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Em
seu Uno ano 2002, ele enfrentou o trânsito de São
Paulo num desaconselhável início de noite de
sexta-feira. Levou buzinada e luz alta para sair da frente,
assustou-se com um motoqueiro fazendo ultrapassagem em virada
de esquina, enfrentou a obstinação de um caminhoneiro
que não permitiu a troca de faixa e, naturalmente,
viu-se encurralado num engarrafamento daqueles. Mas nem sequer
se abalou.
"Se você tem que enfrentar o trânsito, que
enfrente com sabedoria", diz o monge João Koun,
38. Ele é pregador da escola zen do budismo, que se
concentra na meditação.
Na semana em que São Paulo bateu recorde de congestionamento
-221 km na quinta-feira-, a Folha pegou carona com o monge
para saber como se evita o estresse no trânsito paulistano.
Velocidade mínima
O passeio começou na Lapa (zona oeste), onde ele mora,
passou pelas avenidas Doutor Arnaldo e Pacaembu e incluiu
a marginal Tietê. O Uno precisou de uma hora e meia
para percorrer um trajeto de 30 km -a uma velocidade média
de apenas 20 km/h.
Cabeça raspada e roupa preta de monge, Koun conversou
todo o tempo com a voz tranqüila. Jurou que não
passou pela cabeça buzinar para o motorista que jogou
o carro em sua frente com violência, sem dar a seta.
"No trânsito, olhamos só a máquina.
Mas há uma pessoa ali dentro." O essencial, segundo
o monge, está em algo insuspeito e bem concreto: a
respiração. O motorista deve prestar atenção
ao ar entrando nos pulmões e saindo. Para se concentrar
na respiração, uma dica do monge é contar
cada inspiração e expiração, de
um a dez. O banco do carro deve ficar totalmente na vertical,
para facilitar a entrada e a saída do ar.
Terminado o passeio, o monge Koun guardou seu Uno na garagem
e revelou: "Se não fosse para a reportagem, eu
jamais teria saído de carro a esta hora". Só
sai de carro em casos excepcionais. Para chegar ao templo
budista, na Liberdade (região central), vai de bicicleta.
"Uma forma de não sentir raiva no trânsito
é evitá-lo."
Ricardo Westin
Folha de S.Paulo
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