Cerca
de 360 representantes de universidades, ONGs, multinacionais,
empresas de comunicação, entre outros assistiram
à 5a edição do Fórum Exame de
Responsabilidade Social realizado pela Revista Exame em São
Paulo no último dia 30 de março.
Os presentes puderam conferir as palestras do diretor de
Comunicação da CPFL (Companhia Paulista de Força
e Luz), Augusto Rodrigues; do presidente da Fundação
Belgo-Mineira, Álvaro Antônio Saldanha Machado;
e do gerente de Comunicação da Petrobrás,
Luis Fernando Nery. Eles apresentaram as ações
e projetos que implementaram para o desenvolvimento sustentável
no país.
Augusto Rodrigues, diretor de Comunicação
da CPFL, abriu o evento dizendo que a proposição
dos 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio veio em
um momento muito oportuno, exatamente quando a empresa buscava
um roteiro para padronizar suas ações sociais.
"Durante o processo de privatização, fomos
obrigados a nos adequar a padrões internacionais, que
incluíam uma modificação profunda na
nossa postura em relação à sociedade.
Fizemos uma reflexão junto às comunidades e
descobrimos que estávamos devendo muito". E completa:
"Além da criação de uma agenda,
de um roteiro a ser seguido, as metas nos possibilitaram uma
melhor articulação com o governo e com a sociedade".
A partir de então, a responsabilidade corporativa passou
a ser um aspecto estratégico na CPFL, que antes o assunto
como filantropia, segundo destacou Rodrigues: "Hoje temos
vários projetos sociais voltados para as metas do milênio
e, como resultado, tivemos uma melhoria significativa nos
indicadores de qualidade. Nos afastamos da filantropia e do
puro interesse comercial na tentativa de alcançarmos
o verdadeiro benefício social".
O segundo palestrante foi Álvaro Antônio Saldanha
Machado, presidente da Fundação Belgo-Mineira,
uma das maiores siderúrgicas do país, que há
cinco anos recebe o prêmio de Empresa-Modelo em Responsabilidade
Social do Guia Exame de Boa Cidadania Corporativa. Saldanha
Machado destacou a importância da pró-atividade
das empresas em resposta às expectativas para as metas
do milênio e a necessidade de trabalharem em favor das
políticas públicas locais. Como exemplo, citou
um programa em que a Belgo solicitou a seus fornecedores uma
auto-avaliação sobre responsabilidade social
e planos de ação para melhorar suas atuações.
"Após alguns encontros, recebemos 328 planos de
ação elaborados por esses fornecedores. Uma
resposta extraordinária", ressaltou. Ele lembrou
ainda que a idéia é justamente induzir seus
parceiros a também cumprirem as metas: "Somos
fomentadores da responsabilidade social e queremos envolver
toda a sociedade e nossos parceiros dentro de uma horizontalidade
de rede, ampliando a participação, unindo esforços
e integrando. Assim, deixamos de trabalhar PARA a sociedade
e passamos a trabalhar COM a sociedade", enfatiza.
Vários programas desenvolvidos pela Petrobrás
foram apresentados pelo gerente de comunicação
da empresa, Luis Fernando Nery. Entre eles o 'Fome Zero',
que inclui diversos projetos para transformar a realidade
social das comunidades mais pobres e oferecer qualidade de
vida à população. Segundo ele, para atingir
as oito metas a Petrobras investe em programas que vão
além dos dez quilômetros ao redor das refinarias,
pois o objetivo é atingir todo o país e não
somente as comunidades diretamente relacionadas ou próximas
à indústria. "Nesse sentido, encontrar
empresas que partilhem essa visão, que pensem da mesma
forma e possam compartilhar suas práticas é
muito produtivo, tanto para nós quanto para a sociedade".
Ele enfatizou ainda que das 8 Metas, a ênfase da empresa
é no Meio Ambiente, justamente onde a Petrobrás
atua prejudicialmente: "Estamos nos dedicando, inclusive,
em pesquisa para substituição dos recursos poluentes",
garante depois de ser questionado por um integrante do Greenpeace
presente na platéia.
O Embate do Debate
Na segunda parte do evento, os palestrantes participaram de
debate mediado pelo jornalista Carlos Alberto Sardenberg,
com a participação do publicitário Nelson
Biondi, da SNBB Comunicação; de Paulo Itacarambi,
do Instituto Ethos; e de Sidnei Basile, Diretor Secretário
Editorial e de Relações Institucionais da Editora
Abril.
