O terreno
baldio, conhecido como lixão, é coisa do passado.
O espaço de 1500 m2 tornou-se a sede da Associação
Viver em Família para um Futuro Melhor, construída
no Jardim Colombo, na periferia da zona sul de São
Paulo. "Há uma expectativa positiva da comunidade
em relação à entidade, pois haverá
cursos interessantes. Eles estão apostando na conscientização
e educação para um crescimento profissional",
afirma Jenilson Ferrera dos Santos, presidente da União
dos Moradores da Favela do Jardim Colombo.
Conhecida como Projeto Viver, a entidade foi criada em dezembro
de 2001 por funcionários do Banco Votorantim, BV Financeira
e Votorantim Asset Management para desenvolver ações
sociais na região. "Os funcionários queriam
ajudar uma comunidade carente, com baixos índices de
violência e um local de fácil acesso, próximo
ao banco, para atuarem como voluntários durante a semana.
A partir daí, escolhemos o Jardim Colombo e queremos
desenvolver uma ação transformadora e não
assistencialista, pois não pretendemos distribuir cestas
básicas ou dar dinheiro e outros objetos, mas ajudar
a comunidade a encontrar melhorias", disse Aline Camisassa
Ditta, coordenadora do projeto Viver.
A comunidade do Jardim Colombo existe há 33 anos.
Vivem cerca de 150 mil pessoas em três mil moradias.
Ou seja, em média cinco pessoas estão em cada
casa. Segundo Jenilson, os principais problemas da região
são a falta de serviços públicos em educação
(como cursos profissionalizantes), moradias em área
de risco (problemas de inundação ou localizam-se
em raízes de árvores antigas), falta de saneamento
básico, entre outros. "Alguns problemas melhoraram
bastante, mas ainda temos muita coisa para resolver e conto
com o apoio da entidade", confessa Jenilson.
Em fevereiro de 2002, o projeto Viver começou a trabalhar
junto com a União dos Moradores para elaborar um diagnóstico
e ver os principais problemas da região. Primeiro,
a entidade ajudou na reforma da creche Primavera e reativou
o convênio com a Prefeitura para receber uma ajuda financeira
do poder público. Hoje, atende 60 crianças de
um até cinco anos de idade em período integral.
A outra creche da comunidade é a Girassol, que recebeu
ajuda do Projeto Viver na obtenção de recursos
e manutenção do espaço para conseguir
atender as 120 crianças. A associação
atua na administração destas duas creches junto
com a União dos Moradores por meio de captação
de recursos e parceiros para suprir as necessidades das crianças
e de suas famílias. "Alguns voluntários
que não tem a possibilidade de visitarem a entidade
e as creches ajudam na realização da folha de
pagamento dos funcionários e outros trabalhos de escritório",
ressalta Aline.
Nas creches, há a participação de mães
voluntárias, que vão uma vez por semana durante
quatro horas e ganham uma cesta básica por mês.
Existem seis voluntárias na Primavera e 13 na Girassol.
Jucilene Marques de Souza, 22 anos, está desempregada
e é mãe voluntária na creche Primavera
há dois anos. "Aqui eu estou perto da minha filha
e não fico sozinha em casa sem fazer nada. Auxilio
as meninas na cozinha e recebo uma ajuda com a cesta básica",
conta.
A partir do levantamento das principais necessidades da
comunidade, o Projeto Viver também promoveu várias
atividades na região como palestras informativas, comemoração
de datas como dia da saúde, da cidadania, das crianças
e outros; bazares; encaminhamento das pessoas da comunidade
para cursos de capacitação; incentivo à
participação das mães nas atividades
da creche e formação de grupos de geração
de renda; busca de patrocínio para atletas e eventos
culturais. "Montamos até um ponto de atendimento
improvisado do Poupa Tempo para todos tirarem seus documentos",
comenta Aline.
Para conseguir desenvolver mais atividades, a entidade adquiriu
o terreno no Jardim Colombo e gastou cerca de R$ 1.680.000,00
na construção e montagem. O espaço oferece
salas de aula, quadra poliesportiva, laboratório de
informática, consultório médico e odontológico,
biblioteca, brinquedoteca, cozinha industrial, espaço
para apresentações culturais, loja e oficinas.
As crianças das creches revezam os dias da semana
para aproveitar o espaço da quadra e da brinquedoteca.
As artesãs são o outro público beneficiado
pela entidade no Programa Ponto e Linhas, uma oficina de crochê.
Elas se reúnem todas as quartas-feiras para mostrarem
suas toalhas com bordados de crochês e discutirem novos
modelos e cores. As cinco mulheres artesãs capricham
em seus trabalhos para conseguirem venderem em lojas e feiras
beneficentes.
"Eu já sabia fazer crochê, mas a gente
aqui vai aprendendo cada vez mais. Trabalhava como diarista
e uma amiga me convidou para participar dos encontros. Estou
até hoje e pretendo continuar com meus trabalhos e
vender muito", disse Cirlete Barbosa Santana, aluna do
Programa.
Mãos a obra com as parcerias
O Projeto Viver Melhor estabeleceu parcerias com
a Associação de Ensino Social Profissionalizante
(Espro), uma entidade que oferece cursos gratuitos de capacitação
para o trabalho e incentiva a Lei do Aprendiz entre os empresários.
Reconhecido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente (CMDCA), a Espro segue a lei 10.097 de 2000,
que permite as organizações sem fins lucrativos
desenvolverem programas de aprendizagem para jovens entre
14 e 18 anos incompletos matriculados e cursando ensino fundamental
ou médio.
