Na busca de inspiração , o artista
plástico Paulo Von Poser ficou na manhã de domingo passado
no cemitério do Araçá, na avenida Dr. Arnaldo. Em diferentes
ângulos, observou por horas seguidas as bancas de flores.
"É apenas o início da observação." O ponto alto da experiência,
porém, acontecerá distante dali: munido com suas fotos e esboços,
além das flores vivas, vai percorrer salas de aulas e estimular
estudantes a fazerem arte a partir daquelas imagens. "Dessa
mistura, vamos ter uma obra coletiva."
A obra coletiva serão arranjos feitos em diferentes materiais
colocados nos muros do cemitério do Araçá como se fossem uma
continuação das cores e formatos das flores das bancas. Para
Paulo Von Poser, esse tipo de intervenção tem um significado
íntimo especial.
Desde 1985, ele desenvolve uma obsessão especial por desenhar
rosas, cujo significado pesquisou nas mais diferentes culturas.
"Entre os alquimistas, elas representam regeneração e cura",
explica. Por isso decidiu tê-las sempre em casa. "Mesmo quando
estão murchando, são belas. São uma ótima companhia." Os significados
não param aí. Desde os seus tempos de faculdade de arquitetura
na USP, ele desenha -e lamenta- São Paulo. Sua mais recente
exposição, na Pinacoteca, são os museus da cidade. "Impossível
não se incomodar com a deterioração." Esse incômodo é uma
das razões que o levaram a ajudar artistas plásticos iniciantes,
residentes no chamado "Ateliê Amarelo", instalado em frente
à Estação Pinacoteca, coração da "cracolândia". Uma das tarefas
desses artistas é registrar toda aquela região que, para muitos,
virou tão assustadora, que, de símbolo da riqueza, no século
passado, ganhou status de símbolo da degradação paulistana
-uma espécie de cemitério a céu aberto.
Fazer uma obra coletiva num cemitério com alunos das escolas
do centro, pareceu a Paulo Von Poser uma síntese do que gostaria
ver na cidade. Um cemitério ganha vida e transforma-se, assim,
em obra de arte. A obra será coletiva, mas é natural que,
naquela alquimia urbana, ele coloque suas rosas.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.
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