Sebastião
Nicomedes de Oliveira, de 38 anos, é figura conhecida
no centro. Vai de um albergue a outro e, onde tem debate sobre
pobreza, lá está ele. No mês que vem,
o ex-morador de rua, que hoje vive em uma moradia provisória
da Prefeitura, vai conquistar mais um espaço de discussão.
A peça O Diário de um Carroceiro, escrita por
Tião, estréia no dia 7 no Teatro Fábrica,
na Rua da Consolação.
Integrante do Conselho Municipal de Assistência Social,
Tião foi construindo aos poucos sua reputação.
É considerado um dos líderes do movimentos dos
moradores de rua. Tem fala mansa, muitos cabelos brancos e
um jeito simples e quieto. Sempre com um pano com estampa
de bandeiras do Brasil amarrado nas costas, não perde
um protesto. Chegou até a fazer slogan para uma campanha
da Secretaria da Assistência e Desenvolvimento Social
- Dê mais que esmola. Dê futuro. “Tenho
o telefone do secretário (Floriano Pesaro)”,
conta Tião.
A afinidade com o teatro nasceu depois de conhecer o primeiro
albergue, o Arsenal da Esperança. “Um dia, teve
um show de talentos e decidi escrever uma peça, a Bonifácio
Preguiça, que também falava de moradores de
rua.” A montagem amadora percorreu outros abrigos. “Todos
os atores eram do albergue. Mas depois percebi que não
estava mais adiantando falar da nossa situação
para gente que estava na mesma condição”,
explica.
Montagem
O novo roteiro nasceu para ganhar um público
maior. O monólogo mostra os problemas básicos
de um morador de rua, desde a dificuldade em conseguir socorro
em uma emergência até a falta de banheiros públicos
na cidade.
O produtor da peça, Max Mu, foi quem levou o roteiro
à diretora Iara Brasil, da Companhia Circuito da Comédia.
“Conheci Tião no Centro de Artes Alternativas
e Cidadania (Caac), uma ONG na Mooca”, conta o produtor.
O texto tem trechos bem humorados e trágicos, tudo
tirado da vivência de Tião na rua. “O diferencial
é que ele não olha a situação
de fora. As falas não têm tom de piedade, mas
realidade”, diz Max.
“Tem gente que não gosta de ver miséria.
Não discordo disso. Mas desse jeito, muita gente que
não sabe que existimos vai ver o que temos a dizer”,
observa Tião, que vai receber uma porcentagem da bilheteria,
como o resto do grupo. “Combinamos tudo direitinho como
uma verdadeira equipe”, explica Max. A previsão
é que o ingresso custe em média R$ 30,00.
Natália Zonta
O Estado de S.Paulo
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