Em 15 dias, Espaço Boracea
abrigará local onde haverá acesso a exemplares
de jornais
e revistas
O jornalista Romeu Oliveira Venâncio, de 58 anos, vai
ajudar moradores de rua a gostar de ler. Ele, que já
viveu na rua em decorrência de problemas causados pelo
alcoolismo, quer lançar um concurso de contos e poesia
e, no futuro, criar um jornal interno para contar a história
das pessoas que foram parar nas ruas de São Paulo.
De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e
Assistência Social, 13,5 mil pessoas vivem nas ruas
em São Paulo. Desses, 81 têm curso superior completo
ou incompleto. Parte deles, entre os quais jornalistas, engenheiros
e arquitetos, atuará como monitores de moradores de
rua, no Gabinete da Leitura, do Centro de Atenção
Integral à População em Situação
de Rua. O projeto-piloto começa em 15 dias no Espaço
Boracea, na Barra Funda, zona oeste, em uma parceria entre
a Prefeitura e o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.
Os primeiros monitores estão recebendo qualificação.
"Falo a mesma linguagem dos moradores de rua. Eles se
abrirão muito mais comigo porque já vivi a mesma
situação deles e é quase impossível
para um alcoólatra mentir para um ex-alcoólatra
que sabe o que é isso", afirmou Venâncio,
ex-repórter-fotográfico que hoje vive em uma
pensão no centro, mas já morou na rua, sobrevivendo
de restos de comida do Mercado Municipal.
Ele e mais três companheiros, todos universitários,
vão receber uma bolsa de R$ 435 mensais por um ano
para demonstrar aos moradores de rua a importância da
leitura. O Sindicato entra com os livros, jornais e revistas,
cedidos pelas empresas jornalísticas, além de
jornalistas voluntários, e a Prefeitura com o espaço
e a infra-estrutura.
Auto-estima
No centro, uma parceria entre as Secretarias de Assistência,
do Trabalho e das Subprefeituras, os moradores de rua terão
acesso à qualificação profissional, retirada
de documentos, cinemateca, oficinas de auto-ajuda, cadastramento
para programas de transferência de renda, palestras,
telecentro, atendimento social e de saúde e atividades
esportivas.
A idéia, de acordo com o secretário de Assistência,
Paulo Sérgio de Oliveira, é resgatar a auto-estima
e a cidadania dos moradores de rua, em vez de somente permitir
que eles durmam num dos 39 albergues. "Nossa rede de
abrigos hoje tem 10,4 mil vagas, o que quase cobre toda a
demanda, mas não adianta acolher a pessoa, deixá-la
dormir e se alimentar, e depois ela voltar à rua, com
todos os problemas que isso acarreta. É preciso oferecer
condições para o retorno à sociedade",
defendeu.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas, Augusto Camargo,
o Guto, também acredita nessa possibilidade. "Um
jornalista que vivia na rua nos contou que os moradores de
rua procuram as bibliotecas municipais e do Serviço
Social do Comércio (Sesc) para ler jornais. Há
um público para esse tipo de atividade."
Outros seis centros do mesmo tipo serão inaugurados
até o fim deste ano. O próximo será aberto
na Penha, zona leste.
Moacir Assunção
O Estado de S.Paulo
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