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Erika Vieira
“O intuito não é
levar apenas o conhecimento da universidade até as
pessoas, é entrar em contato com a comunidade e gerar
conhecimento junto com a comunidade”. É assim
que o estudante de engenharia de telecomunicações,
Rafael Pacheco Alquezar, define o propósito do Escritório
Piloto (EP). O Escritório é um laboratório
experimental composto por alunos da USP, desenvolvido pelo
Grêmio da Escola Politécnica. Estudantes do curso
de engenharia civil em conjunto com membros de outras diferentes
áreas elaboram projetos para integrar o ensino da universidade
com a realidade em que vive a sociedade. Dessa forma, se faz
valer realmente o papel de instituição pública
e social da educação.
“Funciona como um conhecimento
de mão dupla”, fala Vitor Suzuki de Carvalho,
do 4º ano de engenharia ambiental. Ele demonstra o conceito
de extensão universitária proposto pelo EP,
também explica que promovem grupos de discussão
sobre determinados temas envolvendo alunos de diferentes áreas
de conhecimento, professores e ONGs. “Dessa forma tentamos
mudar a cara da universidade de lógica de mercado para
lógica social. Com isso, é possível descobrirmos
o que é necessário estudar no curso para atender
melhor a sociedade”, fala Pacheco.
O Escritório Piloto surgiu
na década de 50, mas foi reaberto só em meados
dos anos 90 depois de ficar um período desativado.
Desde 2001 é financiado pelo Fundo de Cultura e Extensão
da USP. Porém, os alunos contam que atualmente não
conseguem desenvolver os projetos de modo integral porque
houve uma diminuição do número de bolsa
concedida pelo Fundo. “Não há um critério
para definir qual projeto financiar. O fundo divide o número
de bolsas entre todos os projetos da universidade, se você
precisa de nove para aplicar uma ação esse número
é divido e você passa a ganhar apenas quatro”,
explica Suzuki.
Essa iniciativa funciona como uma
extensão universitária gerida pelos estudantes
que pretende obter resultados acadêmicos provenientes
da prática de solucionar problemas reais. Atualmente
estão elaborando uma publicação para
tentar definir o que é extensão universitária,
como funciona, quando surgiu e como que é tratada no
regulamento da educação.“Há uma
dificuldade em tentar se definir o que é extensão”,
diz Alison Pablo de Oliveira, do curso de engenharia de energia
e automação.
Ações Práticas
Recentemente o Escritório Piloto (EP) desenvolveu
um projeto para recuperar o Parque Francisco Rizzo, na cidade
de Embu. Estudantes de engenharia, arquitetura, ciências
sociais, biologia entre outros elaboraram um estudo para entender
porque o local não era utilizado pela comunidade, a
fim de fazer as pessoas se apropriarem do espaço. O
EP entrou em contato com a Associação de Jovens
da região a fim de que eles reivindiquem a prefeitura
a aplicação integral do projeto, contemplando
todos os âmbitos (social, cultural,etc). Inicialmente
a prefeitura propôs ao EP apenas a reformulação
da parte física do parque, mas os estudantes se preocuparam
em sanar o problema de maneira mais profunda.
Um dos meios que o EP encontrou para se envolver com a comunidade
foi montando o Laboratório de projeto integrado e participativo
para requalificação de cortiços. O laboratório
atuou em um prédio do centro de São Paulo com
o intuito de transformar o edifício comercial em residencial,
contribuindo assim para uma política pública
de habitação.
O prédio era ocupado por movimentos
populares que reivindicavam o direito de residirem no local.
A Poli montou um escritório dentro do edifício
para estudar o espaço, e pode formular um projeto que
atendesse a necessidade daquela comunidade e de tantas outras
que lutam por um teto para morar. Hoje, existem na cidade
muitos prédios desativados que não são
autorizados à habitação por não
terem estrutura adequada.
Com isso o EP, além de desenvolver
novas técnicas de construção, também
pode elaborar um diagnóstico mais profundo sobre a
demanda de moradia do centro. Esse projeto foi realizado em
1999, em parceria com o Movimento de Moradia do Centro (MMC)
e outros movimentos populares. O estudo virou uma publicação
que ganhou o apoio da “Politécnico di Torina”,
Universidade Italiana, e está servindo de referência
para pesquisas em vários paises.
Atualmente os estudantes trabalham
na revitalização do Cadapô, prédio
construído na década de 50 na região
do Bom Retiro. O local serviu de moradia aos alunos da politécnica
na época em que a faculdade ainda ficava fora da Cidade
Universitária. A proposta é criar um centro
cultural para a comunidade local. Em 1994 o Grêmio tomou
posse novamente do edifício, “pretendemos criar
um ambiente de cultura, cultura digital, informações
políticas, recreação e lazer para que
a população possa desfrutar das atividades”,
conclui o integrante do EP Vitor Susuki de Carvalho.
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