Sob a ameaça de um dos maiores
racionamentos de água da história -que pode
atingir até 70% da população-, a Grande
São Paulo desperdiça 1,8 bilhão de litros
de água potável por dia -quase 1/3 do que é
distribuído.
O volume é a soma do excesso
de consumo doméstico e as perdas por vazamentos na
rede. O que vai "para o ralo" seria suficiente para
abastecer por quase 48 horas toda a população
servida pela represa Guarapiranga -3,7 milhões de moradores
nas zonas sul e oeste da capital paulista.
Do que é perdido ou esbanjado,
1 bilhão de litros (56,6%) são fruto do uso
inadequado da água pela população. De
acordo com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo), o consumo per capita médio
na região metropolitana é de 180 litros de água
por dia, enquanto a OMS (Organização Mundial
da Saúde) considera como bom um gasto diário
de 120 litros por pessoa.
Os 60 litros extras, segundo a Sabesp,
só servem para aumentar a conta de água e, multiplicados
por 17 milhões (a população estimada
da Grande SP), representam um gasto insustentável,
que fica ainda mais claro em crises do abastecimento como
a atual.
A distribuição dos gastos,
porém, não é igualitária. Em bairros
mais pobres e periféricos, ele pode chegar a 130 l
diários por pessoa; em áreas mais ricas e centrais,
vai a 220 l per capita por dia.
Maus hábitos e equipamentos
que consomem muito (como banheiras, piscinas e máquinas
de lavar louça e roupa) são decisivos para a
diferença -o que significa que cabe a quem vive em
regiões mais nobres da Grande São Paulo puxar
a fila da economia.
Isso pode ser feito com ações
como tomar banhos mais curtos, abolir lavagens de calçadas
e de carros com mangueira, fechar as torneiras na hora de
escovar os dentes (leia mais dicas abaixo).
Mas a Sabesp também tem sua
parcela de culpa no desperdício. Por causa de problemas
na rede, vazam por dia 773,4 milhões de litros (14,8%
do que é distribuído). E o que deixa de chegar
às torneiras não deve diminuir muito mais porque
a meta da empresa é chegar a uma perda de 14% -ela
alega não haver perda zero.
Os vazamentos na rede vêm diminuindo
-eram de 17,7% em 2000-; o consumo médio também
-era de 200 litros per capita no fim da década passada.
Racionamento e campanha
Hoje a Sabesp informa quando começa e como será
o racionamento de água no sistema Alto Cotia, que serve
cerca de 300 mil pessoas na Grande São Paulo e tinha
ontem 8% de sua capacidade.
Deve anunciar ainda uma campanha publicitária
emergencial voltada para a economia de água. A empresa
está sem agência desde o início do ano,
mas deve veicular as peças por meio da conta do governo
do Estado. A última campanha da Sabesp ocorreu, como
de costume, durante o verão.
A expectativa agora fica por conta
de como vão se comportar até o fim do mês
os sistemas Cantareira e Alto Tietê, que abastecem 9
milhões e 2,6 milhões de pessoas e operavam
ontem, respectivamente, com 8,8% e 21,6% de sua capacidade.
Para evitar o racionamento, é preciso que chova a média
histórica de outubro nas áreas de mananciais
dos sistemas: 131,4 mm no Cantareira e 120,8 mm no Alto Tietê
(1 mm é igual a 1 l por 1 m2).
Até ontem de manhã,
a chuva acumulada era de 1 mm no Cantareira e de 3,1 mm no
Alto Tietê.
MARIANA VIVEIROS
Da Folha de S. Paulo |