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24/02/2006
Carta da semana
Inevitável: Mário Quintana
”Tive o privilégio de
conhecer pessoalmente o poeta Mário Quintana. Uma coisa
é apreciar os seus versos, outra é vê-lo,
conversar com ele, admirar a sua doce figura. Jantamos juntos
na residência do acadêmico Arnaldo Niskier, em
uma das investidas do poeta nascido em Alegrete (RS) à
Academia Brasileira de Letras (ABL). Da mesma forma como adorei
o seu jeito simples e bem-humorado, senti que em matéria
de candidatura ele seria vítima da sua cândida
ingenuidade. A mesma que sempre colocou, com brilho, nos seus
versos livres ou nos poemas em prosa, como no clássico
Sapato Florido, de 1947.
Senti muito as duas derrotas de Mário
Quintana. Ele merecia a imortalidade, pela qualidade do seu
trabalho literário e até mesmo pela certeza
de que, no convívio, seria extremamente agradável
a sua companhia entre os imortais da ABL. Por isso, em um
dado momento, depois de acertar a estratégias com o
saudoso Austregésilo de Athayde, e existindo a indispensável
vaga, o acadêmico Niskier, solicitou ao seu amigo Edgard
Wallau Jr. para sondar, em Porto Alegre, pois a Academia queria
elegê-lo com quase toda certeza por unanimidade.
A resposta não foi favorável.
Ele havia sentido muito os reveses e não queria mais
se expor. Uma pena, pois se a Academia não glorifica
ninguém, pelo menos redimiria por não tê-lo
acolhido anteriormente.
Mário Quintana foi um poeta
popular, da mesma estirpe de Manuel Bandeira, Carlos Drummond
de Andrade e Vinícius de Moraes. Tinha um carinho todo
especial por crianças, a elas dedicou diversas e importantes
obras, como um incrível e atraente abecedário,
em que ele brinca com animais de grande presença no
imaginário infantil. O sucesso foi completo.
O seu estilo criativo deu origem a
um novo verbete da língua portuguesa: “quintanares”,
com que os amigos o homenagearam pelos 80 anos. No panorama
da nossa literatura, o imortal Mário Quintana certamente
fará muita falta.
O acadêmico Arnaldo Niskier
assim o descreve:
- Inevitável Mário Quintana – é
de um sorriso de uma criança que brota a
imortalidade. Quintana foi sem dúvida alguma, o poeta
da criança brasileira.
Muitos escritores e leitores, murmuram:
Que falta faz esse homem...
Lembrando que 2006 é o ano de centenário de
Mário Quintana”,
Nelson Valente -nelsonvalenti@hotmail.com
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