Cássia
Gisele Ribeiro
especial para o GD
A educação em tempo integral, implementada
nas ações de diversos municípios, não
garante o cumprimento do conceito de educação
integral. Essa foi uma das principais idéias discutidas
na mesa-redonda Propósitos de Educação
integral, que abriu o seminário Tecendo Redes para
a Educação Integral, que acontece de 15 a 17
de agosto, na cidade de São Paulo.
"Nosso objetivo é promover o desenvolvimento
integral da criança e isso só é possível
com a união do conteúdo escolar com a vivência
em outros espaços de aprendizagem", afirma a coordenadora
geral do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,
Cultura e Ação Comunitária (Cenpec),
Maria do Carmo Branst de Carvalho. "A escola em período
integral contraria esse conceito, pois a criança precisa
ter tempo para freqüentar diferentes espaços,
brincar e também para fazer nada. Ela precisa exercer
o ócio criativo", afirma.
A educadora defende que as crianças passem cerca de
cinco horas na escola, apenas isso, porque afirma que a educação
não pode ser implementada somente no atual espaço
escolar. "Há espaços, como CEU, em que
há alternativas possíveis para a realização
desse trabalho. Mas esses espaços são minoria".
"A sociedade atual é caracterizada pela sua complexidade,
portanto não se pode deixar de levar em conta o conjunto
dinâmico de agentes envolvidos na formação
do aluno", afirma a coordenadora. "O ideal é
conceber um desenho de educação que articule
o leque de sujeitos e espaços de aprendizagem".
Para a assessora de projetos de reforma educacional do Conselho
Nacional de Educação, Guiomar Namo de Melo,
afirma que não há possibilidade de realizar
uma efetiva educação integral sem estabelecer
um diálogo com os 2,5 milhões de professores
e, sobretudo, sem proporcionar uma formação
sólida para aqueles que lidam diretamente com a criança.
"Como o professor pode fazer sua parte e ensinar conteúdos
básicos para a criança se, muitas veze,s teve
um ensino médio decadente e na universidade aprendeu
conteúdos que estão distantes da realidade escolar?",
questiona. Para ela, a escola deve ter como prioridade o aprendizado
da leitura e escrita, pois somente sabendo articular a palavra
e o pensamento esse jovem poderá, no futuro, participar
de redes de discussão e aprendizado, além de
poder obter conhecimentos por meio da leitura.
Outro ponto destacado pela educadora é a importância
da educação pensar na família como parte
do processo. "As políticas atuais querem paternalizar
a criança e esquecem das famílias. As políticas
devem integrar a família nas ações de
educação e implementar ações que
possibilitem a essa família a convivência com
os filhos", diz. "A família precisa entender
sobre a importância da educação para o
filho e participar desse processo, e não levá-lo
à escola somente para receber uma bolsa".
A psicanalista Caterina Koltai afirma que a escola deve fazer
um real esforço para aproveitar as características
presentes nas crianças e jovens e promover a educação
das crianças a partir delas, ao invés de negá-las.
"A rebeldia, por exemplo, é parte do jovem e pode
ser canalizada para que ele seja mais crítico e transformador",
afirma. "Mas, se essa característica continuar
a ser negada, ela pode ser canalizada para uma violência
gratuita", acredita.
A secretária municipal de Assistência Social
de Niterói (RJ), Heloísa Helena Mesquita, afirma
que a presença de organizações não-governamentais
dentro da escola é fundamental para se potencializar
outras áreas do conhecimento que a escola não
dá conta. "A assistência social é
um olhar importante na escola, mas os pedagogos devem centrar
as ações para que a escola não seja confundida
com um espaço de medidas sócio-educativas",
diz.
|