Durante o debate, tanto palestrantes como o Diretor Secretário
Editorial da Editora Abril puderam esclarecer a crítica
feita à matéria especial "Vergonha do lucro",
veiculada na edição da Revista Exame do dia
30 de março. Nelson Biondi, da SNBB Comunicação,
afirmou que "todas as ações apresentadas
ali são ferramentas de marketing importantes para as
empresas e que, hoje, uma atuação responsável
é essencial para a sobrevivência das corporações
no mercado". Paulo Itacarambi, do Instituto Ethos, ressaltou
que "a proposta não é que se assuma a responsabilidade
do Estado, mas que as empresas sejam protagonistas na sociedade".
Para ele, as três corporações ali presentes
valorizaram o conceito de empresa rentável com responsabilidade
social. "E é muito importante que estejam aqui
para socializar o conhecimento que adquiriram nesse processo",
finalizou.
Na ocasião, os presentes puderam encaminhar dúvidas
aos palestrantes. Duas delas se destacaram: a primeira, de
duas jornalistas de uma ONG, questionou os palestrantes sobre
o porquê das empresas dificilmente apoiarem projetos
de trabalhos com a Febem: "Sei de um caso recente em
que um projeto desses estava sendo apoiado por uma fundação
de um banco e que foi cancelada às vésperas
de ser implementado porque a notícia chegou ao presidente
do banco que não admitiu ter o nome da empresa vinculada
à Febem", completou Sardenberg. "Não
fazemos restrição alguma a esse tipo de projeto,
pelo contrário, um dos que estamos apoiando trabalha
com a Febem de Bauru", destaca o Gerente de Comunicação
da Petrobrás e completa "se queremos melhorar
a sociedade em que estamos, não podemos segregar".
Outra questão provocativa, colocada por estudantes
da Universidade Anhembi-Morumbi presentes ao evento, foi quanto
às leis de incentivo: "se não houvesse
leis de incentivo ou abatimento no Imposto de Renda as empresas
continuariam a investir em projetos?", pergunta Sardenberg
depois de colocada a questão. "Acreditamos que
usamos melhor estes recursos que o governo, socializando esses
incentivos. Continuaríamos sim a investir em projetos
sociais sem estes incentivos, mas com menos intensidade",
admitiu o presidente da Fundação Belgo-Mineira.
"Não pautamos nossas ações na Legislação,
mas aproveitamos todas as leis de incentivo existentes",
completa o Gerente de Comunicação da Petrobrás.
Já o diretor de Comunicação da CPFL concluiu:
"Não conseguimos investir em projetos sociais
só com os recursos das leis de incentivo. A maior parte
dos investimentos nessa área, na nossa empresa, são
feitos com recursos próprios", orgulha-se.
O evento, com patrocínio da Petrobrás e apoio
do Instituto Ethos, terá edições previstas
para as cidades de Manaus (14/06), Porto Alegre (9/08) e Rio
de Janeiro (13/09). Trechos de destaque do Fórum estarão
disponíveis em vídeo no site da Revista Exame
provavelmente a partir do dia 4 de abril.
As Metas do Milênio
A 5a edição do Fórum Exame teve como
objetivo debater a contribuição empresarial
para atingir os 8 Objetivos do Milênio e também
medidas a favor do desenvolvimento sustentável no país.
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio é
uma série de metas socioeconômicas que os 191
países-membro da ONU, inclusive o Brasil, se comprometeram
a atingir até 2015, por meio de ações
concretas dos governos e da sociedade.
Entre o os oito objetivos, além de acabar com a fome
e miséria, estão: garantir que as crianças
concluam o ensino básico, promover a igualdade entre
os sexos e promover autonomia para as mulheres, reduzir a
mortalidade infantil, melhorar a saúde materna, combater
o vírus da AIDS e outras doenças, garantir a
sustentabilidade ambiental e estabelecer uma parceria mundial
para o desenvolvimento.
Para as empresas, a responsabilidade social e ambiental
vêm se tornando uma prática tão importante
quanto o lucro. Cada vez mais valorizada pelo mercado consumidor,
pelos governos e pelos investidores, a busca pela sustentabilidade
chega até mesmo a ser vista como uma oportunidade de
negócios, por incentivar a inovação e
levar à redução de custos e riscos.
LISANDRA MAIOLI
do site setor3
|