Seu programa é constituído por um preparo
educacional básico com aulas de português, matemática,
recursos humanos, saúde, qualidade de vida, cidadania,
técnicas administrativas, informática e telemarketing.
Esta primeira etapa dura cinco meses. Após este preparo,
o aluno passa por uma seleção para trabalhar
em uma empresa parceira. Esta possibilita uma remuneração
e complementa os conhecimentos dos jovens por meio de atividade
teóricas e práticas. O aluno pode ficar até
dois anos na empresa ou até 18 anos (idade limite segundo
a Lei do Aprendiz).
De acordo com Marinus Jan van der Molen, superintendente
da Espro, a entidade atende cerca de 1.300 alunos e ingressa
1.100 no mercado de trabalho por ano. "Achei muito interessante
o convite do projeto Viver para cuidar da parte de cursos
profissionalizantes. Eles poderiam fazer sozinhos, mas chamaram
uma organização experiente nesta área.
Pretendemos formar neste período 160 jovens, já
que temos duas turmas com 40 estudantes no projeto",
afirma.
Bruna Corrêa Lima, 15 anos, nunca trabalhou e veio
participar do programa para aprender como lidar no primeiro
emprego. Moradora da comunidade de Paraisópolis, a
estudante do 1º ano do Ensino Médio quer pegar
as dicas de aulas de computação, marketing e
técnicas administrativas. Sua colega Ana da Silva Amaral,
15 anos, também nunca trabalhou e está interessada
em ter uma qualificação melhor. "Como não
sei como é o trabalho dentro das empresas, acho uma
grande oportunidade ter estas aulas. Vai ser um abre 'portas'no
mercado de trabalho" disse a estudante.
Morador do Jardim Colombo, Paulo Henrique Fernandes Feliz,
14 anos, sentia medo em não passar na prova de seleção
dos alunos. "Quando eu vi o anuncio já fiquei
interessado em participar para aprimorar meu currículo.
Quero conseguir um emprego, mas se não der certo vou
continuar estudando", conta. O estudante Jailton Xavier
dos Santos, 15 anos, mora no Jardim Ângela e pega duas
conduções para chegar na entidade, pois em seu
bairro não tem um curso profissionalizante que tenta
ingressar os jovens nas empresas e nem dá certificado.
"Estou aqui para aprofundar meus estudos e ter espaço
no mercado de trabalho", ressalta Jailton.
Outra parceria firmada foi com o Serviço Social da
Indústria (Sesi) de São Paulo para desenvolver
na cozinha industrial o "Programa Alimente-se Bem por
R$1,00" nas terças-feiras de abril. Criada em
1999, o programa educativo incentiva mudanças no hábito
alimentar por meio de aulas práticas com receitas nutritivas
a baixo custo, usando conceitos de aproveitamento integral
dos alimentos. É um curso gratuito oferecido para toda
população, que recebe aulas sobre planejamento
de compras, reconhecimento, armazenamento, higiene e aproveitamento
integral dos alimentos. O curso possui carga horária
total de 10 horas e o aluno recebe certificado e um livro
com 300 receitas.
Para a nutricionista do Sesi, Camila Varella Pires, as alunas
do Projeto Viver mostraram interesse em aprender as receitas
e prestaram atenção nas dicas de ter uma boa
alimentação. Há 60 vagas no total para
as turmas da manhã e da tarde. "Nas aulas, procuro
dar três receitas e passo muitas dicas de como elas
devem aproveitar todo o alimento e apenas eliminar partes
que não dá para usar mesmo", disse Camila.
A dona-de-casa Vilma Santana da Silva, moradora do Jardim
Colombo, participa do curso de Aproveitamento Integral de
Alimentos e sempre tem interesse de aprender novidades. Além
da entidade, ela freqüenta aos sábados curso de
informática em outra organização, que
também atende comunidade de baixa renda. "Tenho
experiência em culinária, pois fui cozinheira
em uma escolinha particular. Este curso possibilita um aprendizado
diferente. A gente economiza muito e pode até fazer
coisas para vender para fora. Vou passar para as minhas vizinhas
as dicas de aproveitamento de alimentos.", conta Vilma.
A cozinheira da creche, Lúcia Raimundo dos Santos
Amaral, também está fazendo o curso na entidade
para pôr em prática as receitas e não
desperdiçar nenhum alimento. "As receitas que
aprendemos são ótimas. Já participei
de um curso sobre pães, bolos e tortas e estou fazendo
para vender para fora. Espero economizar bastante em casa
com estas receitas", confessa.
A entidade também contou com a Fundação
Pensamento Digital ajudou na instalação de 16
computadores ligados em rede no laboratório de informática
da entidade para atender os alunos do Espro e o restante da
comunidade. A fundação é conhecida por
promover projetos educacionais por meio do uso de novas tecnologias
da informação e comunicação (TICs)
em comunidades de baixa renda. Conta com o apoio de universidades
na formação de educadores comunitários
para o uso das TCIs no desenvolvimento socioeconômico
desta população.
O Projeto Viver pretende fazer mais parcerias com organizações
para desenvolver cursos na cozinha industrial, com profissionais
voluntários da saúde no atendimento nos consultórios
médicos e odontológicos e o paciente pagaria
apenas uma taxa simbólica. "Queremos fazer muita
coisa. Como, por exemplo, cursos de alfabetização
de adultos, loja para revender os produtos da entidade, aulas
de informática para todos da comunidade e outros trabalhos.
Isso é só o começo", conclui Aline.
Serviço:
Associação Viver em Família para um Futuro
Melhor
Rua Clementine Brenne, 857 - Jardim Colombo
Tel. (11) 3771-0666
SUSANA SARMIENTO
do site setor3
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