O encontro
com o rinoceronte vindo de NY rendeu a Rodrigo Felipe Costa,
que mora no Grajaú, uma bolsa de R$ 72 mil
Morador do Grajaú, Rodrigo Felipe Costa tinha certeza
de que queria estudar design gráfico e montar seu próprio
ateliê. Mas não sabia onde. Entrar na USP é
difícil para qualquer um, especialmente quando se vem
de uma escola pública da periferia. As mensalidades
das melhores faculdades privadas são proibitivas; a
renda média de seu pai é de R$ 800 mensais.
Até que, neste ano, apareceu um rinoceronte em seu
caminho -e veio de Nova York.
Na semana passada, esse encontro rendeu-lhe uma bolsa de R$
72 mil, equivalente a 90 meses de renda mensal de seu pai.
Ou três anos de estudo.
O encontro começa com uma ideia das celebridades do
estilismo dos Estados Unidos, cuja grife se espalhou pelo
mundo de várias formas, que incluem roupas, perfumes,
revistas e até jogos interativos. Sua prosperidade
se associou à imagem do rinoceronte.
Com uma relação difícil com a escola
-"eu não gostava daquele esquema expositivo de
aulas", Marc Ecko nasceu em 1972 e, aos oito anos, já
estava vendendo as camisetas que produzia. Entrou na rota
da marginalidade ao se encantar pelo grafite -o que, nos Estados
Unidos, ao contrário do Brasil, é crime. "Da
estética da rua, tirei minhas primeiras inspirações."
Por valorizar o aprendizado prático, Marc criou um
programa para ensinar design a jovens de baixa renda em Nova
York. Com ajuda de professores e designers profissionais,
projetavam camisetas, relógios, tênis e até
automóveis.
Com apoio da TBC, especializada em gestão de marcas,
e do Instituto Europeu de Design (IED), a experiência
veio para São Paulo. "Eu me inscrevi no último
momento", conta Rodrigo.
Durante quatro meses, ele aprendeu como usar os softwares
de design gráfico e noções sobre o que
é uma marca e como tentar atrair a atenção
do consumidor jovem. Além de produzir a estampa, teria
de explicar seu trabalho -pessoalmente para o próprio
Marc Ecko, que veio ao Brasil para assistir aos desfiles da
São Paulo Fashion Week. "Resolvi usar os olhos
como minha inspiração."
Na semana passada, ele foi escolhido, quase por unanimidade,
para ganhar a bolsa de R$ 72 mil, convertidas em três
anos de mensalidade do Instituto Europeu de Design, cuja sede
é em Milão e que possui uma escola em São
Paulo. Além da bolsa, seu produto será vendido
nas lojas e a renda lhe será revertida. Já sabe
o que vai fazer se o dinheiro da camiseta entrar. Antes mesmo
de começar a cursar design gráfico, já
está contatando os amigos: "Quero ir montando
meu ateliê".
PS- Coloquei neste
link a estampa desenvolvida por Rodrigo e a criada por
outro ganhador da bolsa (Eron Mariano), que já estuda
em universidade.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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