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24/03/2006
Carta da semana
cidade contra o cidadão
Volta e meia vejo na mídia
a notícia que a gestão do prefeito Serra está
preocupada com o estado precário das calçadas
da cidade e que está tentando mudar esta realidade. Ora,
fico cada vez mais indignado com este relato pois a prefeitura
não está nem fazendo suas mínimas obrigações
em relação a este problema.
Durante a gestão de Marta Suplicy, a prefeitura foi obrigada
pelo Condephaat a retirar a fiação área
e padronizar as calçadas da av. Rebouças em função
da instalação do corredor de ônibus. Achei
a iniciativa deste orgão estadual acertada, porém
esta resolução atrasou consideravelmente o andamento
da obra que, após a eleição, sofreu diminuição
considerável em seu ritmo, ficando inacabada ao final
do mandato da prefeita (o calçamento não havia
sido feito).
Na gestão atual o calçamento foi reiniciado, porém
foi quebrado diversas vezes para que a fiação
subterrêna pudesse ser instalada. Ocorre também
que, após a retirada dos postes, o que foi há
mais de seis meses, a obra foi abandonada e nada mais foi feito,
ficando as calçadas (tanto da Rebouças como de
algumas transversais, nas esquinas) em estado calamitável
e a avenida sem postes de iluminação (apenas há
nos canteiros centrais). Há buracos enormes e trechos
significativos sem calçamento. Depois do abandono da
obra, estes trechos sem calçamento foram aumentando devido
a ação da chuvas, vandalismo e outras obras de
concessionárias. Em algumas esquinas das transversais
a prefeitura destruiu as calçadas e simplesmente não
as reconstruiu, ficando alguns até sem a guia!
Na gestão Marta havia ainda a associação
de moradores Viva Rebouças, que, comandada por Fernanda
Bandeira de Mello, enfrentou a prefeitura para que o corredor
não fosse implantado. Mas agora esta ONG simplesmente
desapareceu - hoje Fernanda é secretária adjunta
de serviços e obras do Municipio de São Paulo,
conforme informa o site da prefeitura. Já escrevi a tal
secretaria, mas nunca deram resposta alguma.
Sei que, por lei, o proprietário é quem deve zelar
pela calçada, mas este caso é especial: o Condephaat,
para aprovar o corredor de ônibus na avenida, exigiu que
a prefeitura padrozinasse as calçadas, pois parte do
bairro dos Jardins é tombado. Na 9 de Julho a Marta conseguiu
terminar a obra, deixou as calçadas impecáveis.
Já na Rebouças a prefeitura largou a obra (em
ambas as gestões). Por isso acho que é de responsabilidade
do poder público isto.
Além das calçadas inacabadas a atual gestão
abandonou também as paradas de ônibus do corredor,
deixando algumas inacabadas e outras sem manutenção
alguma e a deterioração correndo solta. A parada
Eldorado, por exemplo, foi concebida ligada a uma passarela,
pois na região, em frente ao shopping Eldorado, não
há semáforos de pedestres. Esta passarela seria
dotada de escadas rolantes e elevadores para deficientes. Acontece
que os elevadores estão lá instalados, assim como
as escadas rolantes, mas estão vedados com tapumes e
sendo continuamente deteriorados pelo lixo que se acumula nesta
parada. Há cerca de duas semanas, presenciei uma cena
comovente e revoltante. Alguns usuários da parada, em
pleno horário do rush, avançaram sobre os carros,
que foram obrigados a parar para que uma mãe pudesse
atravessar com seu filho deficiente, este preso a uma cadeira
de rodas. Leia bem: a passarela, moderna e acessível,
está pronta deste a gestão anterior, mas a prefeitura
simplesmente bloqueou os elevadores e escadas rolantes.
Sou um cidadão comum, esta reclamação não
tem nenhum objetivo partidário e também não
se trata de uma questão paroquiana. Vejo como as pessoas
(e a mídia) tem interesse na questão dos buracos
nas ruas, dos pernilongos em bairros nobres, mas está
mais do que na hora de melhorar esta cidade também para
quem prefere andar a pé e deixar o carro em casa. Você
sabe muito bem de que tipo de cidade estou falando. Um de seus
artigos recentes, na Folha, "Sociedade incivil" (aliás
ótimo) deixa bem claro isto.
Marcio
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