AMAPÁ- Durante séculos, o uso de plantas medicinais foi a principal
fonte de cura de doenças, até ser substituído
pelos tratamentos da medicina moderna. No século 21,
algumas comunidades brasileiras estão voltando a antigas
tradições do uso de ervas e outras plantas,
deixando de usar os remédios alopáticos.
Em geral, esta substituição oferece tratamento
eficiente para diversas doenças a um custo mais baixo.
No estado do Amapá, comunidades rurais adotaram a implantação
da Farmácia da Terra, projeto vencedor, na região
Norte, do Prêmio de Tecnologia Social 2003, da Fundação
Banco do Brasil.
Desenvolvidas pelo Instituto de Pesquisas Científicas
e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), as
Farmácias da Terra já estão em 21 comunidades
de 12 municípios do estado. Mais de 820 pessoas –
entre agentes de saúde comunitários (principal
público), parteiras, estudantes de nível médio,
professores, líderes comunitários e curandeiros
– foram treinadas para cuidar de hortas onde são
cultivadas plantas que ajudam no tratamento de problemas de
saúde.
Entre os problemas que podem ser tratados com fitoterápicos
– produtos com fins terapêuticos obtidos das plantas
– estão diversas doenças respiratórias
(bronquite, sinusite, amidalite, faringite, gripes e resfriados),
da pele (sarnas, escabioses e pediculoses), gastrointestinais
(diarréias, verminoses, gastrite, úlcera péptica,
amebíase e giardíase), doenças dos órgãos
genitais e infecções urinárias, além
de reumatismo.
Durante as aulas, também são ensinadas técnicas
para extrair as plantas da floresta sem causar extinção
e também as indicações de uso de cada
uma delas. O resultado é a melhora na qualidade de
vida da população, a diminuição
da busca pelos serviços públicos de saúde
e a preservação da tradição cultural.
“O objetivo é oferecer alternativas de tratamento
a doenças mais comuns e menos complexas através
do uso de plantas medicinais para as comunidades rurais”,
explica Terezinha de Jesus dos Santos, coordenadora do projeto
e pesquisadora da área de fitoterapia do Iepa.
Os próprios centros de saúde das localidades
onde o projeto está implantado fazem uso do conhecimento
e da produção da Farmácia da Terra e,
muitas vezes, são parceiros da iniciativa. Assim como
secretarias municipais de saúde, escolas, unidades
do Serviço Social do Comércio (Sesc), associações
comunitárias e cooperativas.
A Fundação Banco do Brasil tem sido uma das
entidades responsáveis pela divulgação
desta tecnologia – desde 2003, quando selecionou para
replicação alguns projetos cadastrados no seu
Banco de Tecnologias Sociais. Estes projetos são implementados
em parceria com agentes locais ou instituições
como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae).
O Farmácia da Terra exige uma equipe básica,
composta de dois farmacêuticos, um enfermeiro, um nutricionista
e um técnico agrícola. O grupo tem a responsabilidade
de implantar o projeto desde o primeiro contato com as comunidades
até a execução das oficinas, passando
por treinamentos de plantio, manejo, coleta, secagem e armazenagem
das plantas e também a produção de remédios
caseiros.
Para cada unidade instalada, é necessário um
recurso mínimo de aproximadamente cinco mil reais,
para cobrir despesas com materiais para instalação
dos canteiros e do sistema de irrigação e custos
de viagem dos técnicos, bem como alimentação
deles e dos participantes das oficinas.
Quintal de casa
O projeto é dirigido às zonas rurais,
mas pode ser implantado até mesmo em condomínios
fechados nas cidades. “O mais importante é saber
usar as plantas de forma eficaz e segura”, ressalta
Terezinha dos Santos.
Além de atender às próprias necessidades,
a Farmácia da Terra pode contribuir para a geração
de renda junto às famílias das regiões
onde é implantada. A partir do projeto, algumas comunidades
se organizaram e começaram a trabalhar com essas plantas.
É o caso da Cooperativa das Produtoras de Plantas Aromáticas
do Amapá, que cultiva espécies aromáticas
para beneficia-las e transformá-las em enchimento de
travesseiros e bonecas e em produtos para banho.
Outro segmento que encontrou uma forma de aumentar a renda
com o projeto é o de trabalhadores da terra. Alguns
agricultores participaram das oficinas e passaram a atuar
como fornecedores de matéria-prima para a produção
de fitoterápicos do Laboratório de Produção
de Fitoterápicos e Fitocosméticos do Iepa.
Origem
O Projeto Farmácia da Terra surgiu a partir da inquietação
de um grupo de pesquisadores da área de fitoterapia
do Centro de Plantas Medicinais e Produtos Naturais do Iepa.
Baseados nos conhecimentos da tradição local,
eles desenvolviam projetos de produção de fitoterápicos
a partir de espécies amazônicas.
“A inquietação maior se deu pelo fato
de que somente as pessoas da cidade estavam tendo acesso a
fitoterápicos elaborados e fabricados pelo Laboratório
de Produção de Fitoterápicos e Fitocosméticos.
Os principais responsáveis pelas informações
etnofarmacológicas não estavam recebendo o retorno
pela contribuição dada. Foi então que
os pesquisadores elaboraram o projeto”, lembra Terezinha
dos Santos.
As matrizes das espécies cultivadas são produzidas
e selecionadas no Iepa. A manutenção das hortas
é feita pela própria população
dos locais onde elas estão instaladas e já se
pode notar também um aumento na tendência de
indicações deste tipo de medicamento natural
por parte dos agentes dos serviços públicos
de saúde.
SANDRA FLOSI
do site Fundação Banco do Brasil
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