BRASÍLIA.
Preocupado com as críticas dos movimentos sociais ao
governo durante o Fórum Social Mundial, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva chamou um grupo de ministros
para um jantar na Granja do Torto, anteontem, para fazer uma
avaliação da participação do governo
no encontro de Porto Alegre. Embora o presidente, que foi
vaiado no Fórum, tenha considerado positiva sua passagem
pelo evento, a avaliação comum foi que ficou
claro que há um distanciamento, de fato, das bases
sociais que sempre estiveram no ou ao lado do PT. A estratégia
agora do governo e do partido é aprofundar o diálogo
com os movimentos sociais e entidades civis.
Convenção
O PT pretende se reaproximar dos setores dissidentes.
O presidente do partido, José Genoino, que esteve ontem
no Planalto, disse que em maio haverá uma convenção
com os petistas que atuam em movimentos sociais.
"Nesse ponto, governo e partido têm o mesmo interesse.
Aprofundar o relacionamento com os movimentos sociais. Dialogar
e mostrar que taticamente governo e movimento podem atuar
de forma diferente, mas que o objetivo final é o mesmo.
Em maio, o PT vai fazer uma conferência nacional com
os movimentos sociais", disse Genoino.
No jantar, alguns ministros ressaltaram também as
críticas de personalidades internacionais à
condução e aos rumos do governo petista, como
as do escritor português José Saramago. Incomodaram
o presidente os ataques sobre a suposta guinada à direita
do governo do PT e o fato de até mesmo a ministra do
Meio Ambiente, Marina Silva, ter sido criticada por ambientalistas
no Fórum Social.
Explicação
Como em outras reuniões, Lula reiterou anteontem
que o governo precisa explicar melhor os seus programas, principalmente
as ações sociais e os bons resultados que têm
sido conquistados. Participaram do jantar, entre outros, os
ministros que estiveram no Fórum e os assessores César
Alvarez e Marco Aurélio Garcia.
Lula quis saber de cada ministro o que fora apresentado no
Fórum e as avaliações. Em conseqüência
da reunião, o ministro das Cidades, Olívio Dutra,
determinou ontem que cada secretário de sua pasta faça
um relatório da participação no Fórum.
Apesar do discurso de que críticas fazem parte da
democracia, o governo ficou incomodado com a repercussão
das vaias a Lula. Na avaliação do Planalto e
dos ministros, os aplausos foram em maior número que
as vaias, “retratadas de forma exagerada pela imprensa”.
O próprio Lula já tinha comentado com assessores
que achava que a repercussão fora exagerada.
Proteção
Apesar das vaias, os ministros avaliaram que a proteção
em torno do presidente em seu discurso no Fórum funcionou.
Além de uma reunião com os organizadores do
Fórum na véspera, foi preparada no dia uma claque
de apoio ao presidente, com pessoas vestindo camisetas escritas
“100% Lula” e gritando palavras de apoio, na tentativa
de abafar as vaias.
CRISTIANE JUNGBLUT
EVANDRO ÉBOLI
do jornal O Globo
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