo pela atriz Regina Duarte,
a namoradinha do Brasil”, lembra. “Existe um jeito
bem brasileiro de estabelecer o processo cromático.
O Brasil sempre quis ser europeu, mas não é.
Os portugueses que chegaram aqui eram miscigenados.”
Pelos critérios da exposição da Secretaria
da Cultura, até mesmo o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, que tem uma avó negra, poderia estar ali pendurado
num prédio.
Uma forma escolhida por colégios
particulares para mudar o jeito brasileiro de encarar a participação
dos negros na sociedade foi inserir o assunto na grade. “Este
ano, os alunos estão estudando a cultura africana antes
da chegada dos europeus na África”, diz Onofre
Rosa, coordenador pedagógico da Colégio Bandeirantes,
no Paraíso, zona sul. A escola chegou a discutir se
fazia algo especial para o Dia da Consciência Negra,
20 de novembro. “Achamos que poderia gerar preconceito
e optamos por dar mais informações sobre o assunto
o ano todo e não num dia só.”
Valéria França
O Estado de S.Paulo.
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