Eles
representam 2,4% dos 1.220 avaliados no Estado no Enade (Exame
Nacional de Desempenho) no ano passado
USP e Unicamp não participaram por não
terem concluído a análise dos critérios;
2,4% dos cursos receberam a menor nota
Apenas 2,4% dos cursos avaliados em São Paulo pelo
último Enade, exame que substituiu o provão,
receberam a nota máxima. Em termos absolutos, isso
significa que 29 dos 1.220 cursos analisados no Estado obtiveram
o patamar cinco.
O desempenho em São Paulo ficou abaixo da média
nacional, em que 4,7% das carreiras ficaram no nível
mais elevado.
Na última versão do Enade, foram avaliados alunos
do primeiro e do último ano de cursos de graduação
pertencentes a 20 áreas, entre elas engenharia, biologia,
química, pedagogia, computação e letras.
Em São Paulo, dos 29 cursos com conceito cinco, 25
foram obtidos por instituições públicas.
A que obteve mais foi a Unesp, com 15, seguida da federal
de São Carlos, com quatro.
A USP e a Unicamp decidiram não participar da prova,
por entenderem que os critérios ainda não estavam
suficientemente debatidos.
Do sistema particular, quatro instituições tiveram
um curso no patamar mais alto.
Os dados foram tabulados pela Folha com base no desempenho
de cada instituição de ensino superior do Estado.
O levantamento mostrou também que 30 cursos em São
Paulo ficaram no nível mais baixo (1), o que representa
2,4% do total.
Especialistas ouvidos pela reportagem consideraram baixo o
percentual de cursos que obtiveram o desempenho mais elevado
em São Paulo. Eles destacaram, porém, que é
preciso avaliar outros fatores para determinar se o curso
é ruim.
O próprio Enade, criado no governo Lula, faz parte
de um processo mais amplo de avaliação das universidades.
Além das provas aos alunos, também há
visitas de comissões de especialistas às faculdades.
"Esse baixo desempenho mostra que os cursos têm
deficiências. É um alerta para as instituições",
disse Márcia Brito, professora do departamento de psicologia
da Unicamp e consultora do Inep -instituto de pesquisas do
Ministério da Educação, que aplicou o
Enade.
"A proliferação de cursos nos últimos
anos pode ter ocasionado a entrada de alunos com dificuldades",
disse Brito, que ressalta ainda que houve boicote de algumas
turmas -como alguns alunos da PUC-SP e da Unesp, por exemplo.
O maior número de zeros faz com que a média
fique mais baixa.
"O desempenho foi fraco. Mas só com essa nota
não é possível saber se o curso é
bom ou ruim. Ele é um indicador, entre alguns outros",
afirmou Isabel Capeletti, professora de pós-graduação
em educação da PUC-SP. "Por exemplo, qual
é a inserção desses estudantes no mercado
de trabalho? Olhar só para uma nota pode causar equívocos.
E se no exame caiu apenas o que você não sabia?"
Professores
Pró-reitora de graduação da Unesp (universidade
paulista que obteve mais conceitos cinco), Sheila Pinho disse
que a escola obteve bom desempenho principalmente devido à
"qualificação do corpo docente".
"A maioria dos nossos professores têm doutorado
e dedicação integral à universidade,
o que possibilita fazer pesquisa e extensão",
disse Pinho.
A pró-reitora apontou também que o próprio
aluno que ingressa na instituição "já
é muito bom". Isso ocorre, segundo ela, porque
o vestibular consegue selecionar bem os estudantes para os
cursos.
A reitora da Universidade Cruzeiro do Sul (que obteve um curso
nota cinco), Sueli Cristina Marquesi, concorda que os alunos
que ingressam nas instituições públicas
estão mais bem preparados -por serem gratuitas e terem
mais tradição, os vestibulares dessas universidades
são mais concorridos.
Para suprir a defasagem, Marquesi afirmou que a instituição
oferece atividades de acompanhamento para os estudantes ingressantes,
em áreas como leitura e interpretação
de texto. "Os alunos não chegam prontos ao ensino
superior", declarou.
A reitora disse que sua instituição obteve um
bom desempenho porque conseguiu inserir os alunos em atividades
de pesquisa e de interação com a comunidade.
"Tentamos mostrar a prática desde o início."
Já a Universidade Ibirapuera afirmou que o boicote
da turma do quarto ano de química levou o curso a ter
nota um.
O Enade 2005 avaliou 277.476 estudantes de 5.511 cursos de
todo o país. As regiões Sul e Nordeste ficaram
empatadas em primeiro lugar com o maior percentual de cursos
com os conceitos mais altos (29,9% e 29,8%, respectivamente).
No Sudeste, o índice ficou em 27,6%.
Fábio Takahashi
Tomas Chiaverini
Folha de S.Paulo
Os dados da pesquisa estão disponíveis no site
do Inep
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