Uma experiência quer fazer um dos pontos históricos de São Paulo voltar no
tempo -aliás, voltar exatamente 452 anos. O Pátio do Colégio,
marco de nascimento da cidade, reassume, neste mês, o papel
para o qual foi criado: uma escola. Desta vez, no entanto,
para professores. "Ir para trás, nesse caso, é um salto para
o futuro", diz o padre Carlos Alberto Contiere, 43 anos, responsável
pelo Pátio do Colégio.
Essa missão nunca fez, nem remotamente, parte dos planos
de Contiere, um poliglota que domina 11 línguas, entre as
quais o grego, o samaritano e o hebraico. "Desde menino, eu
conseguia aprender sozinho outras línguas." Preferiu seguir
a vocação religiosa e, de Valinhos, interior de São Paulo,
onde nasceu, viajou pelo Brasil e pelo mundo. Para fazer de
seu giro uma tese de doutorado, morou em Israel e pesquisou
sobre as diferenças entre os textos em hebraico e grego que
tratam do profeta Jeremias. "Meu projeto era ser apenas um
professor de teologia."
Desde 1998, o Pátio do Colégio, então quase abandonado e
cercado de meninos fumando crack, começou a ser revitalizado
por seu então diretor, o padre José Maria Fernandes. Na batalha
por verbas, converteram o lugar num ponto disputado para casamentos.
Aos poucos, os visitantes iam retornando e descobriam, perplexos,
que podiam tomar um café admirando silenciosamente um jardim
e ouvindo o canto de passarinhos.
Doente, José Maria, que tinha o hábito de literalmente acordar
com o canto dos pássaros que pousavam em sua janela, teve
de se afastar de suas funções e foi substituído por Contiere.
"Minha primeira questão era saber como fortalecer ainda mais
o símbolo daquele lugar."
Dessa inquietação, surgiu a idéia de retorno às raízes; São
Paulo é a única grande cidade do mundo que nasceu de uma escola.
Em parceria da prefeitura com a USP, o Pátio começa a formar
professores da rede municipal em educadores comunitários.
É uma especialidade do magistério, desenvolvida pela USP da
zona leste, na qual os professores aprendem como tirar o máximo
proveito da comunidade, criando um único ambiente de aprendizagem
na montagem de redes entre escola e a cidade. Nessa volta
no tempo, a escola que criou uma cidade ensina como uma cidade
pode se transformar numa escola. "Estamos alargando as possibilidades
de ensino para além da sala de aula."
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.
USP
treina professor comunitário
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comunitário
Professor
comunitário por Gilberto Dimenstein
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