Secretário
de Kassab diz que recuperação do prédio,
símbolo da degradação do centro de SP,
é "inviável'; urbanistas criticam proposta
Prefeitura esvaziou prédio em 2004 para iniciar
a revitalização e, desde então, paga
bolsa-aluguel de R$ 300 às 360 famílias
O governo do prefeito Gilberto Kassab (PFL) quer demolir
o edifício São Vito, ex-cortiço vertical
de 624 apartamentos e 27 andares no Parque Dom Pedro, centro
de São Paulo.
A proposta surge depois de a gestão Marta Suplicy (PT)
anunciar a reforma do local, conhecido como "treme-treme"
e de a prefeitura pagar, desde junho de 2004, uma bolsa-aluguel
de R$ 300 mensais às 360 famílias que deixaram
o prédio, um dos maiores símbolos da decadência
da área central.
"A solução viável é a demolição",
afirmou o secretário de Coordenação das
Subprefeituras, Andrea Matarazzo, também subprefeito
da Sé. Segundo ele, a decisão no âmbito
municipal deve ocorrer neste ano.
De acordo com Matarazzo, a degradação do edifício
fez a prefeitura pretender enterrar o projeto de recuperação
gestado no governo Marta. "Não tem como revitalizar
e daqui a seis anos estar igual", disse o secretário,
que classificou a recuperação como "improvável".
No lugar do São Vito, afirmou o secretário,
a prefeitura pode instalar uma garagem ou implantar outro
equipamento urbano. "Mas não está decidido
ainda", disse.
Inviável?
Além de argumentar que o edifício enfeia a paisagem
do centro, a prefeitura sustenta que, sete projetos depois,
ainda não conseguiu viabilizar o São Vito como
habitação popular -para isso, cada unidade precisaria
custar até R$ 40 mil, para que o projeto pudesse ser
enquadrado no PAR (Programa de Arrendamento Residencial) da
Caixa Econômica Federal.
"Está difícil, muito apertado chegar [aos
R$ 40 mil]", afirmou Edsom Ortega, presidente da Cohab
(Companhia Metropolitana de Habitação). "Estamos
alterando o projeto para ver se conseguimos chegar ao perfil.
O fato é que até agora não conseguimos
chegar a esse valor", afirmou. O custo de recuperação
do São Vito é de R$ 18 milhões -na gestão
Marta, foi avaliado em R$ 8 milhões. "A demolição
é uma alternativa se não conseguirmos viabilizar
a solução habitacional." Os técnicos
da Cohab devem entregar mais um estudo de viabilidade em um
prazo de 30 a 40 dias.
Não há outro uso exceto o habitacional, segundo
ele. A prefeitura descartou, após pesquisa na região
central, implantar um hotel ou uma repartição
municipal, duas hipóteses aventadas na gestão
José Serra.
A demolição custaria entre R$ 1,2 milhão
e R$ 1,5 milhão, segundo uma estimativa encomendada
pela prefeitura. Por meio da assessoria de imprensa, o prefeito
Gilberto Kassab confirmou que a demolição está
em discussão, embora a considere mais uma "hipótese"
integrante do projeto de recuperação do Parque
Dom Pedro.
Para Paulo Teixeira, secretário da Habitação
na gestão Marta, a demolição é
um "profundo equívoco". "A decisão
de requalificar o edifício foi tomada em consulta com
urbanistas, a inúmeros segmentos e também em
debate com a Caixa", afirmou. "Qual a simbologia
de se demolir habitação de interesse social
em São Paulo? Muita gente não tem onde morar."
Para ele, há também um empecilho técnico
para pôr abaixo o prédio: o fato de o São
Vito ser geminado com o edifício vizinho, Mercúrio.
Projeto enterrado
A intenção de transformar o São Vito
em um edifício de habitações populares
foi anunciado em 2003 pela então prefeita Marta Suplicy.
O plano era desapropriar o prédio e financiar as moradias
por meio da Caixa. "Esse projeto vai ser um marco na
cidade. Mostra como será possível recuperar
um prédio e encaminhar soluções inovadoras
para a população carente", declarou, em
discurso, em 13 de agosto daquele ano.
O projeto dos arquitetos Roberto Loeb e Helena Saia previa
uma pintura do artista Eduardo Sued na fachada. Os 624 apartamentos
passariam a ser 463, entre 35 m2 e 60 m2. À Folha,
ontem, Loeb disse que a demolição seria "problemática".
"A pilha de escombros atingiria 7 ou 8 andares. Seria
jogar, numa comparação, a poeira equivalente
à do avião do 11 de setembro em São Paulo.
Remover tudo aquilo demoraria."
Não voltarão
Segundo Edsom Ortega, o projeto de Loeb foi alterado pelos
técnicos da Cohab. E, diferentemente do que previa
o governo petista, os antigos moradores do São Vito
não voltarão mais para o edifício, mesmo
se a implantação das moradias populares fosse
possível. "Eles foram informados no início
do ano que não voltarão mais. Foram incluídos
em programas habitacionais do município em parceria
com o Estado." De acordo com a Cohab, 80% das 360 famílias
apresentaram documentação para receber carta
de crédito e adquirir outro imóvel.
A prefeitura não tem levantamento, no entanto, de quantos
já estão com casa assegurada. Todos recebem
bolsa-aluguel da prefeitura desde que saíram do São
Vito -o valor chega a R$ 300 mensais.
Ricardo Gallo
Folha de S.Paulo.
Para
arquiteto, demolir prédio é "besteira"
"Treme-treme"
já teve mais de 3.000 moradores
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